Mestre Eckhart – Todas as coisas semelhantes amam-se reciprocamente 5
- Eu digo portanto: quando o ser humano se afasta de si próprio, e de todas as coisas criadas - tanto tu ages assim, tanto tu estás unido e bem-aventurado na centelha da alma que nunca toca no tempo, nem no espaço.
- Essa centelha recusa todas as criaturas, e só quer Deus na sua nudez, tal qual Ele é n'Ele próprio.
- Não lhe chega nem o Pai, nem o Filho, nem o Espírito Santo, nem as Três Pessoas, na medida em que cada uma delas fica na sua particularidade.
- Eu digo na verdade que para essa luz não é suficiente a unicidade da natureza divina enquanto fecunda.
- Eu direi mais, o que dará um aspeto ainda mais estranho; eu digo-o em boa verdade, e em eterna verdade, e em perdurável verdade: a essa mesma luz não é suficiente nem mesmo o ser divino simples e impassível que não dá nem recebe; ela quer saber de onde vem esse ser; ela quer penetrar no fundo simples, no deserto silencioso onde nunca a distinção lançou um olhar, nem Pai, nem Filho, nem Espírito Santo, o mais íntimo onde nada está em si.
- É lá apenas que essa luz encontra a sua satisfação, e lá ela está mais intimamente do que ela está em si própria, porque esse fundo é um silêncio simples, imóvel em si próprio, e por essa imobilidade todas as coisas são movidas, e são concebidas todas as vidas que os vivos dotados de inteligência são em si próprios. 1
- Que a perdurável verdade de que eu falei nos ajude a viver assim segundo o intelecto. Amém. 2
Notas
- «É por isso que eu digo: quando o ser humano se afasta de si próprio, e de todas as coisas criadas - tanto tu ages assim, tanto tu estás unido e bem-aventurado na centelha da alma que nunca toca no tempo, nem no espaço.» Como ele já nos disse em tantas outras ocasiões, essa centelha recusa não apenas as criaturas, mas o Deus trinitário na propriedade das suas Pessoas.
Ele sabe que vai espantar quem não têm o hábito de o escutar: «Eu direi mais, o que dará um aspeto ainda mais estranho.» Ele não emprega a palavra Divindade, mas ele evoca essa inefável realidade com imagens misteriosas: «o fundo simples, o deserto silencioso» onde essa luz «está mais intimamente do que ela está em si própria, porque esse fundo é um silêncio simples, imóvel em si próprio, e por essa imobilidade todas as coisas são movidas, e são concebidas todas as vidas que os vivos dotados de inteligência são em si próprios.» [ ↑ ] - Esta tradução foi realizada a partir da tradução francesa de Jeanne Ancelet-Hustache, «Maitre Eckhart - Sermons 31-59 - Tome II», Éditions du Seuil, Paris, 1978, p. 110-114. [ ↑ ]
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