Nuvem de Desconhecimento – Capítulo 37



Das orações particulares daqueles que estão no contínuo trabalho da obra que diz este livro.
  1. E tão exatamente como as meditações daqueles que estão no contínuo trabalho da graça e desta obra, subitamente se elevam e jorram sem vias nem meios nenhuns; tão exatamente igualmente fazem as suas orações. Eu falo das orações particulares deles, não daquelas orações que são ordenadas pela santa Igreja. Porque aqueles que são verdadeiros operários nesta obra, eles não têm em veneração nenhuma oração tal como esses últimos, e também eles as fazem tais e segundo a forma e a lei que lhes foram ordenadas pelos santos Pais antes de nós. Mas as orações particulares deles elevam-se sempre mais repentinamente em direção a Deus, sem nenhuma via nem premeditação particular, nem nada que as prepare ou as leve.
  2. E se elas (as orações) são feitas de palavras, o que acontece raramente, então elas não o serão senão com muito poucas palavras, sim, e quanto menos melhor. Ah! sim, e se for uma única palavra e de sílaba muito breve, isso seria melhor que duas, na minha opinião; e menos ainda, se possível, considerando que é obra do espírito, a qual exige que aquele que a faz esteja sempre no mais alto e soberano cume e na ponta do espírito. O que pode efetivamente ser verificado no exemplo aqui a seguir, tirado do curso da natureza. Um homem ou mulher, assustados subitamente por qualquer acidente, tal como o fogo ou a morte de uma pessoa ou qualquer outro que seja, bruscamente colocado no extremo de si próprio, é levado pela pressa e pela necessidade a gritar ou suplicar por ajuda. Como faz ele? Seguramente nunca com muitas palavras e expressões, nem mesmo com numerosas sílabas. Portanto, o quê então? Parece-lhe impossível de se deter num qualquer discurso longo para proclamar em tal urgência a sua necessidade e impulso do seu espírito: assim ele rebenta horrivelmente na sua agitação extrema e ele urra uma pequena palavra de pouco mais do que uma sílaba, tal como: Oh! ou Fogo! ou Desgraça!
  3. E essa tal pequena palavra de «Fogo!» atinge mais rapidamente e penetra nos ouvidos dos ouvintes, também tal faz uma pequena palavra de uma ou duas sílabas quando ela é não apenas pronunciada ou pensada, mas ainda formulada unicamente em segredo nas profundezas do espírito, as quais são a altura, porque no espírito tudo é um, a altura e a profundidade, o comprimento e a largura. E muito melhor essa pequena palavra penetra no ouvido do Deus Todo-Poderoso, e primeiro que uma tal interminável salmodia negligentemente resmungada entre dentes. Também é por isso que está escrito que a oração curta penetra no céu.


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