Mestre Eckhart - Sermão da Pobreza 4
- Em primeiro lugar nós dizemos que é um ser humano pobre aquele que não quer nada.
- Certas gentes não compreendem bem este sentido; são as gentes que se agarram à penitência e aos exercícios exteriores, os quais estas gentes consideram ser importantes, porque elas se procuram neles a si próprias.
- Que Deus tenha piedade delas, por terem um tão fraco conhecimento da verdade divina.
- Estas gentes são ditas santas com base nas aparências exteriores, mas interiormente são burras, porque elas não sabem discernir a verdade divina.
- Estas pessoas repetem bem que um ser humano pobre é aquele que não quer nada, mas elas interpretam isso no sentido em que o ser humano deve viver sem nunca realizar em nada a sua vontade, e que para além disso se deve esforçar por realizar a muito cara vontade de Deus.
- Essas pessoas têm uma posição certa, porque a opinião delas é boa, nós as louvaremos portanto.
- Que Deus, na sua misericórdia, lhes dê o reino dos céus.
- Mas eu, eu digo na verdade divina que estas pessoas não são pessoas pobres, nem semelhantes a pessoas pobres.
- Elas estão em grande consideração aos olhos das gentes que não sabem nada de melhor, mas eu digo que são burras, que não entendem nada da verdade divina.
- Devido à sua boa intenção, que elas obtenham o reino dos céus, mas desta pobreza da qual nós queremos agora falar, elas não sabem nada. 1
Notas
- Em primeiro lugar, aquele que não quer nada.
Eckhart pensa primeiro naqueles que se submetem a uma regra de vida severa.
Apesar de ele lhes desejar a misericórdia divina e o reino dos céus, a condescendência com a qual ele sempre os viu vai agora até ao desprezo declarado: ele trata-os de burros, e por duas vezes.
Os cristãos que o escutam, até ao presente, seguiram-no: eles sabem que devem renunciar à sua vontade própria, mas é-lhes sem dúvida mais difícil admitir que devem renunciar a querer realizar a vontade de Deus. [ ↑ ]
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