Livro da Vida Perfeita – O verdadeiro amor
- Dissemos: «Aquele que conhece Deus e não o ama nunca se torna feliz devido a esse conhecimentos.» O que quer dizer que se poderia conhecer Deus e não o amar...
- Dissemos algures: «Quando Deus é conhecido, Ele é também amado e aquele que conhece Deus deve também amá-lo.»
- Como conciliar estas duas afirmações?
- É preciso fazer aqui uma observação.
- Falamos de duas luzes: uma que é verdadeira, a outra que é falsa. Igualmente, existem dois tipos de amor: um amor verdadeiro e um outro que é falso.
- Cada um desses amores deve ser instruído e guiado por uma luz ou um conhecimento. Da verdadeira luz vem o amor verdadeiro, da falsa luz vem o falso amor.
- Porque aquilo que a luz tem como sendo o melhor, ela o apresenta ao amor como tal e pede-lhe para o amar. E o amor obedece-lhe e segue o seu mandamento.
- Dissemos precedentemente que a falsa luz era natureza e natural.
- Tudo o que é próprio e pertence à natureza lhe é igualmente próprio e lhe pertence – quer dizer: «eu», «meu», «me», isto, aquilo, etc.
- É por isso que ela é falsa e se engana sobre ela própria: nunca um «eu» ou um «meu» chegaram à luz e ao conhecimento sem se enganarem – exceto nas pessoas santas. Para chegar ao conhecimento da verdade simples, tudo isso deve ser aniquilado e perdido.
- É próprio da luz falsa – da luz natural – o saber muitas coisas e o querer saber tanto quanto seja possível.
- Ela sente um grande prazer, uma grande alegria e um grande orgulho no seu saber e no seu conhecimento e deseja acumulá-los sempre mais. Quanto mais o seu saber é importante e elevado, mais ela tem prazer e orgulho nele sem nunca chegar ao repouso e à satisfação.
- Quando ela se elevou tão alto que ela imagina conhecer todas as coisas e para lá de todo o conhecimento, ela está então no cume do seu prazer e do seu orgulho.
- Ela considera o conhecimento como sendo o mais nobre e o melhor: é por isso que ela ensina ao amor a amar o saber e o conhecimento como sendo o que há de mais nobre e de melhor.
- Vê: é o saber e o conhecimento que são então amados, mais do que aquilo que é conhecido. Porque a luz falsa – a luz natural – ama o seu saber e o seu conhecimento, quer dizer ama-se a ela própria, mais do que aquilo que é conhecido.
- Se fosse possível que essa luz natural conhecesse Deus e a simples verdade como eles são neles próprios, ela não abandonaria aquilo que lhe é próprio – a saber ela própria e o seu.
- É neste sentido que pode haver um conhecimento sem amor daquilo que é conhecido. A luz natural sobe e eleva-se tão alto que ela imagina conhecer Deus e a pura e simples verdade: ela ama-se a ela própria em si própria.
- É verdade que Deus só é conhecido por Deus.
- Ora esta luz, crendo ser Deus, imagina ser o próprio Deus: ela apresenta-se como tal e pretende ser tida por tal. Ela pensa ser digna de todas as coisas e ter direito sobre todas.
- Ela imagina ter chegado acima e para lá de todas as coisas e ter mesmo ultrapassado Cristo e a sua vida. Ela chega mesmo a troçar dela: não é Cristo que ela quer ser, mas Deus Ele próprio na Sua eternidade!
- Cristo e a sua vida são contrárias e penosas a toda a natureza. É por isso que a natureza não a quer. Ela não quer ser um ser humano, mas Deus Ele próprio na eternidade, ou Cristo depois da Ressurreição: fácil, agradável e cómodo à natureza. Ela considera tudo isto como sendo o Melhor, porque ela crê que, para ela, é o melhor.
- Vê: esta falsa luz e este amor falso e enganado conhecem bem alguma coisa, sem no entanto a amar: o saber e o conhecimento são aqui mais amados do que aquilo que é conhecido!
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