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A mostrar mensagens de agosto, 2011

Mestre Eckhart – Jovem, digo-te: Levanta-te!

Há na alma «qualquer coisa» onde Deus vive, e onde a alma vive em Deus Onde terminam o conhecimento e o desejo, são as trevas, e lá brilha Deus A minha alma é tão jovem quanto quando ela foi criada A alma tem duas potências que não têm nada a ver com o corpo: o intelecto e a vontade O ser humano devia aderir tão fielmente a Deus que nada o pudesse rejubilar ou entristecer Deus quer Ele próprio operar essa obra, a pessoa só tem que seguir e não resistir Início » Espiritualidade » Mestre Eckhart » Jovem, digo-te: Levanta-te!

Mestre Eckhart – Jovem, digo-te: Levanta-te! 1

Sermão 42 - Jovem, digo-te: Levanta-te! Lê-se no evangelho que o senhor São Lucas fala de um jovem que estava morto. Então Nosso Senhor passou, aproximou-se, teve pena dele, tocou-o e disse: «Jovem, digo-te e ordeno-te: Levanta-te!» (Lc 7, 12). Ora saibam: em todas as pessoa boas, Deus está totalmente, e há na alma qualquer coisa onde Deus vive; há uma «qualquer coisa» na alma onde a alma vive em Deus. Mas quando a alma se volta para as coisas exteriores, ela morre, e Deus morre também para a alma; Ele não morre no entanto n'Ele próprio, e Ele vive n'Ele próprio. Quando a alma se separa do corpo, o corpo fica morto mas a alma vive; também, Deus morre para a alma, mas vive para Ele próprio. Ora saibam: há na alma uma potência mais vasta que o céu que é inacreditavelmente vasto, tão vasto que não pode verdadeiramente ser expresso, mas essa própria potência é ainda mais vasta. 1 Notas Desde as primeiras linhas do sermão, é questão de «qualquer coisa» na alma on

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Pois bem! apliquem nisto a vossa atenção! Nessa nobre potência, o Pai celeste diz ao seu Filho único: «Jovem, levanta-te!» A união de Deus à alma é tão grande que é incrível, e Deus é tão elevado n'Ele próprio que nenhum conhecimento, nem nenhum desejo, podem chegar até lá. O desejo vai mais longe do que tudo o que se pode abarcar com o conhecimento. É mais vasto que todos os céus, mesmo que todos os anjos, e no entanto tudo o que existe sobre a terra vive graças a uma centelha do anjo. O desejo é vasto, imensamente vasto. No entanto, tudo o que pode abarcar o conhecimento, e tudo o que pode desejar o desejo, não é Deus. Lá onde terminam o conhecimento e o desejo, são as trevas, e lá brilha Deus. 1 Notas Essa nobre potência é por onde Deus comunica com o ser humano, e se comunica ao ser humano. Através dela, Ele fala à alma chamada aqui o «Filho único». Assim a união entre Deus e a alma revive: «Jovem: levanta-te!» Essa união é tão grande que o conhecime

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Ora Nosso Senhor diz: «Jovem, digo-te, levanta-te!» Pois bem! para que eu me aperceba em mim do «dizer» de Deus, é preciso que eu seja completamente estrangeiro a tudo o que é meu, assim como me é estrangeiro aquilo que está do outro lado do mar, mas particularmente o que está no tempo. Nela própria, a alma é tão jovem como quando ela foi criada, e a velhice que lhe aparece é devida ao corpo pelo qual ela move os sentidos. Um mestre diz: «Se uma pessoa velha tivesse os olhos de um jovem, ela veria tão bem como o jovem.» Eu estive ontem num lugar onde pronunciei uma frase que parece verdadeiramente incrível; eu digo: Jerusalém está tão próxima da minha alma quanto o lugar onde eu estou agora. Sim, em toda a verdade, o que está a mais de mil léguas mais distante do que Jerusalém está tão próximo da minha alma quanto o meu próprio corpo; eu estou tão certo disso como estou certo de ser um homem, e é fácil de compreender pelos clérigos intuídos. Saibam: a minha alma é tão jov

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Existe na alma uma potência pela qual todas as coisas são igualmente deleitosas: sim, a pior e a melhor são para essa potência absolutamente iguais, ela apreende todas as coisas acima de «aqui» e de «agora». «Agora» é o tempo, «aqui» é o lugar - o lugar onde eu me encontro agora. Se portanto eu tivesse saído de mim próprio e absolutamente desprendido, pois bem! o Pai geraria o seu Filho único no meu espírito tão puramente quanto o espírito o geraria por sua vez. Sim, em toda a verdade, se a minha alma estivesse tão pronta como a alma de Nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai operaria tão puramente em mim quanto no seu Filho único e não menos, porque Ele me ama com o mesmo amor com o qual Ele se ama a Ele próprio. São João diz: «No princípio estava o Verbo, e o Verbo estava ao pé de Deus e Deus era o Verbo.» Pois bem! aquele que quer compreender esta frase no Pai - onde reina um grande silêncio - esse deve ser muito silencioso e desprendido de todas as imagens e mesmo de todas as

