Livro da Vida Perfeita – Primazia do amor


  1. «O que é um ser humano "santificado" ou um ser humano "santo"?», perguntar-se-á.
  2. Aquele que está iluminado e aclarado pela luz eterna e divina, aquele que arde com o Amor eterno e divino, esse é um ser humano «santo» ou «santificado».
  3. Estivemos a meditar sobre a luz. Mas é preciso saber que a luz ou o conhecimento não é nem vale nada sem o Amor.
  4. Podemos observar isso: mesmo se um ser humano conhece muito bem o que é a virtude e o vício, ele não é nem se tornará virtuoso por isso. Bem pelo contrário, se ele não ama a virtude, ele abandonará a virtude para seguir o vício.
  5. Mas se ele procura a virtude, ele a seguirá e o seu amor por ela lhe fará detestar o vício. Ele não o cometerá nem o praticará, e ele o odiará em todos os seres humanos.
  6. Ele amará de tal forma a virtude que ele nunca negligenciará de a praticar e a exercerá em toda a parte onde ele possa. Não para obter uma recompensa nem por nenhuma outra razão, mas apenas por amor da virtude.
  7. A virtude ela própria se torna na sua recompensa, e ela chega-lhe.
  8. Ele não aceitará nenhum tesouro, nenhum bem em troca da virtude. É assim que ele é e se tornará virtuoso.
  9. Um ser humano verdadeiramente virtuoso não aceitaria que lhe dessem o mundo inteiro se ele devesse em troca abandonar a virtude. Ele preferiria ainda morrer de uma morte horrível.
  10. Vê: passa-se o mesmo com a justiça.
  11. Mais do que um ser humano sabe o que é a justiça e o que é a injustiça: mas ele não é, nem se torna justo por isso. Ele não ama a justiça? Vemos ele praticar o vício e a injustiça...
  12. Mas se ele amasse a justiça, ele não quereria então cometer nada de injusto. Ele seria de tal forma inimigo da injustiça e tão triste de a reconhecer num ser humano que ele aceitaria voluntariamente sofrer ou realizar grandes coisas para que a injustiça seja aniquilada e que esse ser humano se possa tornar justo.
  13. Ele preferiria morrer em vez de cometer a injustiça, e isso apenas pelo amor da justiça. A justiça tornar-se-ia na sua recompensa e seria suficiente por ela própria para o recompensar. É assim que somos e que nos tornamos justos. E preferiríamos morrer mil vezes do que viver na injustiça.
  14. Vê: passa-se o mesmo com a verdade.
  15. Um ser humano pode saber exatamente o que é a verdade, a falsidade e a mentira: se ele não ama a verdade, ele não é verdadeiro.
  16. Mas se ele a ama, acontece nele aquilo que nós dissemos para a justiça.
  17. Da justiça, Isaías diz no capítulo 6 do seu Livro:
  18. «Maldição, maldição para todos aqueles que têm um espírito duplo: aqueles que parecem bons no exterior e que, no interior, estão cheios de mentira e na boca dos quais se encontra a mentira!» (cf. Is 5, 20; 6, 5)
  19. Vê-se com isto que o saber e o conhecimento não valem nada sem o amor.
  20. Notaremos isto também no diabo: ele sabe e conhece o que é bom ou mau, o que é justo e injusto, etc. Mas, não tendo amor pelo bem que ele conhece, ele não se torna bom. O que aconteceria, pelo contrário, se ele tivesse amor pela verdade e pelos outros bens e virtudes que ele conhece...
  21. É bem verdade que o amor deve ser dirigido e instruído pelo conhecimento: mas se o amor não segue o conhecimento, este não serve para nada!
  22. Passa-se o mesmo com Deus e com o que pertence a Deus.
  23. Um ser humano pode ser muito conhecedor sobre Deus e o que é próprio de Deus, ele pode crer conhecer e compreender o que é Deus: se ele não tem amor, ele nunca será santo ou santificado.
  24. Mas se ele tem nele um amor verdadeiro, ele deve-se agarrar a Deus e abandonar tudo o que não é Deus e não Lhe pertence. Ele detesta tudo isso, ele sofre com isso, ele fica aborrecido e afligido com isso.
  25. É este amor que une o ser humano a Deus de tal forma que ele nunca será separado Dele.

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