Mestre Eckhart – Maria Madalena foi ao túmulo 2


  1. Porque diz ele: «Eu ainda não fui ao meu Pai»?
  2. No entanto ele nunca deixou o Pai.
  3. Ele queria dizer: «Eu ainda não verdadeiramente ressuscitei em ti.»
  4. Porque é que ela diz: «Mostra-me para onde é que tu o levaste, eu quero ir buscá-lo»?
  5. Se ele o tivesse levado para a casa do juiz, ela também teria lá ido buscá-lo?
  6. Sim, diz um mestre, ela teria ido buscá-lo ao castelo do juiz.
  7. Ora poder-se-ia perguntar porque é que ela se aproximou tanto dele apesar dela ser uma mulher, e que aqueles que eram homens - um que amava Deus (Pedro), o outro que era amado por Deus (João) - tinham medo?
  8. E o mesmo mestre diz: «A razão é que ela não tinha nada a perder, porque ela era dele e, sendo dele, ela não tinha medo.» 1
  9. Como se eu tivesse dado a minha capa a um qualquer e que um outro lha quisesse tirar, eu não podia impedi-lo porque ela pertenceria ao primeiro, assim como eu o disse frequentemente. 2
  10. Ela não tinha medo por três razões.
  11. A primeira, é porque ela era dele.
  12. A segunda, é porque ela estava tão longe da porta dos sentidos e no interior dela própria.
  13. A terceira, é porque o coração dela estava com ele. Lá onde ele estava, lá estava o coração dela.
  14. É por isso que ela não tinha medo.
  15. A segunda razão pela qual ela estava tão perto dele, diz o mesmo mestre, é porque ela desejava que a viessem matar: porque, viva, ela não podia em nenhuma parte encontrar Deus, a sua alma ao menos encontraria Deus nalguma parte.
  16. A terceira razão porque ela estava tão perto, é que se eles tivessem vindo e a tivessem matado - ela sabia bem que ninguém podia chegar ao reino do céu antes que Cristo lá tivesse ele próprio subido, e era bem preciso que a sua alma tivesse um apoio em qualquer parte - então ela desejava que a sua alma estivesse com ele no túmulo, e o seu corpo perto do túmulo: a sua alma no interior e o seu corpo muito perto, porque ela tinha a esperança de que Deus tendo feito uma erupção na humanidade, qualquer coisa de Deus tivesse ficado dentro do túmulo.
  17. Da mesma forma que se eu tivesse tido um certo tempo uma maçã na minha mão, quando eu a retirasse, aí ficasse qualquer coisa dela, como um perfume.
  18. Igualmente, ela tinha a esperança de que qualquer coisa de Deus tivesse ficado dentro do túmulo. 3
  19. Eis a quarta razão pela qual ela ficou tão perto do túmulo: porque ela tinha perdido Deus duas vezes: vivo na cruz e morto no túmulo, ela temia que afastando-se do túmulo, ela perdesse também o túmulo, porque se ela tivesse perdido também o túmulo, não lhe teria ficado absolutamente mais nada. 4

Notas
  1. Ele espanta-se, junto como esses «mestres», que uma mulher tenha tido a coragem de ir até ao túmulo, e tenha manifestado uma maior coragem ainda, enquanto que os homens tinham fugido: um que amava Deus - Pedro -, o outro que era amado por Deus - João -. Com efeito, ela não tinha nada a perder, tendo-se entregue a ele. [  ]
  2. Aqui encontramos uma comparação com a capa (ou o capuz?) dada a um terceiro, do qual Eckhart nos diz que frequentemente citou, mas que nós ainda não encontramos. [  ]
  3. Uma outra razão pela qual ela permaneceu tão perto do túmulo, é porque ela desejava que os inimigos venham e a matem: não podendo, viva, encontrar Cristo, a sua alma pelo menos encontraria Deus em qualquer parte.

    Tendo necessidade de um suporte, ela desejava que a sua alma estivesse com ele no túmulo e o seu corpo perto do túmulo, «porque ela tinha a esperança de que tendo Deus feito erupção na humanidade, qualquer coisa de Deus teria ficado no túmulo». [  ]
  4. Por outro lado: tendo perdido Deus duas vezes, vivo na cruz e morto no túmulo, ela pensava que, afastando-se, ela poderia perder também o túmulo. [  ]


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