Mestre Eckhart – Tu deves honrar pai e mãe 2


  1. O senhor São Gregório diz: «Onde o cordeiro toca no fundo, o boi ou a vaca nadam, e onde a vaca nada, o elefante a ultrapassa e a água passa por cima da sua cabeça.»
  2. É um sentido muito belo, de onde se pode tirar muito.
  3. O senhor Santo Agostinho diz que a Escritura é um mar profundo; um pequeno cordeiro designa uma pessoa humilde e simples que consegue tocar no fundo da Escritura.
  4. Pelo boi que nada, é preciso entender as pessoas frustes. Cada uma toma lá aquilo que lhe convém.
  5. Mas pelo elefante que corre para diante, é-nos dado entender as pessoas espirituais que penetram na Escritura e avançam nela.
  6. Eu espanto-me que a santa Escritura seja tão densa e os mestres dizem que ela não deve ser interpretada simplesmente tal qual ela é.
  7. Eles dizem que se lá se encontra alguma coisa de grosseiro, é preciso que isso seja decifrado, mas para isso são precisas comparações.
  8. (Desses animais,) um penetrou lá até ao tornozelo, o segundo até ao joelho, o terceiro até à cintura, o quarto até por cima da cabeça e afogou-se nela.
  9. O que é que isto significa?
  10. Santo Agostinho diz: No princípio, a Escritura sorri às crianças, ela atrai a si a criança e no fim, quando se quer sondar a Escritura, ela troça das pessoas sábias e ninguém tem o espírito suficientemente simples para não encontrar lá aquilo que lhe convém, e ninguém é tão sábio que, querendo penetrá-la, não a encontra mais profunda e não encontra lá mais.
  11. Tudo aquilo que nós conseguimos compreender nela, e tudo aquilo que nos podem dizer, revela um outro sentido escondido.
  12. Tudo aquilo que nós compreendemos aqui é tão dissemelhante àquilo que está em Deus como se aquilo não estivesse. 1

Notas
  1. Como no sermão 49, este aqui começa por uma espécie de prólogo onde os animais são postos em cena: um cordeiro, um boi ou uma vaca, e um elefante. Eckhart encontra aí um muito belo símbolo de onde se podem tirar ensinamentos.

    A citação de São Gregório, retomada por Alberto o Grande, no qual aliás só são referidos o cordeiro e o elefante, é seguida neste sermão por um texto de Agostinho onde a Escritura é comparada a um mar profundo, apesar de não se ver bem como é que o cordeiro, que representa as pessoas humildes e santas, o pode sondar.

    Compreende-se melhor que o elefante se afogue nesse mar, mesmo se ele é o símbolo das pessoas espirituais, porque Mestre Eckhart já nos tinha dito várias vezes, e nomeadamente aqui, que ninguém pode verdadeiramente penetrar no sentido profundo da Escritura.

    O conjunto da parábola fica portanto um pouco confuso. [  ]


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