Nuvem de Desconhecimento – Capítulo 10



Como uma pessoa sabe que o seu pensamento não pecou; ou se sim, quando é pecado mortal e quando, venial.
  1. Pelo contrário, não é nada assim da recordação de qualquer homem ou mulher vivendo nesta vida, nem também de um objeto corporal ou mundano, qualquer que ele seja. É, com efeito, que a ideia brusca e súbita de um de entre eles, vinda a ti contra a tua vontade e o teu consentimento, apesar de ela não te poder ser imputada como pecado – porque esse é o trabalho do pecado original contra ti, do qual, no batismo, tu foste purificado – no entanto, se ela não for prontamente controlada e esse súbito impulso prontamente abatido, muito rapidamente o teu fraco coração carnal nela será arrastado: quer seja por um tipo ou outro de complacência, se esse é um objeto que te agrada ou te agradou em tempos; quer seja por um tipo ou outro de sobressalto, se esse é um objeto que tu crês doloroso para ti ou que te foi doloroso no passado. E esse apego, se ele pode ser mortal de novo para eles, homens e mulheres, que vivem da vida carnal e que estavam antes no pecado mortal; para ti, no entanto, e para todos aqueles que têm, numa vontade fiel, abandonado o mundo, os quais estão por compromisso e obrigação em algum grau da vida religiosa na santa Igreja, abertamente ou em segredo, qualquer que ele seja, – e por conseguinte não são governados pela sua própria vontade e a sua estimação pessoal, mas pela vontade e o conselho dos seus mestres e superiores, quais quer que sejam, religiosos ou seculares, – um tal apego por complacência ou por sobressalto do coração carnal não é no entanto, para esses todos, senão "pecado venial". E a causa está no profundo apoio e enraizamento em Deus do vosso objetivo e intenção, realizados desde o começo da vossa vida neste estado para onde vocês vieram, com a assistência e o conselho dum prudente Pai, vossa testemunha.
  2. Mas não é coisa menor que essa complacência ou sobressalto agarrado ao teu coração carnal, por pouco que ele aí seja admitido a residir algum tempo sem reprimenda, então e para concluir se agarra ao coração espiritual, o que quer dizer à vontade, com o pleno consentimento: o que, então, é "pecado mortal". E é o que acontece quando tu próprio, ou um daqueles que eu nomeei, chama intencionalmente em si a recordação de qualquer homem ou mulher vivendo nesta vida, ou de outra forma, qualquer objeto material ou mundano. Apesar de que se esse é um objeto que te fere ou te feriu em tempos, em ti eleva-se uma paixão furiosa e uma sede de vingança, as quais têm por nome Cólera; ou de outra forma, nós o rejeitamos pelo desdém e qualquer maneira de desgosto dessa pessoa, com pensamentos desprezíveis e julgamentos que condenam, o que se chama: Inveja. Ou ainda é a lassidão e uma falta de gosto por qualquer ação e boa ocupação, tanto corporal quanto espiritual, o que se chama: Preguiça.
  3. E se esse é um objeto que te agrada ou te agradou em tempos, então eleva-se em ti um grande deleite ao pensar nele, qualquer que possa ser essa coisa. Tão bem que tu repousas nesse pensamento e acabas por agarrar nele o teu coração, e a tua vontade também; e nisso faz repasto o teu coração carnal: a tal ponto que tu pensas no momento não teres outro bem a cobiçar, a não ser o viveres sempre e repousar em semelhante paz com a coisa na qual tu pensas. Ora, essa ideia que atrais para ti ou de outro modo acolhes quando ela veio, e na qual tu repousas com tanto deleite, se ela toca na excelência da tua natureza ou do teu saber, à graça recebida ou ao grau alcançado, aos favores ou à beleza, então ela é Orgulho. E se ela vai aos bens terrestres de qualquer forma, às riquezas ou mobiliários quais quer dos quais possamos ser senhores ou possuidores, então é Cobiça. Se é às iguarias delicadas e bebidas, ou a quaisquer outras formas de delícias que o ser humano possa provar, então é Gula, também dito Gulodice. E se é de amor ou de prazer que ela (a ideia) fala, de carícias carnais quaisquer que sejam, do preparar ou da lisonja dos charmes de qualquer homem ou mulher vivendo nesta vida, e de ti próprio igualmente: então é Lubricidade ou Luxúria.


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