Mestre Eckhart – Jesus apareceu entre os seus discípulos 5


  1. «Jacob quis repousar.» Reparem! «ele quis repousar».
  2. Para aquele que repousa em Deus, o repouso está fora da sua vontade.
  3. Nós dizemos: a vontade não é um assunto de treino.
  4. A vontade é livre, ela não adquire nada da matéria.
  5. Neste ponto, ela é mais livre do que o conhecimento; certas pessoas insensatas tropeçam aqui e pretendem que ela está acima do conhecimento.
  6. Não é assim, mas o conhecimento adquire da matéria e das coisas corporais num lugar da alma, como eu disse na vigília da Páscoa: certas potências da alma estão ligadas aos cinco sentidos, tais como o ver e o ouvir que introduzem nela (alma) aquilo de que ela deve ser informada.
  7. Um mestre diz: Deus não quer absolutamente que os olhos e as orelhas levem o que possa carregar a parte mais nobre da alma, mas (que levem) exclusivamente o lugar sem nome que é o lugar de todas as coisas. 1
  8. O resto é certamente uma boa preparação, favorável no sentido em que (esse levar do exterior) está misturado com a cor, com os sons e com as coisas corporais.
  9. É apenas um treino dos sentidos.
  10. A alma é assim acordada, e o modelo do saber é naturalmente impresso nela.
  11. Platão diz, e com ele Santo Agostinho: a alma possui nela a totalidade do saber, e tudo o que lhe podemos levar do exterior não passa de um acordar do saber. 2
  12. «Jacob repousa à noite.» Nós antes pedimos por um «agora», hoje nós pedimos por uma coisa pequena, apenas por uma noite. 3
  13. Que Deus nos ajude afim de que ela nos seja dada. Amém. 4

Notas
  1. «Jacob quis repousar.» O repouso em Deus não depende da vontade, é a ocasião para Eckhart, dizendo isto, regressar a uma questão que frequentemente tratou: qual é a faculdade humana que penetra mais profundamente no fundo da Divindade?

    Ele dá quase sempre a prioridade ao intelecto.

    Ele emprega aqui a palavra «conhecimento», apesar de encontrarmos mais frequentemente a palavra «intelecto» quando ele o opõe à vontade.

    Ele considera que, num ponto, a vontade é mais livre que o conhecimento porque este adquire da matéria e das coisas corporais num «lugar da alma» (quer dizer, num dos órgãos pelos quais ela atua) «como eu disse na vigília da Páscoa» (alusão ao sermão 35).

    Ligado ao mundo exterior, o conhecimento não pode penetrar na parte mais nobre da alma, reservada «ao lugar sem nome que é o lugar de todas as coisas», quer dizer Deus. [  ]
  2. Seguindo aqui Platão e Santo Agostinho, que nomeia a ambos, Eckhart explica que a alma traz impressa nela o modelo de todo o saber, as «ideias eternas».

    Pelo treino, o conhecimento, que se move no mundo das cores e dos sons, pode todavia acordar este saber na alma. [  ]
  3. Para concluir, o pregador faz alusão ao fim do sermão 35 onde ele pediu a Deus, para ele próprio e para os seus auditores, o chegar ao «agora» da eternidade.

    Ele pede aqui - com uma ligeira ironia, ou pelo menos um sorriso - «uma coisa pequena»: apenas uma noite.

    Ora esta noite onde repousa Jacob é a do maior amor de Deus e sem dúvida a de uma inefável graça. [  ]
  4. Esta tradução foi realizada a partir da tradução francesa de Jeanne Ancelet-Hustache, «Maitre Eckhart - Sermons 31-59 - Tome II», Éditions du Seuil, Paris, 1978, p. 32-35. [  ]


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