Mestre Eckhart – Daniel o profeta diz: nós te seguimos 4


  1. São Paulo desejava estar separado de Deus, por Deus, e pelos seus irmãos.
  2. Sobre este assunto, os mestres têm grandes dificuldades e muitas hesitações.
  3. Certos dizem: ele pensava: «um momento».
  4. Não é absolutamente nada verdadeiro: de tão mau grado um instante quanto eternamente, e de tão bom grado eternamente quanto um instante.
  5. Quando o ser humano considera a vontade de Deus, quanto mais tempo isso fosse, mais ele ficaria satisfeito, e mais o tormento seria grande, mais ele ficaria satisfeito.
  6. Tal como um comerciante que, se ele soubesse de forma certa que aquilo que ele comprou por um marco lhe rendesse dez, empregaria tantos marcos quantos possuísse e qualquer que fosse a dificuldade que ele tivesse, se ele estivesse certo de regressar a casa são e salvo e de ganhar com isso tanto mais, tudo isso lhe seria agradável.
  7. Era assim para São Paulo: aquilo que ele sabia ser a vontade de Deus, quanto mais longo fosse, mais ele estava satisfeito, e mais o tormento durava, maior era a sua alegria, porque realizar a vontade de Deus é o reino celeste, e quanto mais essa vontade durasse, mais longamente durava o reino celeste, e mais o tormento era grande, maior era a beatitude. 1

Notas
  1. Eckhart desenvolve em seguida a parte do texto de David colocada como título do sermão: «Nós te seguimos...» Ele reforça esta citação do Antigo Testamento com duas outras do Evangelho: João 10, 27 e Lucas 9, 23, onde é questão de seguir Cristo, tema que ele já desenvolveu no sermão 58, Aquele que me serve.

    É uma nova ocasião para o pregador recordar o texto de São Paulo aos Romanos, declarando que ele desejaria ser anátema para os seus irmãos. Ele já abordou esta questão no sermão 12, Quem me escuta... e no Livro da Consolação Divina. Os mestres são de opinião diferente sobre este assunto. A argumentação de Eckhart não é absolutamente a mesma nesses três textos, mas a sua conclusão permanece idêntica: não poderia tratar-se para São Paulo, como certos pensam, de estar separado de Deus «um momento», «de tão mau grado um instante quanto eternamente, e de tão bom grado eternamente quanto um instante», como ele o diz aqui: «Quando o ser humano considera a vontade de Deus, quanto mais isso fosse, mais ele ficaria satisfeito.»

    Eckhart retoma a comparação do mercador e do benefício que ele espera, já empregue no Livro da Consolação Divina. Uma frase de passagem recorda-nos a insegurança das estradas na época de Eckhart. Lá, «o mercador afronta os brigões que ameaçam a sua vida e os seus bens». Aqui, «qualquer que seja a pena que ele tomasse, se ele tivesse certo regressar a casa dele são e salvo...» Suso contou-nos bastante a esse respeito. [  ]


[ Anterior ] [ Índice ] [ Seguinte ]


Início » Espiritualidade » Mestre Eckhart » Daniel o profeta diz: nós te seguimos 4