Mestre Eckhart – Tratado da Nobreza 25


  1. Eu digo portanto que não há beatitude sem que o ser humano tenha consciência e saiba bem que ele contempla e conhece Deus, mas Deus quer que não seja essa a minha beatitude.
  2. Se isso é suficiente para outro, que ele fique por aí, mas eu tenho pena dele.
  3. O calor do fogo e a natureza do fogo são completamente diferentes e estranhamente distantes um do outro na natureza, apesar deles serem muito próximos um do outro no espaço e no tempo.
  4. A vista que é a de Deus e a nossa vista são absolutamente distantes e diferentes uma da outra. 1

Notas
  1. É preciso especialmente ter atenção a uma questão que poderia parecer à primeira abordagem como uma discussão de escola e que Mestre Eckhart tratou duas vezes ele próprio no seu comentário latino sobre São João: A beatitude da alma consiste na contemplação de Deus ou no conhecimento que ela tem disso?

    «Ora, pareceu a certos, e parece também muito verosímil, que a flor e o núcleo da beatitude se situam no conhecimento pelo qual o espírito conhece que conhece Deus... A beatitude não se situa no entanto aí, porque o primeiro elemento da beatitude, é que a alma contemple Deus sem véu. É daí que ela recebe todo o seu ser e a sua vida e que ela recebe tudo o que ela é no abismo de Deus e não sabe nada do amor nem do conhecimento nem do que quer que seja... Mas quando ela sabe e reconhece que ela contempla, conhece e ama Deus, é uma saída desse estado (uzslac) e um regresso ao estado primeiro (widerslac) segundo a ordem natural.»

    Nós aprendemos aqui, sem equivoco possível, que essa ultrapassagem do sexto grau, do qual Eckhart nos falou no início do seu tratado, onde a pessoa atingiu o esquecimento perfeito da vida efémera, não é apenas a vida do além, mas já (o jam de Santo Agostinho) se situa nesta vida terrestre. De outra forma, como se poderia tratar de "saída" e de "regresso"?

    Ora é notável que Suso, tão próximo do seu mestre, se não pelo caracter pelo menos pela doutrina, retomou quase textualmente a passagem Do homem nobre sobre as graças da união a Deus no seu Livro da Verdade, precisamente para defender Eckhart, e não notar nitidamente a diferença entre a doutrina de Eckhart e a do "Selvagem", representando os Begardos.

    À questão de saber se o ser humano pode conhecer essa realidade neste mundo, Suso responde: «Isso pode bem acontecer quando o corpo ainda está sobre a terra segundo a forma de falar comum, mas então o ser humano está para além do tempo».

    Mais expansivo que o seu mestre, Suso faz, mais do que ele, alusões transparentes às graças místicas. Pode-se assim considerar a resposta precedente como uma espécie de complemento àquilo que Eckhart nos disse. [  ]


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