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A alma tem duas potências que não têm nada a ver com o corpo: o intelecto e a vontade; elas operam acima do tempo. Ah! se os olhos da alma estivessem portanto abertos para que o conhecimento contemple claramente a verdade! Saibam: para uma tal pessoa, seria tão fácil deixar todas as coisas como uma ervilha, ou uma lentilha, ou um pequeno nada. Sim, pela minha alma, todas as coisas seriam para essa pessoa tanto quanto nada. Ora, certas gentes deixam todas as coisas por amor, elas consideram que são coisas muito grandes aquelas que elas deixaram. Mas aquele que reconhece que na verdade, mesmo ter renunciado a si próprio e a todas as coisas não é ainda absolutamente nada, pois bem! àquele que vive assim, todas as coisas pertencem na verdade. 1 Notas Eckhart fala agora de «duas potências da alma»: o intelecto e a vontade. O emprego no mesmo sermão da palavra «potência», por um lado para a «qualquer coisa» na alma, por outro lado para o intelecto e a vontade designada

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Ora ele diz: «Jovem, eu digo-te, levanta-te!» Ele quer Ele próprio operar a obra. Aquele que me ordenasse para levar uma única pedra poderia bem me ordenar para levar mil pedras, em vez de uma só, se ele se quisesse encarregar disso ele próprio. Ou se alguém me ordenasse para levar um quintal, ele poderia ordenar-me que levasse mil, tanto quanto um, se ele o quisesse fazer ele próprio. Pois bem! Deus quer Ele próprio operar essa obra, a pessoa só tem que seguir e não resistir. Ah! e se a alma apenas vivesse dentro, ela teria presentes todas as coisas. Existe uma potência na alma, e não apenas uma potência, um ser, e não apenas um ser, mas que separa do ser; é tão puro, e tão elevado, e tão nobre em si próprio que nenhuma criatura aí pode penetrar, mas Deus apenas aí reside. Sim, em toda a verdade, Deus ele próprio não pode aí penetrar devido a que ele tem um modo, nem devido a que ele é sábio, nem devido a que ele é bom, nem devido a que ele é rico. Sim, Deus não pod

Mestre Eckhart – Deus ama aqueles que perseguem a justiça 1

Sermão 41 - Deus ama aqueles que perseguem a justiça Tomei uma frase pequena da epístola que se lê hoje sobre dois santos, assim como uma frase do Evangelho. O rei Salomão diz hoje na epístola: «Deus ama aqueles que perseguem a justiça» (Pr 15, 9). O senhor São Mateus pronuncia uma outra frase: «Felizes os pobres e aqueles que têm fome e sede de justiça» e «que perseguem» (Mt 5, 6). 1 Notas Os dois textos escolhidos para este longo sermão são retirados um da epístola, o outro do evangelho para a festa de São Cosme e Damião, mártires, inscritos no antigo missal dominicano na data de 27 de Setembro. A palavra «justiça» que se encontra num e no outro, será um dos temas do desenvolvimento. Ela será colocada em relação primeiro com Deus como sabedoria e como amor, depois com o «sem porquê» tão caro a Eckhart. [  ↑  ] [ ◊ ] [ Índice ] [ Seguinte ] Início » Espiritualidade » Mestre Eckhart » Deus ama aqueles que perseguem a justiça 1

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Notem esta frase: «Deus ama.» Seria para mim um grande favor, e um muito grande, se, como eu disse frequentemente, nós quiséssemos desejar que Deus me ame. O que é que Deus ama? Deus só se ama a si próprio, assim como a tudo aquilo que se assemelha a Ele, desde que Ele o encontre em mim, e eu n'Ele. No Livro da Sabedoria está escrito: «Deus só ama aquele que está estabelecido na Sabedoria.» A Escritura contém também uma outra frase ainda melhor: «Deus ama aqueles que perseguem a justiça», «na Sabedoria». Os mestres estão todos de acordo: A Sabedoria de Deus é o seu Filho único. Este texto diz: «aqueles que perseguem a justiça», «na Sabedoria», quer dizer aqueles que o perseguem, a Ele, Ele os ama, porque Ele não ama nada em nós a não ser aquilo que de nós se encontra n'Ele. Existe uma grande diferença entre o amor de Deus e o nosso amor. Nós amamos apenas na medida em que nós encontramos Deus naquilo que nós amamos. E mesmo se eu tivesse jurado o contrári

