Livro da Vida Perfeita – O ser humano santificado


  1. Num ser humano santificado, o amor é portanto puro, sem mistura e benevolente para com todos e todas as coisas.
  2. Nele ama-se todas as pessoas e todas as coisas.
  3. Deseja-se-lhes, quer-se-lhes, faz-se-lhes um bem sem mistura.
  4. Sim, que se faça a um ser humano santificado tudo aquilo que se quiser – bem ou mal, alegria ou pena, isto ou aquilo – sim, que cem vezes o matem e que ele regresse à vida: ele precisaria necessariamente de amar aquele que o matou, aquele que lhe fez tanto dano, mal e sofrimento.
  5. Ele quererá necessariamente desejar-lhe e querer-lhe o bem. Ele quererá necessariamente fazer-lhe todo o bem possível na condição apenas de que aquele queira bem aceitá-lo e recebê-lo dele.
  6. Pode-se confirmá-lo, prová-lo e demonstrá-lo por Cristo.
  7. A Judas, que o traiu, ele diz: «Meu amigo, porque vieste?» (Mt 26, 50), como se ele dissesse: «Tu odeias-me, tu és meu inimigo: mas eu, eu amo-te e tu és meu amigo. Tu desejas-me, queres-me e fazes-me o maior mal possível: mas eu, eu desejo-te e quero-te o maior bem, e eu to faria e to concederia voluntariamente na condição apenas de que tu quisesses bem aceitá-lo e recebê-lo.»
  8. Exatamente como se Deus dissesse pela sua humanidade: «Eu sou um puro e simples Bem. Eu não posso desejar, querer, fazer nem conceder senão o Bem. Eu devo recompensar o teu mal e a tua maldade com o Bem, porque eu não sou e eu não tenho nada mais.»
  9. Num ser humano santificado, Deus não deseja, não quer nem realiza nenhuma vingança por todo o mal que lhe façam ou lhe farão.
  10. Vê-se-o bem em Cristo que dizia: «Pai, perdoa-lhes, porque eles não sabem o que fazem» (Lc 23, 34).
  11. Igualmente, é próprio de Deus o não constranger ninguém pela força a fazer ou a não fazer: Ele deixa cada um fazer segundo a sua vontade – o bem ou o mal – sem se opor a isso.
  12. Vê-se-o bem ainda em Cristo que não quis opor-se àqueles que lhe faziam mal, nem resistir-lhes. Quando Pedro quis defendê-lo, ele disse-lhe: «Pedro, recoloca a tua espada na sua bainha! Porque não compete a mim nem aos meus discípulos de se oporem, de se defenderem ou de constrangerem pela violência» (Jo 18, 11).
  13. Igualmente, um ser humano santificado não importuna nem aflige ninguém: ele não tem nenhuma vontade, nenhum desejo, nenhum pensamento de fazer ou de não fazer, de dizer ou de não dizer aquilo que poderia inquietar ou afligir uma pessoa.

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