Mestre Eckhart – Jovem, digo-te: Levanta-te! 6
- Ora ele diz: «Jovem, eu digo-te, levanta-te!»
- Ele quer Ele próprio operar a obra.
- Aquele que me ordenasse para levar uma única pedra poderia bem me ordenar para levar mil pedras, em vez de uma só, se ele se quisesse encarregar disso ele próprio.
- Ou se alguém me ordenasse para levar um quintal, ele poderia ordenar-me que levasse mil, tanto quanto um, se ele o quisesse fazer ele próprio.
- Pois bem! Deus quer Ele próprio operar essa obra, a pessoa só tem que seguir e não resistir.
- Ah! e se a alma apenas vivesse dentro, ela teria presentes todas as coisas.
- Existe uma potência na alma, e não apenas uma potência, um ser, e não apenas um ser, mas que separa do ser; é tão puro, e tão elevado, e tão nobre em si próprio que nenhuma criatura aí pode penetrar, mas Deus apenas aí reside.
- Sim, em toda a verdade, Deus ele próprio não pode aí penetrar devido a que ele tem um modo, nem devido a que ele é sábio, nem devido a que ele é bom, nem devido a que ele é rico.
- Sim, Deus não pode aí penetrar com nenhum modo, Deus só pode aí penetrar com a nudez da sua natureza divina.
- Pois bem! notem que ele diz: «Jovem, digo-te, levanta-te!»
- E o que é o «dizer» de Deus? É a obra de Deus, e a obra é tão nobre e tão elevada que só Deus a opera.
- Ora saibam: toda a nossa perfeição e toda a nossa beatitude, é que o ser humano faça a penetração, e ultrapasse todo o criado, e toda a temporalidade, e todo o ser, e penetre no fundo que não tem fundo. 1
- Nós pedimos ao nosso caro Senhor Deus para nos tornarmos um, e para residir no interior, e que Deus nos ajude a chegar a esse mesmo fundo. Amém. 2
Notas
- «Existe uma potência na alma, e não apenas uma potência, um ser, e não apenas um ser, mas que separa do ser...» «Se portanto eu tivesse saído de mim próprio e absolutamente liberto, o Pai geraria o seu Filho único no meu espírito tão puramente quanto o espírito o geraria por sua vez.»
A essa «qualquer coisa», a essa «potência», nenhuma criatura tem acesso. Só Deus aí penetra, e não na medida em que ele é sábio, ou bom, ou rico.
Nós reencontramos o que Mestre Eckhart tinha dito no sermão 2 sobre «o castelo da alma» com a mesma intensidade, a saber que o fundo da alma fica em repouso enquanto que Deus se comunica e que o ser humano que regressa ao seu próprio fundo só descobre um «fundo sem fundo»: o abismo onde se joga a identidade entre o ser humano e Deus.
Esta comunicação é chamada aqui o «dizer» de Deus.
O que é o «dizer» de Deus? É a obra de Deus, e a obra é tão nobre e tão elevada que apenas Deus a opera.
«Ora sabe: toda a nossa perfeição e toda a nossa beatitude, é que o ser humano faça a penetração, e ultrapasse todo o criado, e toda a temporalidade, e todo o ser, e penetre no fundo que não tem fundo.» [ ↑ ] - Esta tradução foi realizada a partir da tradução francesa de Jeanne Ancelet-Hustache, «Maitre Eckhart - Sermons 31-59 - Tome II», Éditions du Seuil, Paris, 1978, p. 75-79. [ ↑ ]
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