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São Paulo diz: «Nós somos transferidos no amor.» Notemos esta frase: «Deus ama». Que maravilha! O que é o amor de Deus? A sua natureza e o seu ser: tal é o seu amor. Aquele que privasse Deus de nos amar, privá-lo-ia do seu ser e da sua Divindade. O seu ser depende de que Ele me ame, e é assim que emana o Espírito Santo. Benção divina! Que maravilha está aqui! Se Deus me ama com toda a sua natureza - visto que ela depende disso -, Deus ama-me tal como se o seu devir e o seu ser estivesse ligados a isso. Deus só tem um amor: com o mesmo amor que o Pai ama o seu Filho único, ele me ama a mim. 1 Notas Segue-se um texto que parece ser de uma grande aridez, insere-se no entanto não apenas na doutrina eckhartiana, mas também na fé revelada. Se portanto, por um suposição insólita, Deus fosse privado de nos amar, Ele seria privado do seu ser e da sua Divindade. «O que é o amor de Deus? A sua natureza e o seu ser: tal é o seu amor.» O pregador completará mais adiante

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Agora, um outro sentido. Prestem bem atenção a esta interpretação. Ela está completamente de acordo com a Escritura, se estivermos prontos para a abrir, para a desselar. É dito: «que perseguem a justiça», «na Sabedoria». O ser humano justo tem de tal forma necessidade de justiça que não pode amar nada mais que a justiça. Como eu disse frequentemente: se Deus não fosse justo, ele não prestaria atenção a Deus. A sabedoria e a justiça fazem um com Deus, e lá, amar a sabedoria e amar a justiça, são a mesma coisa, e se o diabo fosse justo, ele a amaria na medida em que ele fosse justo, e nem mais a espessura de um cabelo. O ser humano justo não ama em Deus nem isto nem aquilo, e se Deus lhe desse toda a sua sabedoria e tudo aquilo que Ele lhe pode oferecer, exceto a Ele próprio, ele não prestaria atenção a essas coisas, e não encontraria nelas sabor, porque ele não quer nada e não procura nada, porque tudo aquilo que ele faz ele age «sem porquê», da mesma forma que Deus age «

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Ora notem esta pequena frase que ele pronuncia: «Eles têm fome e sede da justiça.» O Senhor diz: «Aqueles que me comerem terão ainda mais fome, aqueles que me beberem terão ainda mais sede.» Como devemos compreender isto? Porque não é assim para as coisas corporais: quanto mais comemos, mais ficamos saciados, mas nas coisas espirituais, não há saciedade: quanto mais possuímos, mais temos desejo. Daí esta frase: «Eles ficarão ainda mais sedentos, aqueles que me bebem, mais esfomeados, aqueles que me comem.» Esses, têm de tal forma fome da vontade de Deus, e ela tem para eles um tal sabor, que tudo o que Deus lhes impões lhes é tão agradável, e os satisfaz tanto, que eles não poderiam querer nem desejar outra coisa. Enquanto o ser humano tem fome, as comidas têm gosto para ele, e quanto maior é a sua fome, mais ele tem satisfação no comer. É assim para aqueles que têm fome da vontade de Deus; a sua vontade tem um tal sabor para eles, e tudo o que Deus quer, e que Ele lhes

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Ora vocês queriam dizer: «Como é que eu posso saber se é a vontade de Deus?» Eu digo: se um único instante não fosse a vontade de Deus, isso não seria; é preciso que seja sempre a sua vontade. Se portanto a vontade de Deus te conviesse, tu serias absolutamente como no reino dos céus, o que quer que te aconteça ou não te aconteça; e está bem feito para aqueles que desejam outra coisa que não seja a vontade de Deus, porque eles estão sem cessar nos gemidos e na infelicidade, fazem-lhes constantemente violência e mal, e eles sofrem sem descanso. E é muito conveniente que seja assim, porque eles fazem exatamente como se eles vendessem Deus, assim como Judas o vendeu. Eles amam Deus por qualquer outra coisa que Deus não é. E se então eles obtêm aquilo que eles amam, eles não se preocupam mais com Deus. Quer seja devoção, ou alegria, ou o que quer que seja que te agrada, nada de tudo o que é criado é Deus. A Escritura diz: «O mundo é feito por Ele, e aquilo que Ele fez não o

