Nuvem de Desconhecimento – Capítulo 33



Que por esta obra uma alma é purificada de todo o conjunto dos seus pecados particulares e da pena deles; e que portanto não há perfeito repouso nesta vida.
  1. Quanto ao presente, eu não te darei mais nenhuns outros expedientes ou meios, porque se tu tens a graça de fazeres a experiência deles, eu estou convencido de que tu terás então e terás muito mais para me ensinares, do que eu a ti. Portanto era isso que era preciso; mas na verdade parece-me que eu ainda estou longe disso, de te ter ensinado em tudo e nada mais a aprender. E é por isso que, eu te peço, ajuda-me e age tanto por mim quanto por ti.
  2. Age, portanto, e trabalha no terreno, eu te peço; e toma e suporta com toda a humildade a tristeza e a pena, se acontecesse que tu não possas, com esses meios, triunfar imediatamente. Porque é na verdade o teu purgatório; e quando a tua pena tiver sido cumprida e passada completamente, e quando por Deus esses meios te tiverem sido dados, e pela graça entrado nos teus hábitos: então não fica nenhuma dúvida para mim de que tu serás purificado não apenas do pecado, mas também da pena do pecado. Eu esclareço bem: da pena particular ligada aos teus pecados pessoais e já cometidos, e não à pena do pecado original. Porque essa pesará sobre ti até ao dia da tua morte, ativo tanto quanto tu o sejas. Mas ela só te pesará pouco, em comparação com a pena particular dos teus pecados pessoais; portanto tu nunca serás dispensado de estar em grandes trabalhos. Porque desse pecado original vão nascer cada dia frescos e novos apelos do pecado, os quais tu terás cada dia que abater e combater sempre e cortar com golpes terríveis com a espada dupla e afiada da discrição. Com o que tu poderás ver e aprender que não há nenhuma quieta segurança, nem também nenhum verdadeiro repouso nesta vida.
  3. No entanto, daqui tu não voltarás para trás e também não te deixarás assustar pelo medo do insucesso ou da tua fraqueza. Porque se acontecesse que tu tivesses a graça e que tu pudesses destruir a pena das tuas próprias ações anteriores, na matéria que eu disse antes – ou ainda melhor se tu podes – bem certo fica tu de que a pena do pecado original, ou de outro modo os novos movimentos do pecado do futuro, não terão poder para te pesar e abater senão pouco.


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