Mestre Eckhart – O meu homem, teu servo, está morto 5


  1. Falemos ainda num outro sentido dos «dois filhos» do intelecto.
  2. Um é a «possibilidade», o outro é a «atividade».
  3. Ora um mestre pagão diz: «Nessa potência passiva, a alma pode tornar-se espiritualmente todas as coisas.»
  4. Na potência ativa, ela assemelha-se ao Pai, e faz de todas as coisas um ser novo.
  5. Deus teria querido imprimir nela a natureza de todas as criaturas, mas ela não existia antes do mundo.
  6. Deus criou espiritualmente todo este mundo em cada anjo antes que este mundo tenho sido criado nele próprio. 1
  7. O anjo tem um conhecimento duplo.
  8. Um é uma luz matutina, o outro é uma luz vespertina.
  9. A luz matutina faz com que ele veja todas as coisas em Deus.
  10. A luz vespertina faz com que ele veja todas as coisas na sua luz natural.
  11. Se ele saísse para entrar dentro das coisas, seria a noite.
  12. Ele fica no interior, é por isso que esta luz se chama vespertina.
  13. Nós dizemos que os anjos rejubilam quando o homem realiza uma obra boa.
  14. Os mestres questionam se os anjos se entristecem quando o homem comete o pecado.
  15. Nós dizemos: não! porque eles contemplam a justiça de Deus e percebem aí todas as coisas em Deus, tais quais elas são em Deus.
  16. É por isso que eles não se podem entristecer.
  17. Ora o intelecto na potência passiva assemelha-se à luz natural dos anjos que é a luz vespertina.
  18. Com a potência ativa, ele leva ao alto todas as coisas em Deus, e ele é todas as coisas na luz matutina. 2

Notas
  1. Na interpretação que se segue, Eckhart explica-nos que dos dois filhos do intelecto, um é a «possibilidade», e o outro a «atividade».

    O mestre pagão que ele não nomeia, é Aristóteles.

    No seu sermão latino 4, ele empregou como Santo Tomás as expressões traduzidas do grego: «intellectus possibilis» e «intellectus agens» sobre os quais dá a definição.

    Especulando arduamente sobre a intenção do Criador, ele pensa que Deus terá querido imprimir no intelecto a natureza de todas as criaturas, mas o homem ainda não existia, enquanto que os anjos já tinham sido criados.

    Deus então criou espiritualmente o mundo em cada anjo antes que o mundo exista nele próprio.

    Assim se explica, segundo Eckhart, que o intelecto, quer seja angélico quer seja humano, contenha em si os traços das ideias ou modelos de todas as coisas sobre a terra. [  ]
  2. Reencontramos em seguida uma noção devida a Santo Agostinho sobre o conhecimento do anjo, matutino quando ele vê as coisas em Deus, vespertino quando ela as vê na luz natural.

    Em relação bastante indireta com o que precede, Eckhart fala da alegria dos anjos quando o homem realiza o bem.

    No sermão 6, Os justos viverão eternamente, ele tinha dado um verdadeiro grito de alegria ao pensar que o homem pode regozijar os santos e os anjos.

    Ele exprime-se aqui mais sobriamente.

    Mas o recíproco não existe: os anjos não se podem afligir quando o homem comete um mal porque eles contemplam tudo dentro da justiça de Deus.

    Ele compara a potência «receptora» do intelecto à luz natural dos anjos, luz vespertina, enquanto que na potência «ativa», o intelecto assemelha-se ao Pai, como o pregador nos disse mais acima; ele faz de todas as coisas um ser novo «e ele é todas as coisas na luz matutina». [  ]


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