Nuvem de Desconhecimento – Capítulo 24



O que nela própria é a caridade; e como ela está verdadeiramente e perfeitamente contida na obra que diz este livro.
  1. E assim como foi dito da humildade, e como ela está verdadeiramente e perfeitamente contida nesse pequeno ardor de amor cego batendo (à porta) dessa obscura "nuvem de desconhecimento", sendo todas as outras coisas rejeitadas e esquecidas, – assim é preciso entender e compreender sobre todas as virtudes, e em particular da caridade.
  2. Porque a caridade não é nada mais, e não deve significar para o teu entendimento, que o amor de Deus por Ele próprio acima de todas as criaturas, e o amor do próximo como de ti próprio, pelo amor de Deus. Ora, que Deus, nesta obra, seja amado por Si próprio e acima de todas as criaturas, isso parece suficientemente evidente: porque assim como foi dito antes, a própria substância desta obra não é nada mais do que um impulso nu em direção a Deus em Si próprio.
  3. Um impulso nu, chamei-lhe eu. E porquê? Porque nesta obra, o aprendiz perfeito não reclama nem relaxamento da pena nem ganho da recompensa, e, para resumir, ele só quer Deus apenas. A tal ponto que ele não se preocupa e também não olha se ele está em pena ou em alegria, a não ser para que seja feita A vontade dAquele que ele ama. Assim, portanto, parece bem que nesta obra, Deus seja perfeitamente amado por Si próprio e acima de todas as criaturas. Porque, também, o operário perfeito desta obra não seria capaz de admitir e suportar que a recordação da criatura, mesmo a mais santa que Deus alguma vez criou, venha conversar com ele.
  4. E para o segundo e inferior ramo da caridade, que é para com o teu próximo, que ela seja nesta obra verdadeiramente e perfeitamente efetuada, vê-se à prova: visto que, com efeito, o operário perfeito nesta obra não tem atenção particular por nenhum ser humano em si próprio, quer ele seja parente ou estrangeiro, amigo ou inimigo. Todos os seres humanos são seus irmãos, nenhum lhe é estrangeiro; todos os seres humanos são seus amigos, nenhum é seu inimigo: tal é o seu pensamento. E até ao ponto em que aqueles, mesmo, que lhe causam nesta vida ou tristeza ou sofrimento, ele os considera como seus amigos muito particulares e muito caros, apressando-se a querer-lhes todo e tanto bem quanto ao seu amigo mais íntimo.


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