Mestre Eckhart – O justo vive na eternidade 8


  1. Por vezes, uma luz manifesta-se na alma, e a pessoa imagina que é o Filho, e no entanto não passa de uma luz.
  2. Porque, onde o Filho se manifesta na alma, o amor do Espírito Santo manifesta-se também.
  3. É por isso que eu digo: a natureza do Pai é a de gerar o Filho, e a natureza do Filho é a de que eu nasça n'Ele e segundo Ele; a natureza do Espírito Santo é a de que eu seja consumido n'Ele, e totalmente fundido com Ele, e que eu me torne totalmente amor.
  4. Aquele que está assim no amor, e totalmente amor, imagina que Deus não ama mais ninguém a não ser ele próprio, e que Ele não conhece outra pessoa, para além dele próprio, que ame e seja amado. 1

Notas
  1. Ficamos retidos por aquilo que se segue: «Por vezes, uma luz manifesta-se na alma, e a pessoa imagina que é o Filho, e no entanto não passa de uma luz.»

    O que é essa luz ?

    Sem dúvida, uma espécie de certeza interior e completamente subjetiva, aquilo a que alguns chamaram "mística natural", como a da pessoa "arrebatada" em face de certos espetáculos da natureza, ou certas obras de arte.

    Ou ainda de outros fenómenos psíquicos voluntariamente associados à luz ou ao fogo.

    Mestre Eckhart prossegue: «Porque, onde o Filho se manifesta na alma, o amor do Espírito Santo manifesta-se também. É por isso que eu digo: a natureza do Pai é a de gerar o Filho, e a natureza do Filho é a de que eu nasça n'Ele e segundo Ele; a natureza do Espírito Santo é a de que eu seja consumido n'Ele, e totalmente fundido com Ele, e que eu me torne totalmente amor.»

    É difícil acreditar que tais palavras sejam a simples exposição de uma doutrina, ou o eco de confidências devotas.

    Parece que a discrição de Mestre Eckhart deixou-se desta vez surpreender pelo seu fervor. « Aquele que está assim no amor, e totalmente amor, imagina que Deus não ama mais ninguém a não ser ele próprio, e que Ele não conhece outra pessoa, para além dele próprio, que ame e seja amado.»

    Assim se distingue o misticismo autenticamente cristão. A luz interior não é suficiente: ela acompanha-se pelo amor. É o face a face de Deus e da alma.

    Mestre Eckhart junta-se aqui a Santo Agostinho nos Solilóquios: «Conhecer Deus e a alma, eis tudo o que eu desejo - E nada mais? - Não, nada mais.» [  ]


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