Nuvem de Desconhecimento – Prólogo


  1. Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo! Eu te peço e te adjuro, com toda a energia e força compatíveis com a caridade, a ti que terás este livro entre as tuas mãos, quer ele tenha chegado à tua posse por propriedade ou quer tu o tenhas à tua guarda, quer tu o vás transmitir ou quer tu o tenhas recebido de alguém, qualquer caso que seja eu te intimo, tanto quanto está no poder da sabedoria e da vontade, de não o leres, de não o copiares e de não o dares em leitura a alguém, e também de não permitires que ele seja lido, ou copiado, ou que seja dado em leitura, a menos que seja por alguém, ou a alguém, que tu presumes retamente que ele tem a intenção única e o desejo verdadeiro de se tornar num discípulo perfeito de Cristo, não apenas na vida ativa, mas ainda no ponto supremo da vida contemplativa, ao qual possa chegar nesta vida, pela graça, com a alma ainda completamente aprisionada, no entanto, neste corpo mortal; e que para isso o tenham preparado, e no teu conhecimento desde há muito tempo já, a prática de tais virtudes da vida ativa que o tornem apto à vida contemplativa. Porque de outra forma este livro não está de forma nenhuma adaptado a ele. E ainda por cima eu te peço e te adjuro, se alguém como esse o lesse, o copiasse ou falasse dele, ou ainda escutasse a sua leitura ou ouvisse falar dele, eu te intimo, em nome e pela autoridade da caridade, como eu te mando a ti próprio, de lhe mandares ler este livro ou de ouvir a leitura dele, de o copiar ou de falar dele inteiramente em toda a extensão do livro. Porque pode acontecer que haja neste livro alguma matéria incluída no seu começo, ou no meio, que esteja aí em suspenso e não seja plenamente tratada nesse lugar: mas ela selo-a brevemente depois, ou talvez mesmo no fim. É por isso que se alguém só quisesse considerar uma passagem do livro, e não uma outra, ele poderia facilmente ser induzido em erro; e afim de evitar esse erro, quer a ti quer a todos os outros, eu te suplico por caridade de fazeres como eu te disse.
  2. Os disputadores do mundo, os louvadores e os críticos deles próprios ou dos outros, os discursadores de vaidades, corredores de histórias e contadores de contos, todos os tipos de fazedores de embaraços, nunca eu procurei ou pretendi que eles conhecessem este livro. Porque nunca entrou na minha intenção de escrever esta coisa para eles, e portanto também eu desejo que eles não se metam nela de forma nenhuma: nem eles, nem nenhum curioso, letrado ou inculto. Sim! Mesmo se eles fossem excelentes pessoas de bens na vida ativa, nada disto contudo diz respeito a eles. Mas se fosse para aquelas pessoas, pelo contrário, que estivessem na vida ativa pela forma exterior da existência, mas que no entanto, sob a inspiração do Espírito de Deus (cujos julgamentos são desconhecidos) se encontram, devido a um movimento interior, plenamente dispostos pela graça, não continuamente como é o caso dos verdadeiros contemplativos, mas de tempos a tempos, a ter os olhos abertos para o mais alto deste ato da contemplação; se portanto fossem tais pessoas que vissem este livro, elas poderiam, pela graça de Deus, serem por ele grandemente confortadas.
  3. O presente livro está separado em setenta e cinco capítulos, entre os quais o último de todos ensina certos sinais seguros, pelos quais uma alma pode verificar verdadeiramente se ela é chamada, ou não, por Deus para trabalhar nesta via, para ser o operário deste trabalho.


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