Mestre Eckhart – Tratado do Desprendimento 2


  1. Os mestres louvam grandemente o amor, como fez S. Paulo quando disse: «Qualquer obra que eu realizo, se não tenho amor, não sou nada.»
  2. Quanto a mim, eu louvo o desprendimento mais do que qualquer amor.
  3. E primeiro por esta razão: o que o amor tem de melhor, é que ele me força a amar Deus, enquanto que o desprendimento força Deus a amar-me a mim.
  4. Ora é bem mais nobre forçar Deus a vir até mim que eu me forçar a ir até Deus, porque Deus pode mais intimamente inserir-se em mim, e melhor unir-se a mim, do que eu me posso unir a Deus.
  5. Que o desprendimento força Deus a vir até mim, eu provo-o assim: todas as coisas gostam de estar no lugar que lhes é natural e próprio.
  6. Ora o lugar natural e próprio de Deus é a unidade e a pureza, e é isso mesmo que o desprendimento provoca.
  7. Portanto, é necessariamente preciso que Deus se dê a um coração desprendido.
  8. Em segundo lugar, eu louvo o desprendimento mais do que o amor porque o amor força-me a sofrer todas as coisas por Deus, enquanto que o desprendimento me leva a ser acessível apenas a Deus.
  9. Ora é muito mais nobre ser acessível só a Deus do que sofrer todas as coisas por Deus porque, no sofrimento, a pessoa tem um pouco a ver com a criatura que causa o sofrimento à pessoa, enquanto que o desprendimento está completamente liberto de todas as criaturas.
  10. Ora que o desprendimento apenas seja acessível a Deus, eu provo-o assim: aquilo que deve ser acolhido, deve ser acolhido em qualquer coisa.
  11. Ora o desprendimento está tão próximo do nada que nenhuma coisa é suficientemente subtil que consiga encontrar lugar no desprendimento, senão Deus apenas.
  12. Só Deus é simples e tão subtil que consegue encontrar lugar no coração desprendido.
  13. É por isso que o desprendimento só é acessível a Deus.


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