Mestre Eckhart - Sermão da Pobreza 15
- Um grande mestre disse que o seu irromper é mais nobre que a sua difusão, e é verdade.
- Quando eu fluía de Deus, todas as coisas disseram: Deus é, e isso não me pode tornar feliz, porque devido a isso eu reconheço-me como sendo criatura.
- Mas (pelo contrário) no irromper, onde eu sou liberto da minha própria vontade, e da vontade de Deus, e de todas as obras, e de Deus ele próprio, eu estou acima de todas as criaturas, e não sou nem "Deus" nem criatura, mas antes eu sou aquilo que eu era, e o que eu devo permanecer agora, e sempre.
- Lá, eu recebo um impulso que me deve levar acima de todos os anjos.
- Neste impulso, eu recebo uma riqueza tal que Deus não me pode ser suficiente segundo tudo o que ele é "Deus", e segundo todas as suas obras divinas.
- Com efeito, o dom que eu recebo neste irromper, é que eu e Deus, somos um.
- Então, eu sou aquilo que eu era, e lá eu não cresço nem diminuo, porque eu sou lá um motor imóvel que move todas as coisas.
- Então, Deus não encontra lugar no ser humano, porque com esta pobreza, o ser humano adquire aquilo que ele foi eternamente, e aquilo que ele permanecerá para sempre.
- Então, Deus é um com o espírito, e é a suprema pobreza que se pode encontrar. 1
Notas
- Mestre Eckhart fala de um grande mestre para quem o irromper (o regresso à Divindade) é mais nobre que a difusão (o escoamento no ser criado), mas tal é a conclusão lógica de todo o sermão: «Quando eu fluía de Deus todas as coisas disseram: Deus existe.»
É a isto que a tradição neoplatónica chama a emanação, exitus.
Desde que um único ser sai do fundo primitivo ou do Um, uma diferença se colocou, e então Deus é Deus, quer dizer o frente a frente de todas as coisas visíveis.
Mas esta emanação «não me pode fazer feliz». Com efeito, ela é o princípio da dispersão. Pela emanação «eu reconheço-me criatura».
O regresso, o reditus, pelo contrário, regressa da dispersão.
É um momento de concentração. Esse regresso leva em direção ao Um sem nome, para além do Deus criador: «no irromper... eu estou acima de todas as criaturas, e eu não sou nem Deus nem criatura».
Vê-se porque é que o irromper, o regresso para o fundo de Deus, que é indistintamente também o fundo da alma, é mais nobre: é o regresso à ordem depois do caos.
O dom que me é feito nesse irromper, é que eu e Deus sejamos um.
«Lá eu sou aquilo que eu era, e lá eu não aumento nem diminuo, porque lá eu sou uma causa imutável que move todas as coisas.
Aqui, Deus não encontra lugar no ser humano, porque por esta pobreza o ser humano adquire aquilo que ele foi eternamente, e aquilo que ele permanecerá para sempre.
Aqui, Deus é um com o espírito, e é a suprema pobreza que se possa encontrar.» [ ↑ ]
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