Livro da Vida Perfeita – O Bem único


  1. Deus é luz e conhecimento.
  2. Ora pertence à luz e ao conhecimento o aclarar e o iluminar, o brilhar e o fazer-se conhecer.
  3. Porque Ele é luz e conhecimento, Deus deve aclarar, iluminar e fazer-se conhecer.
  4. Em Deus toda essa claridade e conhecimento é sem criatura: ela não existe como «ação», mas como essência e como origem.
  5. É só nas criaturas que ela se pode produzir como ação e duma maneira ativa.
  6. Quando essa luz e conhecimento está ativa numa criatura, ela faz conhecer e ensina o que ela é: o Bem.
  7. Não sendo nem este bem aqui nem aquele bem acolá, ela não dá a conhecer, não ensina «isto» ou «aquilo».
  8. Ela ensina a conhecer o Bem único: o perfeito, verdadeiro e simples Bem. Aquele que não é nem isto nem aquilo, mas que é todo o bem e para além de todo o bem.
  9. «Ela ensina o Bem único, dizemos nós: então o que é que ela ensina?» Estejamos aqui bem atentos.
  10. Da mesma forma que Deus é bem, conhecimento e luz, Ele é também vontade e amor, justiça e verdade assim como todas as virtudes. Tudo isso está em Deus sem criatura, como essência e como origem e não como ação. Tudo isso não se pode cumprir e realizar sem a criatura.
  11. Mas se esse Um, que é no entanto Tudo, toma a Ele uma criatura e se apodera dela, e se essa criatura é conveniente para Ele e parece bem disposta a Ele para que Ele se conheça a Ele próprio nela, então, sendo uma única vontade e um único amor, uma única luz e um único conhecimento, Ele aprende então com Ele próprio que Ele não deve ver nada mais que o Um que Ele é.
  12. A partir de então a criatura não quer mais, não ama nada mais que o Bem enquanto que ele é Bem e porque ele é Bem.
  13. Não porque ele é este bem aqui ou aquele bem acolá. Não porque ele é amável ou penoso, agradável ou doloroso, doce ou amargo, etc.
  14. Ela não pede nada de tudo isso para ela própria e não se procura mais a ela própria. Porque todo o meu e todo o amor próprio, todo o «me» e todo o «eu» são a partir de agora abandonados e deixados.
  15. Ela não diz mais: «Eu amo-me» ou «Eu amo-te», «Eu amo isto» ou «Eu amo aquilo», etc.
  16. Se perguntassem ao Amor: «O que amas tu?», ele responderia: «Eu amo o Bem». Se lhe perguntassem: «Porquê?», ele responderia: «Porque é o Bem e pelo amor do Bem.»
  17. É bom, justo e feliz que o Bem seja assim amado. E se existisse um Bem maior que Deus, era preciso ama-lo mais que a Deus Ele próprio.
  18. Deus não se ama porque Ele é Deus, mas porque Ele é o Bem. E se existisse, e se Ele conhecesse, um bem maior que Ele próprio, seria esse bem que Ele amaria e não a Ele próprio.
  19. Eu e amor próprio estão assim completamente ausentes de Deus. Nada lhe é próprio, salvo aquilo que é necessário para a distinção das pessoas divinas.
  20. É assim que é na verdade – e deve ser – num ser humano santo ou num ser humano verdadeiramente santificado.
  21. De outra forma, ele não seria santo ou santificado.

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