Mestre Eckhart – O justo vive na eternidade 1
Sermão 39 - O justo vive na eternidade
- Hoje lê-se uma pequena frase na epístola onde o Sábio diz: «O justo vive na eternidade.» (Sb 5, 19) 1
- Eu disse por vezes o que é uma pessoa justa, mas agora eu digo outra coisa, num outro sentido: é justa uma pessoa que é formada e transformada na Justiça. 2
- O justo vive em Deus e Deus nele, porque Deus nasce na justiça, e o justo em Deus.
- Deus nasce em cada virtude do justo e rejubila com cada virtude do justo, e não apenas com cada virtude, mas com cada obra do justo, tão pequena quanto seja, operada pelo justo na Justiça.
- Deus rejubila, fica mesmo cheio de alegria, porque nada reside no seu fundo que não trepide de alegria.
- As gentes frustes devem acreditar nisto, as gentes esclarecidas devem saber isto. 3
Notas
- O texto deste sermão era lido na epístola do Comum de vários mártires, mais especialmente na festa de certos santos da Ordem Dominicana. [ ↑ ]
- O sermão ao qual, desde o início deste sermão, Mestre Eckhart faz alusão é muito provavelmente aquele que ele pronunciou sobre um texto idêntico: 6, Os justos viverão para sempre, é tanto mais provável porque o desenvolvimento não é o mesmo aqui e lá: «Eu disse por vezes o que é uma pessoa justa, mas agora eu digo outra coisa.» [ ↑ ]
- O tema que lhe vai servir de base é, pode-se dizer, ainda mais eckhartiano que no outro sermão.
Nós lemos já por diversas vezes, particularmente no Livro da Consolação Divina, uma doutrina completamente semelhante: «A pessoa boa e a Bondade não são mais do que uma única bondade, absolutamente uma, com a diferença de que uma gera e de que a outra é gerada. Tudo o que pertence à pessoa boa, ela recebe-o da Bondade, na Bondade... Ora tudo o que eu disse da pessoa boa e da Bondade é igualmente verdadeiro... para o justo e para a Justiça...»
Ele diz-nos aqui: «...é uma pessoa justa aquela que é formada e transformada na Justiça... O justo vive em Deus e Deus nele.»
Nós leremos mais adiante: «...toda a virtude do justo e cada obra operada pela virtude do justo não é nada mais do que o gerar do Filho pelo Pai».
Mais explicitamente ainda que num sermão breve como este, Eckhart expôs esta mesma doutrina no seu Comentário latino do Livro da Sabedoria: as perfeições espirituais, a sabedoria, a justiça e outras, têm no ser humano uma causa exterior a ele.
Será mesmo essa uma das acusações principais no primeiro processo de Colónia. [ ↑ ]
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