Nuvem de Desconhecimento – Capítulo 38



Como e porquê esta curta oração penetra no céu.
  1. E porquê penetra ela no céu, esta breve e curta oração duma única sílaba? Porque, certo, ela é rezada com todo o espírito: na altura e na profundidade, no comprimento e na largura do espírito que a reza. Ela é na altura, porque é com toda a potência do espírito; e na profundidade, porque nessa curta sílaba estão contidas todas as inteligências do espírito. Ela é em todo o seu comprimento, porque se ele pudesse sentir sempre aquilo que ele sente então, ele gritava sempre assim como ele grita; e ela é na sua largura, porque ele quer para todos os outros aquilo que ele quer para si próprio.
  2. Nesse momento acontece que a alma, segundo a lição de são Paulo, «torna-se capaz de compreender com todos os santos – não plenamente e absolutamente, mas em parte e de uma maneira que se encontra em relação e harmonia com esta obra – a qual é a largura e o comprimento, a altura e a profundidade» do eterno Deus e todo amor, potência e sabedoria. A eternidade de Deus é o Seu comprimento; o amor é a Sua largura; a potência é a Sua altura; e a sabedoria é a Sua profundidade. Não é nenhuma surpresa portanto que uma alma assim e tão estreitamente conformada pela graça à imagem e à semelhança de Deus seu criador, seja rapidamente escutada por Deus! Sim, mesmo se fosse uma alma completamente oprimida pelos pecados de um grande pecador, o que é como se ele fosse o inimigo de Deus, e que ela chegue pela graça a gritar desse modo uma breve sílaba na altura e na profundidade, no comprimento e na largura do espírito, ela não seria menos sempre, e pelo ruído brutal que faz o seu grito, ouvida e ajudada por Deus.
  3. Vê por exemplo: se aquele que é teu inimigo mortal, subitamente tu o ouvisses no cúmulo do terror gritar esta pequena palavra de «fogo» ou «ai de mim!» ou «desgraça!» então sem considerar se ele é ou não teu inimigo, mas na pura piedade do teu coração tu fosses comovido e tomado de compaixão pela angústia desse grito e tu te levantasses – sim, sim, mesmo que fosse no meio da noite de inverno! – e tu fosses em seu socorro para o ajudar a apagar o fogo ou para o confortar e o apaziguar na sua angústia. Oh, Senhor! quando um ser humano pode em graça torna-se tão lastimoso e misericordioso que ele se compadeça do seu inimigo, não obstante a sua inimizade, que piedade e que misericórdia então terá Deus por um tal grito espiritual da alma, feito e concebido na altura e na profundeza, no comprimento e na largura do espírito, Ele que tem por natureza aquilo que o ser humano tem por graça? Oh! bem mais, bem mais seguramente terá Ele misericórdia, e sem nenhuma comparação, porque tanto está próxima a coisa assim possuída pela natureza quanto a coisa eterna que vos é dada pela graça!


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