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Eis como o Filho nasce em nós: quando nós estamos «sem porquê», e quando nós somos em retorno gerados no Filho. Orígenes escreve uma frase muito nobre, e se fosse eu que a pronunciasse, ela vos pareceria incrível: «Não somente nós somos gerados no Filho, mas nós nascemos a partir d'Ele, e nós nascemos de regresso a Ele, nós renascemos, e isto diretamente no Filho. Eu digo - e é verdade - em cada pensamento bom, ou intenção boa, ou obra boa, nós nascemos constantemente de novo em Deus». É por isso que, como eu disse recentemente: o Pai só tem um Filho único, e quanto menos nós temos pensamento ou atenção para o que quer que seja para além de Deus, e menos nós olhamos para o exterior, tanto mais nós somos transformados no Filho, tanto mais o Filho nasce em nós, e nós nascemos no Filho, e nós somos um único Filho. Nosso Senhor Jesus Cristo é um Filho único do Pai, e só Ele é homem e Deus. Só há portanto um Filho em um ser, e é o ser divino. Assim nós nos tornamos um n'

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Deus certamente distribuiu satisfação e alegria nas criaturas, mas a raiz de toda a satisfação e a substância de toda a alegria, Deus guarda-a n'Ele próprio. Eis uma comparação: o fogo comunica bem a sua raiz na água com o calor, porque quando se tira o fogo, o calor fica durante um bom tempo na água, e também na madeira; depois da presença do fogo, o calor fica tanto mais tempo quanto o fogo foi mais forte. Mas o sol irradia no ar e penetra-o com a sua luz, ele não lhe comunica no entanto a sua raiz, porque quando o sol não está mais presente, nós também não temos mais luz. É assim que Deus se comporta com as criaturas: Ele comunica o reflexo da sua satisfação às criaturas, mas a raiz de toda a satisfação Ele guarda-a apenas para Ele próprio, porque Ele quer que nós só pertençamos a Ele e a mais ninguém. Deus prepara-se e oferece-se assim à alma, e aplicou-se com toda a sua Divindade a tornar-se agradável à alma, porque Deus quer ser apenas Ele a agradar à alma, e Ele nã

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Ora certas pessoas imaginam que elas são muito santas e muito perfeitas, dispersam-se em grandes coisas e em grandes palavras, procuram e desejam no entanto muito, querem também possuir muito, preocupam-se muito com elas próprias, e com isto e com aquilo, elas pretendem aplicar-se à devoção, e elas não conseguem suportar qualquer repreensão. Tenham a certeza, na verdade, que elas estão longe de Deus, e excluídas dessa união. O profeta diz: «Eu dispersei a minha alma em mim.» Santo Agostinho exprime-se melhor quando diz: «Eu dispersei a minha alma por cima de mim.» É necessário que ela se eleve acima dela própria, se ela quer tornar-se «um» no Filho, e quanto mais ela sai dela própria, mais ela se torna «um» com o Filho. São Paulo diz: «Nós seremos transformados nessa mesma imagem que Ele é.» [ Anterior ] [ Índice ] [ Seguinte ] Início » Espiritualidade » Mestre Eckhart » Deus ama aqueles que perseguem a justiça 9

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Um texto diz: a virtude nunca é uma virtude a menos que ela venha de Deus, ou por Deus, ou em Deus; uma destas três coisas é sempre necessária. Se fosse de outra forma, não seria uma virtude, porque aquilo para onde se tende, se não tem relação com Deus, é muito pouca coisa. A virtude é Deus, ou diretamente em Deus. Mas aquilo que é melhor, eu não vos quero falar disso agora. Ou vocês poderiam dizer: «Diga, Mestre, o que é? Como poderíamos nós estar diretamente em Deus, por forma a que nós não teríamos outro pensamento e outra procura a não ser Deus? e como é que nós deveríamos ser suficientemente pobres ao ponto de deixar todas as coisas? É verdadeiramente um discurso difícil: nós não deveríamos desejar recompensa? - Tenham a certeza de que Deus não negligencia o dar-nos tudo, e mesmo se Ele tivesse jurado o contrário, Ele não se poderia impedir de dar-nos tudo. É muito mais necessário para Ele o dar-nos a nós, que a nós o receber, mas nós não devemos visar a isso, porque

Mestre Eckhart – Deus ama aqueles que perseguem a justiça

Felizes os pobres e aqueles que têm fome e sede de justiça Deus só ama aquele que está estabelecido na Sabedoria Nós somos transferidos no amor Deus e o justo têm a mesma forma de agir: «sem porquê» Eles têm fome e sede da justiça Não prestar atenção a nada ao mesmo tempo que a Deus Eis como o Filho nasce em nós: quando nós estamos «sem porquê» Deus não tolera limite; nem quer que se preste atenção a outra coisa que não seja Ele Nós seremos transformados nessa mesma imagem que Ele é A virtude é Deus, ou diretamente em Deus Deus está pronto para dar grandes coisas Início » Espiritualidade » Mestre Eckhart » Deus ama aqueles que perseguem a justiça

