Livro da Vida Perfeita – Toda vontade criada é de Deus
- É a mesma vontade eterna que está em Deus originalmente e essencialmente – sem nenhuma ação nem nenhuma atividade – e que quer e age no ser humano ou na criatura.
- Porque pertence à vontade, e é próprio da vontade, o querer.
- O que faria ela para além disso? Ela seria inútil se ela não agisse. E ela não pode agir sem criatura.
- É por isso que a criatura deve existir. Deus quer que ela exista para que a sua vontade atue e aí tenha a sua própria realização, senão ela permaneceria e deveria permanecer n'Ele sem ação.
- É por isso que a vontade que está nas criaturas – a que se chama vontade «criada» - pertence a Deus tanto quanto a vontade eterna. Ela não pertence às criaturas. Porque Deus não pode querer ativamente e efetivamente sem as criaturas, Ele quer fazê-lo em e por elas.
- É por isso que a criatura não deve querer nada por essa vontade, mas é Deus que quer e deve querer ativamente por essa vontade – que está no ser humano e no entanto pertence a Deus.
- O ser humano, que fosse puramente e completamente assim, não seria mais ele que queria nele, mas Deus mesmo.
- Não haveria aí mais nenhuma vontade do que a vontade de Deus. Porque seria Deus mesmo que quereria, e não o ser humano. A sua vontade seria uma com a vontade eterna e fluindo nela.
- Permaneceria realmente nesse ser humano a alegria e o sofrimento, o bem-estar e a dor, etc.
- Porque lá onde a vontade quer plenamente, há alegria e sofrimento: se tudo se faz como a vontade quer, é alegria; se de outra maneira, é sofrimento.
- Essa alegria e esse sofrimento não pertencem ao ser humano, mas a Deus. Porque aquele a quem pertence a vontade, a ele pertence também a alegria e o sofrimento.
- Não sendo a vontade do ser humano, mas de Deus, é a Deus também que pertencem a alegria e o sofrimento.
- Assim não há sofrimento a deplorar a não ser daquilo que é contra Deus. E não existe alegria senão de Deus, e do que é Seu e Lhe pertence.
- O que é verdade para a vontade é também para o conhecimento, para a inteligência, para o poder, para o amor e para tudo o que existe no ser humano: tudo pertence a Deus, e nada pertence ao ser humano.
- Se a vontade estivesse inteiramente abandonada a Deus, tudo o resto lhe estaria também abandonado. Deus receberia então tudo aquilo que lhe pertence.
- A vontade deixaria de ser vontade própria.
- Vê: é para isto que Deus criou a vontade, e não para que ela se torne vontade própria.
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