Mestre Eckhart – Jovem, digo-te: Levanta-te! 6


  1. Ora ele diz: «Jovem, eu digo-te, levanta-te!»
  2. Ele quer Ele próprio operar a obra.
  3. Aquele que me ordenasse para levar uma única pedra poderia bem me ordenar para levar mil pedras, em vez de uma só, se ele se quisesse encarregar disso ele próprio.
  4. Ou se alguém me ordenasse para levar um quintal, ele poderia ordenar-me que levasse mil, tanto quanto um, se ele o quisesse fazer ele próprio.
  5. Pois bem! Deus quer Ele próprio operar essa obra, a pessoa só tem que seguir e não resistir.
  6. Ah! e se a alma apenas vivesse dentro, ela teria presentes todas as coisas.
  7. Existe uma potência na alma, e não apenas uma potência, um ser, e não apenas um ser, mas que separa do ser; é tão puro, e tão elevado, e tão nobre em si próprio que nenhuma criatura aí pode penetrar, mas Deus apenas aí reside.
  8. Sim, em toda a verdade, Deus ele próprio não pode aí penetrar devido a que ele tem um modo, nem devido a que ele é sábio, nem devido a que ele é bom, nem devido a que ele é rico.
  9. Sim, Deus não pode aí penetrar com nenhum modo, Deus só pode aí penetrar com a nudez da sua natureza divina.
  10. Pois bem! notem que ele diz: «Jovem, digo-te, levanta-te!»
  11. E o que é o «dizer» de Deus? É a obra de Deus, e a obra é tão nobre e tão elevada que só Deus a opera.
  12. Ora saibam: toda a nossa perfeição e toda a nossa beatitude, é que o ser humano faça a penetração, e ultrapasse todo o criado, e toda a temporalidade, e todo o ser, e penetre no fundo que não tem fundo. 1
  13. Nós pedimos ao nosso caro Senhor Deus para nos tornarmos um, e para residir no interior, e que Deus nos ajude a chegar a esse mesmo fundo. Amém. 2

Notas
  1. «Existe uma potência na alma, e não apenas uma potência, um ser, e não apenas um ser, mas que separa do ser...» «Se portanto eu tivesse saído de mim próprio e absolutamente liberto, o Pai geraria o seu Filho único no meu espírito tão puramente quanto o espírito o geraria por sua vez.»

    A essa «qualquer coisa», a essa «potência», nenhuma criatura tem acesso. Só Deus aí penetra, e não na medida em que ele é sábio, ou bom, ou rico.

    Nós reencontramos o que Mestre Eckhart tinha dito no sermão 2 sobre «o castelo da alma» com a mesma intensidade, a saber que o fundo da alma fica em repouso enquanto que Deus se comunica e que o ser humano que regressa ao seu próprio fundo só descobre um «fundo sem fundo»: o abismo onde se joga a identidade entre o ser humano e Deus.

    Esta comunicação é chamada aqui o «dizer» de Deus.

    O que é o «dizer» de Deus? É a obra de Deus, e a obra é tão nobre e tão elevada que apenas Deus a opera.

    «Ora sabe: toda a nossa perfeição e toda a nossa beatitude, é que o ser humano faça a penetração, e ultrapasse todo o criado, e toda a temporalidade, e todo o ser, e penetre no fundo que não tem fundo.» [  ]
  2. Esta tradução foi realizada a partir da tradução francesa de Jeanne Ancelet-Hustache, «Maitre Eckhart - Sermons 31-59 - Tome II», Éditions du Seuil, Paris, 1978, p. 75-79. [  ]


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