Mestre Eckhart – Simão Pedro, feliz és tu 6


  1. Um mestre diz: se não existisse intermediário, ver-se-ia uma formiga no céu.
  2. Um outro mestre diz: se não existisse intermediário, não se veria nada.
  3. Ambos dizem a verdade.
  4. Para que a cor que está na parede seja trazida até ao meu olho, é preciso que ela passe pelo crivo, e refinada no ar, e na luz, e ser assim espiritualmente trazida para dentro do meu olho.
  5. Igualmente, é preciso que a alma que deve contemplar Deus seja passada pelo crivo, e refinada na luz, e na graça.
  6. É por isso que o mestre tem razão que diz que se não existisse intermediário não se veria nada.
  7. O outro mestre tem razão também que diz que se não existisse intermediário ver-se-ia uma formiga no céu.
  8. Se não existisse intermediário para a alma, ela veria Deus sem nenhum véu. 1

Notas
  1. Da mesma forma que a cor da parede deve ser afinada no ar e na luz para chegar ao meu olho, é preciso que a alma seja afinada pela luz da graça para contemplar Deus.

    Eckhart faz aqui alusão às posições contrárias de Aristóteles e de Demócrito, sem os nomear, mas ele discute-as no seu comentário ao Livro da Sabedoria (na seção Sanctis autem tuis).

    Nota-se que, falando geralmente perante um público de monjas e laicos, Mestre Eckhart não nomeia frequentemente os autores que cita senão os grandes nomes conhecidos por toda a cristandade: Gregório e particularmente Agostinho. Os outros são «os mestres», ou «um mestre»; eles ficam para o seu público no anonimato, sobretudo quando são escritores «pagãos». Mas encontramos geralmente os seus nomes nas suas obras latinas que se dirigem aos clérigos. [  ]


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