Mestre Eckhart - Sermão da Pobreza 4


  1. Em primeiro lugar nós dizemos que é um ser humano pobre aquele que não quer nada.
  2. Certas gentes não compreendem bem este sentido; são as gentes que se agarram à penitência e aos exercícios exteriores, os quais estas gentes consideram ser importantes, porque elas se procuram neles a si próprias.
  3. Que Deus tenha piedade delas, por terem um tão fraco conhecimento da verdade divina.
  4. Estas gentes são ditas santas com base nas aparências exteriores, mas interiormente são burras, porque elas não sabem discernir a verdade divina.
  5. Estas pessoas repetem bem que um ser humano pobre é aquele que não quer nada, mas elas interpretam isso no sentido em que o ser humano deve viver sem nunca realizar em nada a sua vontade, e que para além disso se deve esforçar por realizar a muito cara vontade de Deus.
  6. Essas pessoas têm uma posição certa, porque a opinião delas é boa, nós as louvaremos portanto.
  7. Que Deus, na sua misericórdia, lhes dê o reino dos céus.
  8. Mas eu, eu digo na verdade divina que estas pessoas não são pessoas pobres, nem semelhantes a pessoas pobres.
  9. Elas estão em grande consideração aos olhos das gentes que não sabem nada de melhor, mas eu digo que são burras, que não entendem nada da verdade divina.
  10. Devido à sua boa intenção, que elas obtenham o reino dos céus, mas desta pobreza da qual nós queremos agora falar, elas não sabem nada. 1

Notas
  1. Em primeiro lugar, aquele que não quer nada.

    Eckhart pensa primeiro naqueles que se submetem a uma regra de vida severa.

    Apesar de ele lhes desejar a misericórdia divina e o reino dos céus, a condescendência com a qual ele sempre os viu vai agora até ao desprezo declarado: ele trata-os de burros, e por duas vezes.

    Os cristãos que o escutam, até ao presente, seguiram-no: eles sabem que devem renunciar à sua vontade própria, mas é-lhes sem dúvida mais difícil admitir que devem renunciar a querer realizar a vontade de Deus. [  ]


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