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Eu tenho por vezes costume, quando devo rezar, de pronunciar estas poucas palavras: «Senhor, é tão pouco, aquilo que nós te pedimos. Se alguém mo pedisse, eu conceder-lhe-ia, e isso é para ti cem vezes mais fácil que para mim, e tu também o fazes com melhor boa vontade. E se nós te pedimos qualquer coisa de mais importante, seria para ti fácil de o dar, e quanto mais é importante, mais tu o dás de boa vontade.» Porque Deus está pronto para dar grandes coisas, se nós pudéssemos deixar todas as coisas na justiça. 1 Que Deus nos ajude afim de que nós possamos assim «perseguir a justiça», «na sabedoria», que nós tenhamos fome e sede dela afim de sermos saciados. Amém. 2 Notas E eis que no fim do sermão, ele faz uma confidência que parece colocá-lo em plena contradição com o seu propósito precedente. Ele, que nos interdita de pedir, confessa que reza por vezes assim: «Senhor, é tão pouco, aquilo que nós te pedimos. Se alguém mo pedisse, eu conceder-lhe-ia, e isso é para ti c

Mestre Eckhart – Permaneçam em mim!

Três das exigências essenciais de Mestre Eckhart Apreender a sua beatitude na pureza onde Deus Ele próprio a apreende Deus nasce em todo o tempo no ser humano O ser humano nasce em todo o tempo em Deus O Filho é a Sabedoria que nasce eternamente Em vez de considerar as coisas como objetos, compreendê-las como «ideias» no pensamento de Deus Início » Espiritualidade » Mestre Eckhart » Permaneçam em mim!

Mestre Eckhart – Permaneçam em mim! 1

Sermão 40 - Permaneçam em mim! Nosso Senhor Jesus Cristo diz no Evangelho: «Permaneçam em mim!» (Jo 15, 4) e uma outra fase da epístola diz: «Feliz é o homem que está estabelecido na Sabedoria.» (Eclo 14, 22). E estas duas frases estão de acordo, a frase de Cristo: «Permaneçam em mim!» e a frase da epístola: «Feliz é o homem que está estabelecido na Sabedoria.» 1 Ora prestem atenção ao que o ser humano deve ter para estar estabelecido n'Ele, quer dizer em Deus. Ele deve possuir três coisas. A primeira é que ele se tenha renunciado a si próprio, e que ele tenha renunciado a todas as coisas, que ele não esteja mais agarrado ao que quer que seja que toque nos sentidos do exterior, e que ele não permaneça em nenhuma criatura que esteja no tempo ou na eternidade. A segunda coisa é que ele não ame nem este bem aqui nem aquele bem acolá, mas que ele ame o Bem de onde fluem todos os bens, porque nenhuma coisa é agradável ou desagradável senão na medida em que Deus está nela

Mestre Eckhart – Permaneçam em mim! 2

Aquele que permanece assim n'Ele possui cinco coisas. A primeira , é que não há mais, entre ele e Deus, distinção, mas eles são um. Existem muitos anjos «sem número»; eles não transcendem a multiplicidade. Porque devido à grande simplicidade deles, eles são sem número. As três Pessoas em Deus são três «sem número», no entanto elas formam uma pluralidade. Mas entre um tal ser humano e Deus não apenas não existe distinção, também não existe pluralidade, só lá existe «um». A segunda coisa, é que esse ser humano apreende a sua beatitude na pureza onde Deus Ele próprio a apreende, e onde ele se fixa. 1 Notas Depois de ter enumerado as condições necessárias, o pregador indica todos os benefícios espirituais obtidos por aquele que preenche essas condições. [  ↑  ] [ Anterior ] [ Índice ] [ Seguinte ] Início » Espiritualidade » Mestre Eckhart » Permaneçam em mim! 2

Mestre Eckhart – Permaneçam em mim! 3

A terceira coisa, é que esse ser humano tem uma única ciência com a ciência de Deus, e uma única operação com a operação de Deus, e um único conhecimento com o conhecimento de Deus. 1 A quarta coisa, é que Deus nasce em todo o tempo num tal ser humano. Como é que Deus nasce em todo o tempo no ser humano? Tomem nota! Quando o ser humano desnuda e desprende a imagem divina que Deus naturalmente criou nele, a imagem de Deus manifesta-se nele. Pelo nascimento, a revelação de Deus faz-se conhecer, porque se é dito que o Filho nasceu do Pai, é porque o Pai lhe revelou paternalmente o seu mistério. E é por isso que quanto mais o ser humano desnuda e torna clara em si a imagem de Deus, mais claro é nele o nascimento de Deus. É preciso compreender assim o nascimento de Deus em todo o tempo: o Pai desnuda e desprende a imagem, e brilha nela. 2 Notas Esse, não faz mais que um com Deus. É uma única e mesma beatitude que preenche Deus e o ser humano. Ele participa no saber,

