Mestre Eckhart – O meu homem, teu servo, está morto 5
- Falemos ainda num outro sentido dos «dois filhos» do intelecto.
- Um é a «possibilidade», o outro é a «atividade».
- Ora um mestre pagão diz: «Nessa potência passiva, a alma pode tornar-se espiritualmente todas as coisas.»
- Na potência ativa, ela assemelha-se ao Pai, e faz de todas as coisas um ser novo.
- Deus teria querido imprimir nela a natureza de todas as criaturas, mas ela não existia antes do mundo.
- Deus criou espiritualmente todo este mundo em cada anjo antes que este mundo tenho sido criado nele próprio. 1
- O anjo tem um conhecimento duplo.
- Um é uma luz matutina, o outro é uma luz vespertina.
- A luz matutina faz com que ele veja todas as coisas em Deus.
- A luz vespertina faz com que ele veja todas as coisas na sua luz natural.
- Se ele saísse para entrar dentro das coisas, seria a noite.
- Ele fica no interior, é por isso que esta luz se chama vespertina.
- Nós dizemos que os anjos rejubilam quando o homem realiza uma obra boa.
- Os mestres questionam se os anjos se entristecem quando o homem comete o pecado.
- Nós dizemos: não! porque eles contemplam a justiça de Deus e percebem aí todas as coisas em Deus, tais quais elas são em Deus.
- É por isso que eles não se podem entristecer.
- Ora o intelecto na potência passiva assemelha-se à luz natural dos anjos que é a luz vespertina.
- Com a potência ativa, ele leva ao alto todas as coisas em Deus, e ele é todas as coisas na luz matutina. 2
Notas
- Na interpretação que se segue, Eckhart explica-nos que dos dois filhos do intelecto, um é a «possibilidade», e o outro a «atividade».
O mestre pagão que ele não nomeia, é Aristóteles.
No seu sermão latino 4, ele empregou como Santo Tomás as expressões traduzidas do grego: «intellectus possibilis» e «intellectus agens» sobre os quais dá a definição.
Especulando arduamente sobre a intenção do Criador, ele pensa que Deus terá querido imprimir no intelecto a natureza de todas as criaturas, mas o homem ainda não existia, enquanto que os anjos já tinham sido criados.
Deus então criou espiritualmente o mundo em cada anjo antes que o mundo exista nele próprio.
Assim se explica, segundo Eckhart, que o intelecto, quer seja angélico quer seja humano, contenha em si os traços das ideias ou modelos de todas as coisas sobre a terra. [ ↑ ] - Reencontramos em seguida uma noção devida a Santo Agostinho sobre o conhecimento do anjo, matutino quando ele vê as coisas em Deus, vespertino quando ela as vê na luz natural.
Em relação bastante indireta com o que precede, Eckhart fala da alegria dos anjos quando o homem realiza o bem.
No sermão 6, Os justos viverão eternamente, ele tinha dado um verdadeiro grito de alegria ao pensar que o homem pode regozijar os santos e os anjos.
Ele exprime-se aqui mais sobriamente.
Mas o recíproco não existe: os anjos não se podem afligir quando o homem comete um mal porque eles contemplam tudo dentro da justiça de Deus.
Ele compara a potência «receptora» do intelecto à luz natural dos anjos, luz vespertina, enquanto que na potência «ativa», o intelecto assemelha-se ao Pai, como o pregador nos disse mais acima; ele faz de todas as coisas um ser novo «e ele é todas as coisas na luz matutina». [ ↑ ]
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