Livro da Vida Perfeita – A nobre liberdade não existe sem sofrimento


  1. Quando a vontade pode usar a sua liberdade no ser humano, ela aí realiza a sua obra própria – que é o querer.
  2. Ela aí quer aquilo que ela quer sem ser entravada. Também, ela quer o que é melhor e o mais nobre em todas as coisas, e tudo o que não é bom e nobre lhe é contrário, ela entristece-se e deplora isso.
  3. Quanto mais a vontade é livre e desentravada, mais aquilo que é mau, injusto, maldoso e vicioso – tudo aquilo a que se chama e que é «pecado» – a entristece e a esforça.
  4. Observa-se isto em Cristo, em quem a vontade era a mais livre, a mais desprendida, a mais desapropriada que existiu e que alguma vez existirá em qualquer ser humano.
  5. Assim, a humanidade de Cristo foi a criatura mais livre e mais desprendida, e no entanto ela conheceu devido ao pecado – quer dizer, de tudo o que é contra Deus – os maiores sofrimentos, aflições e esforços que não conhecerá nunca nenhuma criatura.
  6. Inversamente, quando nos apropriamos da liberdade – quando não nos entristecemos nem nos afligimos com o pecado e com tudo o que é contra Deus, quando queremos ser indiferentes e insensíveis a tudo isso, quando queremos ser neste mundo aquilo que Cristo só foi depois da sua Ressurreição –, não se trata então de uma liberdade verdadeira e divina vinda de uma luz verdadeiramente divina.
  7. Trata-se de uma liberdade natural, injusta, falsa e errónea. Uma liberdade do diabo, vinda de uma luz natural, falsa e errónea.

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