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A quinta coisa, é que o ser humano nasce em todo o tempo em Deus. Como é que o ser humano nasce em todo o tempo em Deus? Tomem nota! Pelo desprender da imagem (de Deus) dentro do ser humano, o ser humano torna-se semelhante a Deus, porque, pela imagem, o ser humano é semelhante à imagem que é Deus, aquela que Deus é segundo a pureza da Sua essência. E quanto mais o ser humano é desprendido, mais ele é semelhante a Deus, e quanto mais ele se torna semelhante a Deus, mais ele está unido a Ele. É preciso portanto entender assim o nascimento perpétuo do ser humano em Deus: o ser humano com a sua imagem brilha na imagem que é Deus, aquela que Deus é segundo a pureza da sua essência, e com a qual o ser humano é um. É preciso portanto entender a unidade do ser humano e de Deus segundo a semelhança da imagem, porque o ser humano é semelhante a Deus segundo a imagem. É por isso que, quando se diz que o ser humano é um com Deus, e que em consequência dessa unidade ele é Deus, ent

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Ora notem o fruto que o ser humano produz quando ele está lá. Quando ele é um com Ele, esse fruto consiste em ele produzir com Ele todas as criaturas e que, segundo a medida da sua união, ele leva a felicidade a todas as criaturas. A outra frase, a da epístola, diz: «Feliz é o homem que está estabelecido na Sabedoria.» Quando ele diz «a Sabedoria», Sabedoria é um nome materno, porque um nome materno designa a propriedade de sofrer; em Deus estão a operação e o sofrimento, porque o Pai é operante e o Filho é sofredor; é assim devido à propriedade de nascimento. Eis porque o Filho é a Sabedoria que nasce eternamente, no qual todas as coisas estão incluídas na sua distinção, eis porque ele diz: «Feliz é o homem que está estabelecido na Sabedoria.» 1 Notas Eckhart passa agora ao seu segundo texto: «Feliz é o homem que está estabelecido na Sabedoria.» A Sabedoria é feminina. Como toda a tradição identifica o Filho à Sabedoria eterna, é normal que o pregador dê aqui um n

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Ora ele diz: «Feliz é o homem». Eu disse-o frequentemente: na alma estão duas potências: uma é o homem, a outra é a mulher. Ora ele diz: «Feliz é o homem». A potência, que está na alma e que se chama homem, é a potência superior da alma na qual Deus brilha na Sua nudez, porque nessa potência não penetra nada mais do que Deus, e essa potência está em todo o tempo em Deus. 1 Se portanto o ser humano apreendesse todas as coisas nessa potência, ele não as apreenderia enquanto elas são coisas, ele as apreenderia enquanto elas estão em Deus. É por isso que o ser humano deveria em todo o tempo estar estabelecido nessa potência, porque nessa potência, todas as coisas são iguais. Se portanto o ser humano estivesse estabelecido igualmente em todas as coisas, e as considerasse segundo que elas são todas iguais em Deus, o ser humano possuiria aí todas as coisas; um tal ser humano tiraria de todas as coisas aquilo que elas têm de mais grosseiro, e as apreenderia segundo elas são agradáve

Mestre Eckhart – O justo vive na eternidade

Deus nasce em cada virtude do justo O justo não procura nada nas suas obras Aquele que está na Justiça, está em Deus, e é Deus Todas as virtudes do justo são a geração do Filho pelo Pai Dentro do justo nada deve agir senão apenas Deus O ser humano, elevado acima do tempo na eternidade, opera uma única obra com Deus O Pai pressiona e persegue, afim de que nós nasçamos no Filho, e nos tornemos naquilo que é o Filho Onde o Filho se manifesta na alma, o amor do Espírito Santo manifesta-se também Afasta-te de todas as coisas, e agarra-te puramente ao Ser Início » Espiritualidade » Mestre Eckhart » O justo vive na eternidade

