Livro da Vida Perfeita – Nada das criaturas


  1. É próprio de Deus, num ser humano santificado, o estar numa humildade profunda, verdadeira e essencial. Não há ser humano santificado sem uma tal humildade.
  2. Cristo ensinou isso com as suas palavras, com os seus atos e com a sua vida.
  3. E isso aparece quando se reconhece na verdadeira luz – como é na verdade – que a essência, a vida, o conhecimento, o saber e o poder, etc. pertencem ao verdadeiro Bem e não às criaturas.
  4. A criatura como tal não é nada, e não tem nada por ela própria.
  5. Quando ela se afasta do verdadeiro Bem por sua vontade, os seus atos e aquilo que se relaciona com eles, não se encontra aí nada mais que pura malignidade.
  6. Também é bem verdade que a criatura como tal não é por ela própria digna de nada: ela não tem direito a nada, ninguém lhe deve nada, nem Deus nem nenhuma criatura. É ela que deve com toda a justiça se abandonar e se submeter a Deus. Este ponto é o mais importante e o mais notável.
  7. Aquele que quer e deve se abandonar e se submeter a Deus deve, por necessidade e por obrigação, se submeter também a todas as criaturas – duma maneira passiva e não de uma maneira ativa, o que seria erróneo.
  8. Deste último ponto vem a verdadeira humildade, como também do ponto precedente. Se não fosse assim na verdade, se não fosse o Melhor segundo a verdadeira justiça de Deus, Cristo não o teria ensinado com as suas palavras e não o teria realizado com a sua vida.
  9. Toca-se aqui numa verdade – e é preciso insistir nela. A criatura deve ser submissa a Deus e a todas as criaturas, segundo a verdade e justiça de Deus, e nada lhe deve ser submetido ou abandonado: Deus e todas as criaturas têm direito a ela e sobre ela, mas ela não tem direito a nada e sobre nada.
  10. Ela tem obrigações para com todos, e ninguém tem para com ela. Tudo isto, bem entendido, deve ser compreendido de uma maneira passiva e não ativa.
  11. Disso vem também a pobreza espiritual, da qual Cristo dizia: «Bem aventurados os pobres em espírito porque o Reino de Deus é deles.» (Mt 5, 3).
  12. Tudo isso, isto o ensinou com as suas palavras e o realizou com a sua vida.

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