Mestre Eckhart - Sermão da Pobreza 15


  1. Um grande mestre disse que o seu irromper é mais nobre que a sua difusão, e é verdade.
  2. Quando eu fluía de Deus, todas as coisas disseram: Deus é, e isso não me pode tornar feliz, porque devido a isso eu reconheço-me como sendo criatura.
  3. Mas (pelo contrário) no irromper, onde eu sou liberto da minha própria vontade, e da vontade de Deus, e de todas as obras, e de Deus ele próprio, eu estou acima de todas as criaturas, e não sou nem "Deus" nem criatura, mas antes eu sou aquilo que eu era, e o que eu devo permanecer agora, e sempre.
  4. Lá, eu recebo um impulso que me deve levar acima de todos os anjos.
  5. Neste impulso, eu recebo uma riqueza tal que Deus não me pode ser suficiente segundo tudo o que ele é "Deus", e segundo todas as suas obras divinas.
  6. Com efeito, o dom que eu recebo neste irromper, é que eu e Deus, somos um.
  7. Então, eu sou aquilo que eu era, e lá eu não cresço nem diminuo, porque eu sou lá um motor imóvel que move todas as coisas.
  8. Então, Deus não encontra lugar no ser humano, porque com esta pobreza, o ser humano adquire aquilo que ele foi eternamente, e aquilo que ele permanecerá para sempre.
  9. Então, Deus é um com o espírito, e é a suprema pobreza que se pode encontrar. 1

Notas
  1. Mestre Eckhart fala de um grande mestre para quem o irromper (o regresso à Divindade) é mais nobre que a difusão (o escoamento no ser criado), mas tal é a conclusão lógica de todo o sermão: «Quando eu fluía de Deus todas as coisas disseram: Deus existe.»

    É a isto que a tradição neoplatónica chama a emanação, exitus.

    Desde que um único ser sai do fundo primitivo ou do Um, uma diferença se colocou, e então Deus é Deus, quer dizer o frente a frente de todas as coisas visíveis.

    Mas esta emanação «não me pode fazer feliz». Com efeito, ela é o princípio da dispersão. Pela emanação «eu reconheço-me criatura».

    O regresso, o reditus, pelo contrário, regressa da dispersão.

    É um momento de concentração. Esse regresso leva em direção ao Um sem nome, para além do Deus criador: «no irromper... eu estou acima de todas as criaturas, e eu não sou nem Deus nem criatura».

    Vê-se porque é que o irromper, o regresso para o fundo de Deus, que é indistintamente também o fundo da alma, é mais nobre: é o regresso à ordem depois do caos.

    O dom que me é feito nesse irromper, é que eu e Deus sejamos um.

    «Lá eu sou aquilo que eu era, e lá eu não aumento nem diminuo, porque lá eu sou uma causa imutável que move todas as coisas.

    Aqui, Deus não encontra lugar no ser humano, porque por esta pobreza o ser humano adquire aquilo que ele foi eternamente, e aquilo que ele permanecerá para sempre.

    Aqui, Deus é um com o espírito, e é a suprema pobreza que se possa encontrar.» [  ]


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