Livro da Vida Perfeita - Viver da vida de Cristo


  1. Existe, no entanto, meios para aceder, como se disse, à vida de Cristo.
  2. Naquele momento, naquele local onde Deus e o ser humano estão de tal forma unidos e que se pode dizer com verdade - e a própria Verdade o confirma -: «Esse verdadeiro e perfeito Deus, esse verdadeiro e perfeito ser humano são só um»;
  3. Naquele momento, naquele local onde o ser humano se apaga de tal forma diante de Deus que Deus ele próprio se torna ser humano, e no entanto permanece Deus;
  4. Naquele momento, naquele local onde Deus atua sem descanso e faz - ou se abstém de fazer - sem nenhum «eu», «me» ou «meu»;
  5. É «naquele momento», «naquele local» que está verdadeiramente Cristo, e em nenhum outro sítio.
  6. É «aí» que está o verdadeiro e perfeito ser humano.
  7. Prazer e dor, bem-estar e sofrimento - tudo aquilo que pode ser sentido e experimentado no interior ou no exterior - aí são perfeitamente sentidos e experimentados.
  8. E porque então Deus ele próprio é um ser humano, Deus sente e conhece então o bem-estar, o sofrimento, etc.
  9. Um ser humano que não é Deus, sente e conhece tudo o que traz ao ser humano bem-estar ou sofrimento, e sobretudo aquilo que lhe é contrário.
  10. Da mesma forma, um ser humano que é um com Deus - um ser humano onde Deus ele próprio é o ser humano - sente e experimenta tudo o que é contrário a Deus, mas também tudo o que é contrário ao ser humano.
  11. Mas dentro de um tal ser humano, Deus é tudo, e o ser humano ele próprio está aniquilado. E passa-se o mesmo com aquilo que é contrário ao ser humano: o seu sofrimento pessoal está completamente aniquilado em face daquilo que é contrário a Deus e que é causa de sofrimento para Ele. E isto vai durar tanto quanto durar a vida corporal e sensível.
  12. Observa-se também que esse Um no qual Deus e o ser humano estão unidos é livre de si próprio, de todos os seres humanos e de todas as coisas: ele existe por causa de Deus apenas, e não por causa do ser humano e das criaturas.
  13. Aquilo que é próprio de Deus é ser sem isto nem aquilo, sem eu nem amor próprio, nem nada desse género.
  14. Pelo contrário, o que é próprio da criatura e da natureza é que ela se procure a si própria e ao seu, isto e aquilo, aqui e acolá - que ela meta a sua vontade em tudo aquilo que ela faça e não faça.
  15. Quando a criatura e o ser humano abandonam e deixam aquilo que lhes é próprio - o eu deles e o amor próprio deles -, Deus entra neles com aquilo que lhe é próprio, quer dizer a sua Felicidade.

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