Mestre Eckhart – O justo vive na eternidade 1

Sermão 39 - O justo vive na eternidade Hoje lê-se uma pequena frase na epístola onde o Sábio diz: «O justo vive na eternidade.» (Sb 5, 19) 1 Eu disse por vezes o que é uma pessoa justa, mas agora eu digo outra coisa, num outro sentido: é justa uma pessoa que é formada e transformada na Justiça. 2 O justo vive em Deus e Deus nele, porque Deus nasce na justiça, e o justo em Deus. Deus nasce em cada virtude do justo e rejubila com cada virtude do justo, e não apenas com cada virtude, mas com cada obra do justo, tão pequena quanto seja, operada pelo justo na Justiça. Deus rejubila, fica mesmo cheio de alegria, porque nada reside no seu fundo que não trepide de alegria. As gentes frustes devem acreditar nisto, as gentes esclarecidas devem saber isto. 3 Notas O texto deste sermão era lido na epístola do Comum de vários mártires, mais especialmente na festa de certos santos da Ordem Dominicana. [  ↑  ] O sermão ao qual, desde o início deste sermão, Mestre Eckhart faz a

Mestre Eckhart – O justo vive na eternidade 2

O justo não procura nada nas suas obras. São servos e mercenários, aqueles que procuram alguma coisa nas suas obras, ou que agem com vista em algum «porquê». Se portanto tu queres ser formado e transformado na Justiça, não procures nas tuas obras e não vises a nenhum «porquê», nem no tempo nem na eternidade, nem recompensa, nem beatitude, nem isto nem aquilo, porque tais obras estão todas verdadeiramente mortas. Verdadeiramente, e se tu visas a imagem de Deus em ti, quaisquer que sejam as obras que tu empreendas com essa intenção, elas estão todas mortas e tu desbaratas as obras boas e não apenas desbaratas as obras boas, tu cometes também um pecado porque tu fazes exatamente como um jardineiro que, devendo plantar árvores num jardim, arrancasse as árvores e reclamasse em seguida um salário. Assim, tu desbaratas as obras boas. Assim portanto se tu queres viver e se tu queres que as tuas obras vivam, tu deves estar morto para todas as coisas e teres-te tornado nada. É própri

Mestre Eckhart – O justo vive na eternidade 3

Ora ele diz: «A sua recompensa está com o Senhor.» Eu falarei um pouco disto. Quando ele diz «com o», isso significa que a recompensa do justo está onde está o próprio Deus, porque a beatitude do justo e a beatitude de Deus são uma única beatitude, porque o justo é bem-aventurado lá onde Deus é bem-aventurado. São João diz: «O Verbo estava com Deus.» Ele diz «com», e é por isso que o justo está com Deus, porque Deus é a Justiça. 1 Por essa razão, aquele que está na Justiça, está em Deus, e é Deus. 2 Notas Ora, apesar da gratuidade do ato que o justo realiza, porque Deus age nele, Eckhart fala de «recompensa», termo bastante raro nele. O ser humano obtêm-na pelo facto mesmo de não a ter procurado. A recompensa do justo está no próprio Deus «porque a beatitude do justo e a beatitude de Deus são uma única beatitude, porque o justo é bem-aventurado» pela própria felicidade de Deus. [  ↑  ] «Aquele que está na Justiça, está em Deus, e é Deus.» Já há muito que Mestr

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Dentro do justo nada deve agir senão apenas Deus. Porque pelo facto de um motivo exterior te levar a agir, na verdade, essas obras são todas mortas, e se do exterior Deus te levasse a agir, na verdade, essas obras seriam todas mortas. Se as tuas obras devem viver, é preciso que Deus te impulsione interiormente no mais íntimo da alma para que elas vivam, porque apenas lá está a tua vida, e apenas lá tu vives. E eu digo: se uma virtude te parece superior a outra, e se tu a estimas mais do que a outra, tu não a amas tal qual ela é na Justiça, Deus ainda não age em ti. Porque todo o tempo que a pessoa estima ou ama mais uma virtude, ela não as ama e não as considera tais quais elas estão na Justiça, ela ainda não é justa, porque o justo considera e pratica todas as virtudes na Justiça, porque elas são a própria Justiça. [ Anterior ] [ Índice ] [ Seguinte ] Início » Espiritualidade » Mestre Eckhart » O justo vive na eternidade 5

Mestre Eckhart – O justo vive na eternidade 4

Falemos ainda um pouco da palavra «justo». Ele não diz «a pessoa justa», nem «o anjo justo», ele diz apenas «o justo». O Pai gera o seu Filho enquanto justo, e o justo enquanto seu Filho, porque todas as virtudes do justo, e cada obra operada pela virtude do justo não são nada mais que a geração do Filho pelo Pai, também o Pai nunca tem repouso, ele persegue e pressiona constantemente para que o seu Filho nasça em mim, como diz a Escritura: «Não é por causa de Sião que eu me calarei, nem por causa de Jerusalém que eu me repousarei, até que o justo se manifeste e brilhe como um relâmpago.» Sião significa «altura da vida» e Jerusalém «altura da paz». Na verdade, nem para a «altura da vida», nem para a «altura da paz», Deus se repousa alguma vez, ele persegue e pressiona constantemente para que o justo se manifeste. [ Anterior ] [ Índice ] [ Seguinte ] Início » Espiritualidade » Mestre Eckhart » O justo vive na eternidade 4

