Mestre Eckhart – O justo vive na eternidade 9


  1. Alguns mestres pretendem que o espírito bebe a sua beatitude no amor; outros pretendem que ele a bebe na contemplação de Deus, mas eu digo: ele não a bebe no amor, nem no conhecimento, nem na contemplação.
  2. Ora poderia-se dizer: o espírito não contempla então Deus na vida eterna? Sim e não.
  3. Na medida em que ele nasceu, ele não tem nem visão nem contemplação de Deus, mas na medida em que o seu nascimento está ainda em vias de realização, ele contempla Deus.
  4. É por isso que a beatitude do espírito ocorre quando ele nasce, e não quando o seu nascimento se completa, porque ele vive onde vive o Pai, quer dizer na simplicidade e na nudez do ser.
  5. Afasta-te portanto de todas as coisas, e agarra-te puramente ao Ser, porque aquilo que é exterior ao Ser é acidente, e todos os acidentes colocam um «porquê». 1
  6. Que Deus nos ajude, para que nós vivamos na eternidade. Amém. 2

Notas
  1. O último parágrafo do sermão trata da questão frequentemente discutida entre os «mestres»: a beatitude reside no conhecimento ou no amor?

    Geralmente perentório, a palavra de Mestre Eckhart hesita aqui: Sim e não.

    Quando o nascimento acontece, a visão e a contemplação podem ainda subsistir, mas quando o espírito nasce, ele está lá onde está o Pai, quer dizer na simplicidade da nudez do Ser.

    A beatitude eterna não é então imediatamente adquirida quando a alma se reúne com Deus?

    Comporta ela vários graus: um nascimento na eternidade que acontece e um nascimento perfeito?

    É possível que esta dualidade se explique pela coexistência de dois temas: o tema do nascimento do Filho na alma, e o tema da penetração na Divindade. [  ]
  2. Esta tradução foi realizada a partir da tradução francesa de Jeanne Ancelet-Hustache, «Maitre Eckhart - Sermons 31-59 - Tome II», Éditions du Seuil, Paris, 1978, p. 54-59. [  ]


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