Livro da Vida Perfeita – O sofrimento do pecado


  1. Deus, enquanto que Ele é Deus, não conhece nem sofrimento, nem aflição, nem infelicidade. No entanto Ele é afligido pelo pecado do ser humano.
  2. Isto não se pode produzir em Deus sem a criatura, e tem que portanto se produzir quando Deus é humano ou num ser humano santificado.
  3. Deus está então tão desgostoso e abatido pelo pecado que Ele aceitaria voluntariamente o ser atormentado ou o sofrer a morte corporal se Ele pudesse apagar com isso o pecado de um único ser humano.
  4. Se alguém lhe perguntasse se Ele preferia viver e que o pecado permanecesse, ou morrer e pela sua morte apagar o pecado, Ele escolheria a morte. Porque o pecado de um único ser humano é-lhe mais doloroso e cruel que os seus próprios tormentos e a sua própria morte.
  5. Se o pecado de um único ser humano lhe causa tanto mal, o que será do pecado de todos os seres humanos?
  6. Vê-se por isso quanto o ser humano aflige Deus com os seus pecados.
  7. Lá onde Deus é ser humano – ou num ser humano santificado -, não se deplora nada a não ser o pecado: não há outro sofrimento. Porque tudo o que é ou se produz sem pecado, Deus quer tê-lo e sê-lo.
  8. Mas as queixas e as lamentações por causa do pecado devem, por necessidade e por obrigação, permanecer num ser humano santificado até à sua morte corporal – mesmo que ele tivesse que viver eternamente ou até ao Último Dia.
  9. Daí vinham – e vêem – os sofrimentos secretos de Cristo de que ninguém fala e não sabe nada a não ser Cristo ele próprio. É por isso que eles são – e se lhes chama - «secretos».
  10. É ainda uma propriedade que Deus aprecia e que lhe agrada bastante no ser humano. Propriedade de Deus e não do ser humano, o qual não é capaz...
  11. Mas quando Deus consegue obtê-la no ser humano, ela é a mais amada e a mais digna d'Ele, porque também a mais amarga e a mais penosa para o ser humano.
  12. Tudo aquilo que se escreveu aqui desta propriedade de Deus – que Ele quer no entanto ver praticada e realizada no ser humano -, nos é ensinado pela luz verdadeira.
  13. Ela ensina também que o ser humano, no qual ela é praticada e realizada, lhe atribui tão pouco valor como se ela não existisse de todo. Fica-se a saber assim que o ser humano não é capaz dela e que ela não lhe pertence.

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