Mestre Eckhart – Daniel o profeta diz: nós te seguimos 4
- São Paulo desejava estar separado de Deus, por Deus, e pelos seus irmãos.
- Sobre este assunto, os mestres têm grandes dificuldades e muitas hesitações.
- Certos dizem: ele pensava: «um momento».
- Não é absolutamente nada verdadeiro: de tão mau grado um instante quanto eternamente, e de tão bom grado eternamente quanto um instante.
- Quando o ser humano considera a vontade de Deus, quanto mais tempo isso fosse, mais ele ficaria satisfeito, e mais o tormento seria grande, mais ele ficaria satisfeito.
- Tal como um comerciante que, se ele soubesse de forma certa que aquilo que ele comprou por um marco lhe rendesse dez, empregaria tantos marcos quantos possuísse e qualquer que fosse a dificuldade que ele tivesse, se ele estivesse certo de regressar a casa são e salvo e de ganhar com isso tanto mais, tudo isso lhe seria agradável.
- Era assim para São Paulo: aquilo que ele sabia ser a vontade de Deus, quanto mais longo fosse, mais ele estava satisfeito, e mais o tormento durava, maior era a sua alegria, porque realizar a vontade de Deus é o reino celeste, e quanto mais essa vontade durasse, mais longamente durava o reino celeste, e mais o tormento era grande, maior era a beatitude. 1
Notas
- Eckhart desenvolve em seguida a parte do texto de David colocada como título do sermão: «Nós te seguimos...» Ele reforça esta citação do Antigo Testamento com duas outras do Evangelho: João 10, 27 e Lucas 9, 23, onde é questão de seguir Cristo, tema que ele já desenvolveu no sermão 58, Aquele que me serve.
É uma nova ocasião para o pregador recordar o texto de São Paulo aos Romanos, declarando que ele desejaria ser anátema para os seus irmãos. Ele já abordou esta questão no sermão 12, Quem me escuta... e no Livro da Consolação Divina. Os mestres são de opinião diferente sobre este assunto. A argumentação de Eckhart não é absolutamente a mesma nesses três textos, mas a sua conclusão permanece idêntica: não poderia tratar-se para São Paulo, como certos pensam, de estar separado de Deus «um momento», «de tão mau grado um instante quanto eternamente, e de tão bom grado eternamente quanto um instante», como ele o diz aqui: «Quando o ser humano considera a vontade de Deus, quanto mais isso fosse, mais ele ficaria satisfeito.»
Eckhart retoma a comparação do mercador e do benefício que ele espera, já empregue no Livro da Consolação Divina. Uma frase de passagem recorda-nos a insegurança das estradas na época de Eckhart. Lá, «o mercador afronta os brigões que ameaçam a sua vida e os seus bens». Aqui, «qualquer que seja a pena que ele tomasse, se ele tivesse certo regressar a casa dele são e salvo...» Suso contou-nos bastante a esse respeito. [ ↑ ]
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