Mestre Eckhart – Iluminou os degraus da sua casa 6


  1. A terceira potência é a vontade interior que, tal como um rosto, está sempre voltada para Deus, para a vontade divina, e bebe em Deus e toma em si o amor.
  2. Então Deus é atraído pela alma e a alma é atraída por Deus, isto é o amor divino e é também uma virtude divina.
  3. A beatitude divina reside em três pontos: o conhecimento que faz com que ele se conheça a si próprio absolutamente, em seguida a liberdade que faz com que ele permaneça sem ser agarrado nem constrangido por nenhuma criatura, e por fim a satisfação perfeita de ser suficiente a ele próprio assim como a todas as criaturas.
  4. É também no que consiste a perfeição da alma: no conhecimento e na consciência de ter agarrado Deus, e na união do amor perfeito.
  5. Nós queremos saber o que é o pecado? É afastarmo-nos da beatitude e da virtude, eis de onde vem todo o pecado.
  6. Toda a alma bem-aventurada deve também considerar estes degraus.
  7. É por isso que «ela não teme o inverno, porque os seus servidores estão também vestidos com roupas duplas» segundo o que a Escritura diz dela.
  8. Ela (Isabel) estava vestida com força para resistir a toda a imperfeição e ela estava ornada com a verdade.
  9. Em face do mundo, esta mulher estava exteriormente na riqueza e nas honras, e interiormente ela adorava a verdadeira pobreza.
  10. E então ela foi privada de consolação exterior, ela dirigiu-se para Aquele para quem fluem todas as criaturas, ela desdenhou o mundo e a ela própria.
  11. Com isso, ela ultrapassou-se a si própria e desdenhou de ser desdenhada, apesar de ela não se preocupar e não renunciou no entanto à perfeição.
  12. Ela desejou, com um coração puro, poder lavar e tratar das gentes doentes e sujas. 1
  13. Que Deus no ajude a que nós possamos assim iluminar os degraus da nossa casa e a não comer o nosso pão na ociosidade. Amém. 2

Notas
  1. Se as primeiras palavras que mestre Eckhart lhe consagra são bastante banais, as do fim do sermão provam que ele conhece bem a sua vida: «Esta mulher estava exteriormente na riqueza e nas honras face ao mundo e interiormente ela adorava a pobreza (ele diz mesmo "adorava", anebetete, e é uma palavra da qual ele não abusa). E quando ela foi privada de consolação exterior... » [  ]
  2. Esta tradução foi realizada a partir da tradução francesa de Jeanne Ancelet-Hustache, «Maitre Eckhart - Sermons 31-59 - Tome II», Éditions du Seuil, Paris, 1978, p. 11-17. [  ]


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