Mestre Eckhart – Vi a Cidade Santa, uma Nova Jerusalém 5


  1. Em terceiro lugar, ele diz que esta cidade é «nova».
  2. É novo aquilo que não é exercido ou que está próximo do seu começo.
  3. Deus é o nosso começo.
  4. Quando nós estamos unidos a Ele, nós tornamo-nos «novos».
  5. Certas pessoas imaginam tolamente que Deus fez ou guardou eternamente nele próprio as coisas que nós vemos agora e que Ele projeta no tempo, mas nós devemos considerar as obras divinas como sendo expontâneas (fora do tempo) assim como eu vos vou dizer.
  6. Eu agora estou aqui, e se eu estivesse estado aqui há trinta anos, e se o meu rosto estivesse descoberto, e se ninguém o tivesse visto, no entanto eu teria estado aqui.
  7. Se tivessem preparado um espelho e o tivessem colocado diante de mim, o meu rosto projetar-se-ia nele e desenhar-se-ia nele sem esforço da minha parte, e se isso se tivesse produzido ontem, seria novo, e hoje também, seria também mais novo, e assim daqui por trinta anos ou eternamente, seria eternamente novo; e se existissem mil espelhos, isso produzir-se-ia sem esforço da minha parte.
  8. Igualmente, Deus tem eternamente nele todas as imagens, não enquanto alma ou uma outra criatura, mas enquanto Deus; nele nada é novo nem imagem, mas como eu disse do espelho, em nós há o novo e o eterno em conjunto. 1

Notas
  1. Segue-se uma passagem difícil, mesmo contraditória nos termos. Talvez Eckhart se tenha querido opor àqueles que acreditam na eternidade do mundo. O editor alemão cita a este propósito um texto do tratado Do Desprendimento onde Eckhart se exprime mais claramente graças a citações de Agostinho (Da Trindade) e de Isidoro de Sevilha. Isidoro fala no mesmo sentido no livro Do Bem Supremo: «Muitas gentes perguntam o que fazia Deus antes de criar o céu e a terra, ou antes quando é que Deus teve a vontade nova de formar as criaturas?» e ele responde assim: «Nunca houve em Deus uma vontade nova, porque apesar de a criatura não tivesse sido em si própria tal como ela é agora, ela estava eternamente em Deus e no intelecto de Deus. Deus não criou o céu e a terra como nós dizemos no tempo: "que assim seja!" porque todas as criaturas são expressas no Verbo eterno.»

    Deus possui nele todas as coisas novas, as ideias ou arquétipos eternos, aquilo a que Mestre Eckhart chama as «imagens» fora do tempo, e não as cria no tempo segundo um novo ato da sua vontade mas espontaneamente, sem esforço, da mesma forma que sem esforço da minha parte, a minha imagem se refletiria num espelho ou em mil.

    Deus tem eternamente nele todas as imagens, ao mesmo tempo nós lemos que nele nada é novo nem imagem. A contradição é só aparente nos termos, ela não é no pensamento do pregador. Deus tem nele todas as imagens, quer dizer as «ideias», os «arquétipos» das coisas, não enquanto que alma ou uma outra criatura na existência separada dela, mas enquanto que Deus. É um lugar comum da escolástica que «aquilo que está em Deus é Deus». Eckhart ele próprio disse-o duas vezes no sermão 3, Agora sei verdadeiramente, e igualmente várias vezes nas suas obras latinas. Aqui mesmo: «Nele nada é novo nem imagem, mas como eu disse do espelho, para nós "novo" e "eterno" existem ambos.» Portanto há «imagens» em Deus no sentido de modelos ou «ideias», não no sentido de um reflexo ou de uma representação. [  ]


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