Mestre Eckhart – Tratado do Desprendimento


Introdução

Este tratado está construído em quatro partes:
  1. O desprendimento é a mais elevada das virtudes. É superior ao amor, à humildade e à misericórdia, os quais têm alguma relação com as criaturas, enquanto que o desprendimento não tem nada a ver com as criaturas.
  2. O desprendimento cria a maior semelhança possível do ser humano com Deus, porque a natureza de Deus tem como fundamento o seu desprendimento imutável. Este desprendimento existiu e existirá desde toda a eternidade. Este desprendimento não foi perturbado nem pela criação, nem pela incarnação; também não é perturbado pelas orações e pelas obras dos seres humanos: com efeito, em Deus não há nada de novo. Tudo nele procede da eternidade, somos nós que somos transformados quando é projetado no tempo aquilo que foi eternamente previsto em Deus.

    Cristo e a sua Mãe ficaram, também eles, no desprendimento imutável. No próprio momento da Paixão, só sofria neles a "pessoa exterior", enquanto que a "pessoa interior" não era perturbada.
  3. O objeto do desprendimento não é "nem isto nem aquilo", mas antes o puro nada. Também não é a oração, porque o ser humano verdadeiramente desprendido não pede nada, senão a conformidade com o desprendimento imutável de Deus, e a receptividade ao influxo divino. Não é a aparência exterior de Cristo, mas a conformidade com Cristo que pegou na natureza humana e a uniu em si ao desprendimento divino.
  4. O sofrimento com Cristo é o caminho mais direto que leva o ser humano ao desprendimento, sendo a humildade o fundamento sólido do desprendimento.
Esta tradução foi realizada a partir da tradução francesa de Jeanne Ancelet-Hustache, «Maitre Eckhart - Les Traités», Éditions du Seuil, Paris, 1971, p. 157-171.


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