Mestre Eckhart – Maria Madalena foi ao túmulo 2
- Porque diz ele: «Eu ainda não fui ao meu Pai»?
- No entanto ele nunca deixou o Pai.
- Ele queria dizer: «Eu ainda não verdadeiramente ressuscitei em ti.»
- Porque é que ela diz: «Mostra-me para onde é que tu o levaste, eu quero ir buscá-lo»?
- Se ele o tivesse levado para a casa do juiz, ela também teria lá ido buscá-lo?
- Sim, diz um mestre, ela teria ido buscá-lo ao castelo do juiz.
- Ora poder-se-ia perguntar porque é que ela se aproximou tanto dele apesar dela ser uma mulher, e que aqueles que eram homens - um que amava Deus (Pedro), o outro que era amado por Deus (João) - tinham medo?
- E o mesmo mestre diz: «A razão é que ela não tinha nada a perder, porque ela era dele e, sendo dele, ela não tinha medo.» 1
- Como se eu tivesse dado a minha capa a um qualquer e que um outro lha quisesse tirar, eu não podia impedi-lo porque ela pertenceria ao primeiro, assim como eu o disse frequentemente. 2
- Ela não tinha medo por três razões.
- A primeira, é porque ela era dele.
- A segunda, é porque ela estava tão longe da porta dos sentidos e no interior dela própria.
- A terceira, é porque o coração dela estava com ele. Lá onde ele estava, lá estava o coração dela.
- É por isso que ela não tinha medo.
- A segunda razão pela qual ela estava tão perto dele, diz o mesmo mestre, é porque ela desejava que a viessem matar: porque, viva, ela não podia em nenhuma parte encontrar Deus, a sua alma ao menos encontraria Deus nalguma parte.
- A terceira razão porque ela estava tão perto, é que se eles tivessem vindo e a tivessem matado - ela sabia bem que ninguém podia chegar ao reino do céu antes que Cristo lá tivesse ele próprio subido, e era bem preciso que a sua alma tivesse um apoio em qualquer parte - então ela desejava que a sua alma estivesse com ele no túmulo, e o seu corpo perto do túmulo: a sua alma no interior e o seu corpo muito perto, porque ela tinha a esperança de que Deus tendo feito uma erupção na humanidade, qualquer coisa de Deus tivesse ficado dentro do túmulo.
- Da mesma forma que se eu tivesse tido um certo tempo uma maçã na minha mão, quando eu a retirasse, aí ficasse qualquer coisa dela, como um perfume.
- Igualmente, ela tinha a esperança de que qualquer coisa de Deus tivesse ficado dentro do túmulo. 3
- Eis a quarta razão pela qual ela ficou tão perto do túmulo: porque ela tinha perdido Deus duas vezes: vivo na cruz e morto no túmulo, ela temia que afastando-se do túmulo, ela perdesse também o túmulo, porque se ela tivesse perdido também o túmulo, não lhe teria ficado absolutamente mais nada. 4
Notas
- Ele espanta-se, junto como esses «mestres», que uma mulher tenha tido a coragem de ir até ao túmulo, e tenha manifestado uma maior coragem ainda, enquanto que os homens tinham fugido: um que amava Deus - Pedro -, o outro que era amado por Deus - João -. Com efeito, ela não tinha nada a perder, tendo-se entregue a ele. [ ↑ ]
- Aqui encontramos uma comparação com a capa (ou o capuz?) dada a um terceiro, do qual Eckhart nos diz que frequentemente citou, mas que nós ainda não encontramos. [ ↑ ]
- Uma outra razão pela qual ela permaneceu tão perto do túmulo, é porque ela desejava que os inimigos venham e a matem: não podendo, viva, encontrar Cristo, a sua alma pelo menos encontraria Deus em qualquer parte.
Tendo necessidade de um suporte, ela desejava que a sua alma estivesse com ele no túmulo e o seu corpo perto do túmulo, «porque ela tinha a esperança de que tendo Deus feito erupção na humanidade, qualquer coisa de Deus teria ficado no túmulo». [ ↑ ] - Por outro lado: tendo perdido Deus duas vezes, vivo na cruz e morto no túmulo, ela pensava que, afastando-se, ela poderia perder também o túmulo. [ ↑ ]
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