Mestre Eckhart – Jovem, digo-te: Levanta-te! 4
- A alma tem duas potências que não têm nada a ver com o corpo: o intelecto e a vontade; elas operam acima do tempo.
- Ah! se os olhos da alma estivessem portanto abertos para que o conhecimento contemple claramente a verdade!
- Saibam: para uma tal pessoa, seria tão fácil deixar todas as coisas como uma ervilha, ou uma lentilha, ou um pequeno nada.
- Sim, pela minha alma, todas as coisas seriam para essa pessoa tanto quanto nada.
- Ora, certas gentes deixam todas as coisas por amor, elas consideram que são coisas muito grandes aquelas que elas deixaram.
- Mas aquele que reconhece que na verdade, mesmo ter renunciado a si próprio e a todas as coisas não é ainda absolutamente nada, pois bem! àquele que vive assim, todas as coisas pertencem na verdade. 1
Notas
- Eckhart fala agora de «duas potências da alma»: o intelecto e a vontade.
O emprego no mesmo sermão da palavra «potência», por um lado para a «qualquer coisa» na alma, por outro lado para o intelecto e a vontade designadas habitualmente por esse mesmo termo, não deve desorientar o leitor: a ambiguidade no vocabulário não traduz uma flutuação no pensamento, Eckhart não cessa de recordar a diferença entre essas realidades: o «fundo» da alma e as suas faculdades.
O intelecto e a vontade são igualmente independentes do tempo «e não têm absolutamente nada a ver com o corpo».
Se os olhos da alma estivessem abertos e contemplassem a verdade, todas as coisas seriam iguais e o desprendimento seria fácil.
Não teria aliás valor como se a pessoa que deixou tudo, incluindo ela própria, considerasse que não tivesse deixado nada.
Todas as coisas então lhe pertenceriam. [ ↑ ]
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