Nuvem de Desconhecimento – Capítulo 20



Como Deus o Todo Poderoso quer e tem a graça de responder por esses todos que não têm nenhum desejo, afim de se desculparem a eles próprios, de abandonarem a sua ocupação que é o amor de Deus.
  1. E é por isso que eu penso que esses que se metem a viver em contemplativos, não somente deveriam desculpar os da vida ativa pelas suas palavras de repreensão, mas ainda eles deveriam, eu penso, estarem tão ocupados em espírito, que eles não prestassem muita ou nenhuma atenção ao que os seres humanos fazem ou dizem a respeito deles. Foi o que fez Maria, para exemplo de nós todos, quando a sua irmã Marta se queixou dela ao nosso Senhor; e se, fielmente, nós queremos fazer assim, nosso Senhor quererá agora fazer por nós aquilo que Ele fez então por Maria.
  2. E como foi isso? Assim seguramente: nosso gracioso Senhor Jesus, a quem nada de secreto permanece escondido, e apesar de Ele ter sido requerido por Marta como juiz, por forma a que Ele mandasse a Maria de se levantar e de ajudar a servi-lO; no entanto, e porque Ele via quanto Maria estava com fervor ocupada em espírito com o amor da Sua Divindade, por conseguinte Ele respondeu cortesmente no seu lugar, muito certamente como a Ele convinha fazer por aquela que não tinha nenhum desejo, afim de se desculpar, de abandonar o Seu amor. E como respondeu Ele? Não, certamente, como aquele Juiz ao qual apelava Marta, mas como um Advogado que tomou legitimamente a defesa daquela que O amava; e Ele disse: «Marta, Marta!» por duas vezes nomeando-a pelo seu nome, porque Ele queria que ela O ouvisse e tivesse atenção às Suas palavras. «Tu estás muito ocupada, disse-lhe Ele, e tu estás preocupada com muitas coisas.» Porque aos da vida ativa, com efeito, pertence estarem sempre muito ocupados e atarefados com coisas muito numerosas, as quais lhes chegam como parte deles, tanto para conseguirem primeiro o necessário, como para em seguida fazerem ao próximo as obras de misericórdia, assim como reclama e quer a caridade. E isso, Ele disse-o a Marta porque Ele quer que ela escute e saiba bem que o seu trabalho é benfazejo e proveitoso para a saúde da sua alma. Mas, afim de que ela não chegue, por isso, a pensar que esse trabalho era o melhor de todos, e de tudo o que se pode fazer, Ele acrescenta e Ele diz: «Mas UMA coisa é necessária.»
  3. E qual é então essa coisa? Seguramente que Deus seja amado e louvado por Ele próprio, acima de todas as outras atividades corporais ou espirituais que o ser humano possa ter. E afim de que Marta não pensasse que fosse possível, ao mesmo tempo, amar e louvar Deus acima de todas as ocupações tanto corporais quanto espirituais, e portanto de se afadigar às necessidades desta vida: por isso, e para que ela não tivesse mais dúvidas sobre aquilo que não é possível à vez, e em conjunto perfeitamente, de servir Deus pelas atividades do corpo e as do espírito – imperfeitamente, ela podia – então Ele acrescenta e Ele diz que Maria escolheu a melhor parte, a qual nunca lhe será tirada. Porquê? Porque esse perfeito impulso de amor, o qual tem aqui o seu começo, é em número igual àquele que durará sem fim na beatitude do céu, porque um e o outro são apenas um.


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