Mestre Eckhart – Simão Pedro, feliz és tu 11
- Entre todos os nomes, nenhum convém melhor (a Deus) que «aquele que é».
- Porque se alguém, para indicar uma coisa, dissesse: «é ...», isso pareceria uma absurdidade; mas se dissesse: «é madeira ou uma pedra», saber-se-ia o que ele entende com isso.
- É por isso que nós dizemos: o Seu nome próprio obtém-se desprendendo, afastando, despojando tudo até que nada reste senão o simples «é»: tal é a particularidade do Seu nome.
- É por isso que Deus diz a Moisés: «Diz: "aquele que é" enviou-me!»
- É por isso que Nosso Senhor designa os seus com o seu próprio nome.
- Nosso Senhor diz aos seus discípulos: «Aqueles que me seguem serão assentados à minha mesa no reino do meu Pai, eles comerão os meus manjares, beberão a bebida que o meu Pai preparou para mim; igualmente eu também a preparei para vocês.»
- Feliz a pessoa que lá chegou a receber, com o Filho, da mesma fonte de que o Filho recebe.
- É lá também que nós recebemos a nossa beatitude, lá onde reside a beatitude d'Ele, lá onde Ele tem o seu ser, nesse mesmo fundo, todos os seus amigos receberão e beberão a beatitude deles.
- Tal é a «mesa no reino de Deus». 1
- Que Deus nos ajude para que nós cheguemos a essa mesa. Amém. 2
Notas
- O pregador regressa em seguida à frase de Cristo citada no início do sermão: «Simão Pedro, feliz és tu!» «Deus dá à pessoa justa um ser divino e nomeia-a com o mesmo nome que é próprio do seu ser.» Quando a palavra «feliz» parecia ter o peso da frase de Cristo, Eckhart dá dela uma outra interpretação na última parte do seu sermão.
O nome que convém melhor a Deus é aquele pelo qual Ele se nomeia a Moisés: «Ego sum qui sum», que Mestre Eckhart comenta no Prólogo do Opus propositionum, citando o Êxodo, Job e Damasceno, e que ele cita duas vezes aqui: «aquele que é».
Segundo o exemplo que ele dá, o emprego do verbo ser, «é ...», não seguido de um adjetivo ou de um nome que o explique, constitui uma absurdidade. Ele só tem sentido se, no seu desenvolvimento, estiver atribuído a Deus: «é». «Simão Pedro, feliz és tu!»: tu és: tal é o nome que pertence a Cristo visto que Ele é Deus, visto que ELE É, e que Ele dá aos seus aquilo que Ele próprio é, a saber o ser.
A promessa que Cristo lhes faz em seguida, de comerem os seus manjares à mesa que Ele lhes preparou, é a sequência direta desse nome que Ele lhes deu. [ ↑ ] - Esta tradução foi realizada a partir da tradução francesa de Jeanne Ancelet-Hustache, «Maitre Eckhart - Sermons 31-59 - Tome II», Éditions du Seuil, Paris, 1978, p. 94-99. [ ↑ ]
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