Mestre Eckhart – Jovem, digo-te: Levanta-te! 4


  1. A alma tem duas potências que não têm nada a ver com o corpo: o intelecto e a vontade; elas operam acima do tempo.
  2. Ah! se os olhos da alma estivessem portanto abertos para que o conhecimento contemple claramente a verdade!
  3. Saibam: para uma tal pessoa, seria tão fácil deixar todas as coisas como uma ervilha, ou uma lentilha, ou um pequeno nada.
  4. Sim, pela minha alma, todas as coisas seriam para essa pessoa tanto quanto nada.
  5. Ora, certas gentes deixam todas as coisas por amor, elas consideram que são coisas muito grandes aquelas que elas deixaram.
  6. Mas aquele que reconhece que na verdade, mesmo ter renunciado a si próprio e a todas as coisas não é ainda absolutamente nada, pois bem! àquele que vive assim, todas as coisas pertencem na verdade. 1

Notas
  1. Eckhart fala agora de «duas potências da alma»: o intelecto e a vontade.

    O emprego no mesmo sermão da palavra «potência», por um lado para a «qualquer coisa» na alma, por outro lado para o intelecto e a vontade designadas habitualmente por esse mesmo termo, não deve desorientar o leitor: a ambiguidade no vocabulário não traduz uma flutuação no pensamento, Eckhart não cessa de recordar a diferença entre essas realidades: o «fundo» da alma e as suas faculdades.

    O intelecto e a vontade são igualmente independentes do tempo «e não têm absolutamente nada a ver com o corpo».

    Se os olhos da alma estivessem abertos e contemplassem a verdade, todas as coisas seriam iguais e o desprendimento seria fácil.

    Não teria aliás valor como se a pessoa que deixou tudo, incluindo ela própria, considerasse que não tivesse deixado nada.

    Todas as coisas então lhe pertenceriam. [  ]


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