Mestre Eckhart – Jovem, digo-te: Levanta-te! 8


  1. Por cima desta luz está a graça; ela nunca desce no intelecto, nem na vontade.
  2. Se a graça viesse ao intelecto, era preciso que o intelecto e a vontade se elevassem acima deles próprios.
  3. Ora, não é possível, porque a vontade é tão nobre em si própria que ela não pode ser preenchida senão pelo amor divino.
  4. O amor divino realiza obras muito grandes.
  5. Ainda acima dele está uma outra parte: o intelecto; este é tão nobre em si próprio que ele não pode ser preenchido senão pela verdade divina.
  6. É por isso que um mestre diz: há, não se sabe o quê, de muito misterioso que está por cima: é a cabeça da alma.
  7. Lá, ocorre a verdadeira união entre Deus e a alma.
  8. A graça nunca realizou nenhuma obra boa porque ela nunca realizou nenhuma obra; sem dúvida, ela derrama-se a quando do exercício de uma virtude, mas a graça nunca realiza a união por intermédio de uma obra.
  9. A graça é uma habitação e uma coabitação da alma em Deus.
  10. Para isso, tudo aquilo que alguma vez se chamou de obra, exterior e interior, é demasiado indigente.
  11. Todas as criaturas procuram algo que se assemelhe a Deus: quanto mais elas são indigentes, mais elas procuram no exterior, como o ar e a água que correm, mas o céu, que é mais nobre, procura uma semelhança maior com Deus; ele está em perpétua revolução, e nessa revolução, ele produz todas as criaturas; nisso ele assemelha-se a Deus, mas não é isso que ele procura: é qualquer coisa mais elevada.
  12. Para além disso, no seu percurso, ele procura o repouso.
  13. Nunca o céu realiza uma obra para servir uma criatura que lhe seja inferior.
  14. Por isso, ele assemelha-se mais a Deus.
  15. Que Deus se gera no seu Filho único, é inacessível a todas as criaturas.
  16. No entanto, o céu tende para essa obra que Deus opera nele próprio.
  17. Se o céu age assim, da mesma forma que outras criaturas mais indigentes, quanto então a alma é ela mais nobre que o céu. 1

Notas
  1. A última parte do sermão desenvolve as mesmas perspectivas, sobre o homem e o intelecto, com relação à graça.

    A graça não desce nem no intelecto nem na vontade. «É por isso que um mestre diz: há, não se sabe o quê, de muito misterioso que está por cima: é a cabeça da alma.» É preciso tomá-la como idêntica à «qualquer coisa» da alma. A união de Deus com a alma não se realiza com uma obra, porque a graça não realiza obras: é uma habitação e uma coabitação da alma em Deus.

    Todas as criaturas procuram qualquer coisa de semelhante a Deus. O céu, que está entre as criaturas mais nobres, produz todas as criaturas e procura a paz, mas tão nobre quanto seja, a alma é mais nobre que o céu. [  ]


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