Nuvem de Desconhecimento – Capítulo 12



Que pela eficácia e virtude desta obra não somente o pecado é destruído, mas também as virtudes suscitadas.
  1. É portanto por isso que, se tu queres aguentar-te e não cair, não pares nem acabes nunca em repouso: mas sempre e mais, bate (à porta) nessa "nuvem de desconhecimento", a qual está entre ti e o teu Deus, com a "lança aguda de amor impaciente"; afasta-te horrorizado do pensamento de qualquer objeto que esteja por baixo de Deus; e não te afastes de lá por nenhuma coisa que aconteça.
  2. Porque é só por esta obra, e nela apenas, que destróis o fundamento e a raiz do pecado. Jejua como nunca, vigia mais tarde do que nunca, levanta-te mais cedo do que nunca, como nunca deita-te em cama dura, estafa-te como nunca, sim! e mesmo se fosse permitido fazer – o que não é – arranca os teus olhos, corta a tua língua, tapa as orelhas e as narinas hermeticamente como nunca, e ainda corta os teus membros e inflige ao teu corpo todas as dores e sofrimentos imagináveis: nada disso te ajudará. Sempre em ti estará o movimento e o assalto do pecado.
  3. Ai! E o quê mais? Verte lágrimas também como nunca por lástima e mágoa dos teus pecados, ou com o pensamento na Paixão de Cristo; ou então, mais vivas que nunca, te sejam presentes no espírito todas as alegrias do céu. Qual será o seu efeito, no que te diz respeito? Seguramente muito bem, grande socorro, grande lucro e muita graça retirarás tu disso. Mas em comparação com o "cego impulso de amor", tudo aquilo é tão pouco quanto nada, o que aquilo faz, podemos fazer, sem aquilo. Enquanto ele está nele próprio, e sem os outros, a melhor parte é de Maria; eles, sem ele, não avançam senão pouco, ou nada. Porque não apenas ele destrói o fundamento e a raiz do pecado, tanto quanto se pode fazer aqui, mas ainda suscita as virtudes. Que ele seja verdadeiramente concebido, – e verdadeiramente todas as virtudes nele se encontrarão, e concebidas até à perfeição, e compreendidas sensivelmente nele, sem nenhum mistura de intenção. E nunca nenhum ser humano terá sem ele tantas virtudes, sem que elas fiquem misturadas com alguma intenção falsa, a qual é a causa para elas serem imperfeitas.
  4. Porque a virtude não é nada mais, com efeito, que uma afeição ordenada e medida, e plenamente dirigida para Deus por Ele próprio. Porquê? Porque Ele é n'Ele próprio a pura causa e fim de todas as virtudes: ao ponto que se alguém tivesse uma virtude que tivesse por causa, misturada a Deus, uma outra razão ainda – sim! apesar de Deus ser ainda a principal, – não aconteceria menos que essa virtude fosse então imperfeita. Como assim se poderá ver, por exemplo, numa virtude, ou em duas, mais que em todas as outras: e tais serão perfeitamente a humildade e a caridade. Porque aquele que pode ganhar e ter claramente estas duas: ele não tem necessidade de mais. Porque tendo-as, ele tem tudo.


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