Mestre Eckhart – O justo vive na eternidade 1


Sermão 39 - O justo vive na eternidade
  1. Hoje lê-se uma pequena frase na epístola onde o Sábio diz: «O justo vive na eternidade.» (Sb 5, 19) 1
  2. Eu disse por vezes o que é uma pessoa justa, mas agora eu digo outra coisa, num outro sentido: é justa uma pessoa que é formada e transformada na Justiça. 2
  3. O justo vive em Deus e Deus nele, porque Deus nasce na justiça, e o justo em Deus.
  4. Deus nasce em cada virtude do justo e rejubila com cada virtude do justo, e não apenas com cada virtude, mas com cada obra do justo, tão pequena quanto seja, operada pelo justo na Justiça.
  5. Deus rejubila, fica mesmo cheio de alegria, porque nada reside no seu fundo que não trepide de alegria.
  6. As gentes frustes devem acreditar nisto, as gentes esclarecidas devem saber isto. 3

Notas
  1. O texto deste sermão era lido na epístola do Comum de vários mártires, mais especialmente na festa de certos santos da Ordem Dominicana. [  ]
  2. O sermão ao qual, desde o início deste sermão, Mestre Eckhart faz alusão é muito provavelmente aquele que ele pronunciou sobre um texto idêntico: 6, Os justos viverão para sempre, é tanto mais provável porque o desenvolvimento não é o mesmo aqui e lá: «Eu disse por vezes o que é uma pessoa justa, mas agora eu digo outra coisa.» [  ]
  3. O tema que lhe vai servir de base é, pode-se dizer, ainda mais eckhartiano que no outro sermão.

    Nós lemos já por diversas vezes, particularmente no Livro da Consolação Divina, uma doutrina completamente semelhante: «A pessoa boa e a Bondade não são mais do que uma única bondade, absolutamente uma, com a diferença de que uma gera e de que a outra é gerada. Tudo o que pertence à pessoa boa, ela recebe-o da Bondade, na Bondade... Ora tudo o que eu disse da pessoa boa e da Bondade é igualmente verdadeiro... para o justo e para a Justiça...»

    Ele diz-nos aqui: «...é uma pessoa justa aquela que é formada e transformada na Justiça... O justo vive em Deus e Deus nele.»

    Nós leremos mais adiante: «...toda a virtude do justo e cada obra operada pela virtude do justo não é nada mais do que o gerar do Filho pelo Pai».

    Mais explicitamente ainda que num sermão breve como este, Eckhart expôs esta mesma doutrina no seu Comentário latino do Livro da Sabedoria: as perfeições espirituais, a sabedoria, a justiça e outras, têm no ser humano uma causa exterior a ele.

    Será mesmo essa uma das acusações principais no primeiro processo de Colónia. [  ]


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