Imitação de Cristo - 3.7. Que é preciso esconder humildemente as graças que Deus nos faz
- Cristo: Meu filho, quando a graça te inspirar movimentos de piedade, é melhor para ti e mais seguro manteres essa graça escondida, não te elevares, falares pouco dela e não exagerares a sua grandeza; mas antes desprezares-te a ti próprio e temeres um favor do qual és indigno.
- Não te deves apegar muito a um sentimento que em breve se pode mudar num sentimento contrário.
- Quando a graça te é dada, reflete quanto és pobre e miserável sem a graça.
- O progresso da vida espiritual não consiste apenas em desfrutar da consolação da graça, mas antes em suportar a privação com humildade, com abnegação, com paciência, por forma a que então não te relaxes no exercício da oração, que não abandones nenhuma das tuas práticas habituais. Faz, pelo contrário, tudo o que estiver em ti de melhor que puderes, segundo as tuas luzes, e não te negligencies completamente a ti próprio por causa da secura e da angústia que sentes na tua alma.
- Porque há muitos que, no tempo da prova, caem rapidamente na impaciência e no desânimo.
- No entanto «a via do ser humano não está sempre em seu poder» (Jeremias 10, 23). Compete a Deus consolar e dar quando quer, quanto quer, e a quem quer, como quer, e não mais.
- Houve indiscretos que se perderam pela própria graça da devoção, porque quiseram fazer mais do que podiam, não medindo as suas fraquezas, mas seguindo mais a impetuosidade do coração que o julgamento da razão.
- E porque eles aspiraram, na sua presunção, a um estado mais elevado do que aquele onde Deus os queria, perderam rapidamente a graça.
- Eles tinham colocado a sua residência no céu, e subitamente ficaram pobres e desamparados na sua miséria, afim de que pela humilhação e o desnudamento aprendam a não se elevarem mais sobre as suas próprias asas, mas a refugiarem-se sob as minhas.
- Aqueles que ainda são novos e sem experiência nas vias de Deus podem facilmente perder-se e estatelar-se nos escolhos, se não se deixarem conduzir por pessoas prudentes.
- Porque se eles querem seguir o seu sentimento em vez de acreditarem na experiência dos outros, o resultado será funesto para eles, se eles se obstinarem sempre no seu próprio sentido.
- Raramente aqueles que são sábios aos seus próprios olhos se deixam conduzir humildemente pelos outros.
- Vale mais ser humilde, com um espírito e luzes limitadas, que possuir tesouros de ciência e comprazer-se consigo próprio.
- Vale mais para ti teres pouco, que muito de que te pudesses orgulhar.
- Tem falta de prudência aquele que se entrega completamente à alegria, esquecendo a sua indigência passada, e aquele casto temor do Senhor que faz recear perder a graça recebida.
- Também é ter falta de virtude o deixar-se cair num desânimo excessivo no tempo da adversidade e da prova, e o ter pensamentos e sentimentos indignos da confiança que me é devida.
- Aquele que, durante a paz, tem demasiada segurança, é frequentemente durante a guerra o mais tímido e o mais cobarde.
- Se nunca presumisses nada de ti próprio, saberias permanecer sempre humilde, modelar e regrar os movimentos do teu espírito, tu não cairias tão rapidamente no perigo e no pecado.
- É uma prática sábia pensar, durante o fervor, naquilo que acontecerá na privação da luz.
- E quando efetivamente tu estiveres privado dela, pensa que ela pode regressar, pensa que eu só a retirei por algum tempo com vista à minha glória e para exercitar a tua vigilância.
- Frequentemente uma tal prova é mais útil para ti do que se tudo te sucedesse constantemente segundo os teus desejos.
- Porque para julgar o mérito, não se deve olhar se alguém tem muitas visões ou consolações, ou se é hábil na Sagrada Escritura, ou se ocupa um cargo elevado.
- Mas antes se está firmado na verdadeira humildade e cheio da caridade divina; se procura em tudo e sempre unicamente a glória de Deus; se está bem convencido do seu nada; se tem por si próprio um desprezo sincero, e se fica mais alegre com ser desprezado pelos outros e humilhado, que ser honrado por eles.
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