Mestre Eckhart – O justo vive na eternidade 6

A Escritura diz: «Antes do mundo criado, Eu sou.» Ele diz: «antes», «Eu sou». Quer dizer: quando o ser humano é elevado acima do tempo na eternidade, o ser humano opera uma única obra com Deus. Alguns perguntam: como é que o ser humano pode operar as obras que Deus operou há mil anos e operará dentro de mil anos, e eles não compreendem. Na eternidade não há antes nem depois. É por isso que os acontecimentos anteriores a mil anos, que terão lugar dentro de mil anos, e se produzem agora, só são um na eternidade. É por isso que aquilo que Deus criou há mil anos, e fará dentro de mil anos, e o que faz agora, são só uma obra. Por esta razão, o ser humano que está elevado acima do tempo na eternidade, opera com Deus aquilo que Deus fez há mil anos, e fará dentro de mil anos. E isto também, as gentes sábias devem saber, e as gentes frustes devem acreditar. [ Anterior ] [ Índice ] [ Seguinte ] Início » Espiritualidade » Mestre Eckhart » O justo vive na et

Mestre Eckhart – O justo vive na eternidade 7

São Paulo diz: «Nós somos eternamente eleitos no Filho.» É por isso que nós nunca nos devemos repousar antes de nos tornarmos naquilo que fomos eternamente n'Ele, porque o Pai pressiona e persegue, afim de que nós nasçamos no Filho, e nos tornemos naquilo que é o Filho. O Pai gera o seu Filho, e nessa geração, o Pai recolhe tanta quietude e alegria que aí consome toda a sua natureza. Porque tudo o que está no Pai o leva a gerar; sim, pelo seu fundo, pela sua natureza, pelo seu ser, o Pai é levado a gerar. [ Anterior ] [ Índice ] [ Seguinte ] Início » Espiritualidade » Mestre Eckhart » O justo vive na eternidade 7

Mestre Eckhart – O justo vive na eternidade 8

Por vezes, uma luz manifesta-se na alma, e a pessoa imagina que é o Filho, e no entanto não passa de uma luz. Porque, onde o Filho se manifesta na alma, o amor do Espírito Santo manifesta-se também. É por isso que eu digo: a natureza do Pai é a de gerar o Filho, e a natureza do Filho é a de que eu nasça n'Ele e segundo Ele; a natureza do Espírito Santo é a de que eu seja consumido n'Ele, e totalmente fundido com Ele, e que eu me torne totalmente amor. Aquele que está assim no amor, e totalmente amor, imagina que Deus não ama mais ninguém a não ser ele próprio, e que Ele não conhece outra pessoa, para além dele próprio, que ame e seja amado. 1 Notas Ficamos retidos por aquilo que se segue: «Por vezes, uma luz manifesta-se na alma, e a pessoa imagina que é o Filho, e no entanto não passa de uma luz.» O que é essa luz ? Sem dúvida, uma espécie de certeza interior e completamente subjetiva, aquilo a que alguns chamaram "mística natural", como a da pes

Mestre Eckhart – O justo vive na eternidade 9

Alguns mestres pretendem que o espírito bebe a sua beatitude no amor; outros pretendem que ele a bebe na contemplação de Deus, mas eu digo: ele não a bebe no amor, nem no conhecimento, nem na contemplação. Ora poderia-se dizer: o espírito não contempla então Deus na vida eterna? Sim e não. Na medida em que ele nasceu, ele não tem nem visão nem contemplação de Deus, mas na medida em que o seu nascimento está ainda em vias de realização, ele contempla Deus. É por isso que a beatitude do espírito ocorre quando ele nasce, e não quando o seu nascimento se completa, porque ele vive onde vive o Pai, quer dizer na simplicidade e na nudez do ser. Afasta-te portanto de todas as coisas, e agarra-te puramente ao Ser, porque aquilo que é exterior ao Ser é acidente, e todos os acidentes colocam um «porquê». 1 Que Deus nos ajude, para que nós vivamos na eternidade. Amém. 2 Notas O último parágrafo do sermão trata da questão frequentemente discutida entre os «mestres»: a beatitude