Mestre Eckhart - Sermão da Pobreza 7


  1. Ora, nós dizemos que Deus, enquanto ele é "Deus", não é o fim supremo da criatura, porque enquanto ela está em Deus, a mínima criatura tem a mesma riqueza que ele.
  2. E se fosse possível que uma mosca tivesse um intelecto, e fosse capaz de procurar intelectualmente o abismo eterno do ser divino de onde ela saiu, diríamos que Deus, com tudo aquilo que ele é enquanto "Deus", não poderia dar a esta mosca plenitude e satisfação.
  3. É por isso que nós pedimos a Deus para sermos desprendidos de "Deus", e para acolhermos a verdade, e para desfrutarmos dela eternamente, lá onde os anjos mais elevados, e a mosca, e a alma são iguais, lá onde eu estava, onde eu queria aquilo que eu era, e era aquilo que eu queria.
  4. Nós dizemos portanto: se o ser humano deve ser pobre em vontade, ele deve também querer pouco, e desejar que ele quisesse e desejasse como quando ele não existia.
  5. E eis, de que maneira, é pobre o ser humano que não quer nada. 1

Notas
  1. Ora, esse Deus criador não seria capaz de satisfazer nem mesmo a mosca se, dotada de intelecto por uma das hipóteses paradoxais de Eckhart, ela procurasse o abismo eterno do ser divino de onde ela saiu.

    Ele tinha-nos dito no sermão 2, a propósito do castelo da alma:

    «Se Deus deve alguma vez penetrá-lo com o seu olhar, isto custar-lhe-ia todos os seus nomes divinos, e a propriedade das suas Pessoas. Ele tem que as deixar todas no exterior para que o seu olhar lá penetre. É preciso que ele seja o Um na sua simplicidade, sem nenhum modo nem propriedade, lá onde ele não é neste sentido nem Pai, nem Filho, nem Espírito Santo, e onde ele é no entanto uma qualquer coisa que não é nem isto nem aquilo.»

    «Ele era aquilo que ele era... uma qualquer coisa que não é nem isto nem aquilo...»

    Estas expressões reúnem-se na sua indeterminação tanto é difícil de definir o que está acima de qualquer nome: «É por isso que nós pedimos a Deus para sermos libertos de Deus, e de acolhermos a verdade, e de rejubilarmos eternamente lá onde os anjos mais elevados, e a mosca, e a alma são iguais.» [  ]


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