Livro da Vida Perfeita – A inteligência e a vontade


  1. «Se essa árvore – a vontade própria – é tão contrária a Deus e à vontade eterna, perguntarão, porque é que Deus a criou? E porque é que Ele a plantou no Paraíso?»
  2. O ser humano – ou a criatura – que deseja apreender e compreender o conselho secreto e a vontade de Deus, que quer saber porque é que Deus faz ou não faz isto ou aquilo, etc., esse ser humano não deseja nada mais para além de Adão e do diabo.
  3. Enquanto durar esse desejo, ele não será nunca diferente de Adão ou do diabo. Ele nunca conhecerá nada. Porque esse desejo tem raramente outro motivo que não seja o de ter prazer e de se glorificar: na verdade, é orgulho!
  4. Um ser humano verdadeiramente humilde e iluminado não deseja que Deus lhe revele os Seus segredos. Ele não pergunta porque é que Ele faz ou ordena isto ou aquilo.
  5. Ele deseja apenas aniquilar-se a si próprio e torna-se sem vontade. Ele deseja apenas que a vontade eterna viva e seja poderosa nele, que ela não seja entravada por nenhuma outra vontade e que ela encontre nele e por ele satisfação.
  6. Mas pode-se dar a esta questão uma outra resposta.
  7. Aquilo que é mais nobre e mais agradável em todas as criaturas, é o conhecimento – ou a inteligência – e a vontade.
  8. As duas vão em conjunto: onde está uma, lá está a outra.
  9. Se não houvesse em conjunto a inteligência e a vontade, não haveria criatura inteligente, mas apenas bestas e bestialidade.
  10. Isso seria um grande mal, porque Deus não poderia em nenhum lugar receber aquilo que Lhe é devido e Lhe pertence – como se disse precedentemente. Ele não se poderia realizar, o que no entanto deve acontecer e é inerente à perfeição.
  11. O conhecimento – ou a inteligência – foi criada e dada com a vontade.
  12. Ela deve ensinar-lhe – e ensinar-se igualmente a ela própria – que nem uma nem a outra não podem ter existência própria: nenhuma delas é nem deve ser de si própria; nenhuma delas deve agir por si, nem se servir a si própria, nem desfrutar dela própria para ela própria.
  13. Porque elas (a inteligência e a vontade) são d'Aquele de quem elas saíram: elas devem abandonar-se a Ele, refluir para Ele e tornarem-se num nada para elas próprias, quer dizer para o eu delas.

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