Mestre Eckhart – Simão Pedro, feliz és tu 6
- Um mestre diz: se não existisse intermediário, ver-se-ia uma formiga no céu.
- Um outro mestre diz: se não existisse intermediário, não se veria nada.
- Ambos dizem a verdade.
- Para que a cor que está na parede seja trazida até ao meu olho, é preciso que ela passe pelo crivo, e refinada no ar, e na luz, e ser assim espiritualmente trazida para dentro do meu olho.
- Igualmente, é preciso que a alma que deve contemplar Deus seja passada pelo crivo, e refinada na luz, e na graça.
- É por isso que o mestre tem razão que diz que se não existisse intermediário não se veria nada.
- O outro mestre tem razão também que diz que se não existisse intermediário ver-se-ia uma formiga no céu.
- Se não existisse intermediário para a alma, ela veria Deus sem nenhum véu. 1
Notas
- Da mesma forma que a cor da parede deve ser afinada no ar e na luz para chegar ao meu olho, é preciso que a alma seja afinada pela luz da graça para contemplar Deus.
Eckhart faz aqui alusão às posições contrárias de Aristóteles e de Demócrito, sem os nomear, mas ele discute-as no seu comentário ao Livro da Sabedoria (na seção Sanctis autem tuis).
Nota-se que, falando geralmente perante um público de monjas e laicos, Mestre Eckhart não nomeia frequentemente os autores que cita senão os grandes nomes conhecidos por toda a cristandade: Gregório e particularmente Agostinho. Os outros são «os mestres», ou «um mestre»; eles ficam para o seu público no anonimato, sobretudo quando são escritores «pagãos». Mas encontramos geralmente os seus nomes nas suas obras latinas que se dirigem aos clérigos. [ ↑ ]
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