Nuvem de Desconhecimento – Capítulo 36



Da meditação daqueles que estão no contínuo trabalho da obra que diz este livro.
  1. Mas não acontece assim com aqueles que estão no contínuo trabalho da obra que diz este livro. Porque as meditações deles são tais como se fossem ideias bruscas e sentimentos cegos da miséria própria deles ou da bondade de Deus, sem nenhuma via prévia de leitura ou de audição de leitura, sem nenhuma consideração particular do que quer que seja debaixo de Deus. Essas ideias súbitas e esses sentimentos cegos são mais aprendidos de Deus que dos seres humanos.
  2. Eu não me inquieto nada, mesmo se tu presentemente não tiveres feito meditações sobre a tua miséria própria ou sobre a bondade de Deus (eu quero dizer e eu entendo: que tu lá fosses levado às meditações pela graça e pelo conselho) para além daquelas (meditações) que tu pudesses ter feito desta palavra FALTA e desta outra palavra DEUS, ou de qualquer outra assim à tua conveniência. Mas sem quebrar nem explorar essas palavras pela curiosidade da inteligência nem o escrutínio ou pesquisa das qualidades delas, como se tu quisesses com isso aumentar a tua devoção. Eu creio e estou certo que neste caso e nesta obra nunca será assim. Mas pelo contrário, que tu as guardes bem inteiras e em tudo, estas palavras; e por FALTA, compreende um bloco maciço de que tu não sabes o quê, nem nenhuma outra coisa para além de ti próprio. Eu penso, por mim, que nesta consideração e cega contemplação da falta ou pecado assim condensados e fixos num bloco, e em nenhuma outra coisa senão tu próprio, não seria possível aí haver nada nem ninguém de mais louco para atar. Ainda que, se alguém por acaso te visse então, ele pensaria que tu estavas nas mais sóbrias disposições físicas; sem nenhuma alteração na atitude e na aparência, em qualquer que tu estejas então, parado ou em marcha, deitado ou em pé, sentado ou de joelhos: ele te veria na calma mais contida e na mais sóbria tranquilidade.


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