Imitação de Cristo - 1.18. Do exemplo dos Santos Padres

  1. Contempla os exemplos dos Santos Padres, nos quais brilhava a verdadeira perfeição da vida religiosa, e verás quão pouco ou quase nada é o que fazemos.
  2. Ah! Que é a nossa vida comparada com a deles?
  3. Os santos e os amigos de Cristo serviram ao Senhor na fome e na sede, no frio e na nudez, no trabalho e na fadiga, nas vigílias e nos jejuns, nas orações e nas santas meditações, na infinidade de perseguições e de opróbrios.
  4. Oh! Que graves tribulações sofreram os apóstolos, os mártires, os confessores, as virgens e todos quantos quiseram seguir os passos de Cristo!
  5. «Odiaram a sua alma neste mundo, para a possuírem na eternidade.» (João 12, 25)
  6. Oh! Que vida austera e mortificada levaram os Santos Padres no deserto! Que contínuas e duras tentações suportaram! Quantas vezes foram atormentados pelo inimigo! Quantas orações fervorosas ofereceram a Deus!
  7. Que rigorosas abstinências praticaram! Que zelo e fervor tiveram no seu avanço espiritual! Que guerra fizeram para subjugar as suas paixões! Que pura e reta intenção sempre dirigida para Deus!
  8. Trabalhavam durante o dia, e passavam a noite em oração; e mesmo durante o trabalho, não paravam de rezar em espírito.
  9. Todo o tempo que dispunham era empregue em algo útil. As horas que davam a Deus pareciam-lhes curtas, e sentiam tanta doçura na contemplação, que até se esqueciam das necessidades do corpo.
  10. Renunciavam às riquezas, às dignidades, às honras, aos seus amigos e parentes; não queriam nada do mundo.
  11. Apenas tomavam o necessário para a vida; era-lhes penoso terem de servir o corpo, mesmo nas coisas mais necessárias.
  12. Assim, eram pobres nas coisas da terra, mas eram ricos em graças e virtudes.
  13. Exteriormente tudo lhes faltava, mas Deus fortificava-os por dentro com a Sua graça e as Suas consolações.
  14. Eram estrangeiros no mundo, mas íntimos e amigos particulares de Deus.
  15. Tinham-se em conta de nada, e eram desprezados pelo mundo; mas eram queridos por Deus, e preciosos aos Seus olhos.
  16. Viviam numa sincera humildade, numa obediência simples.
  17. Estavam cheios de caridade, e de paciência, e tornavam-se assim cada dia mais perfeitos e mais agradáveis a Deus.
  18. Eles foram dados como exemplo a todos os religiosos, e devem incitar-nos a avançar mais na perfeição, que a multidão dos tíbios nos arrasta à relaxação.
  19. Oh! Que fervor de todos os religiosos no começo da sua santa instituição!
  20. Que ardor na oração! Que zelo na virtude! Que disciplina severa! Que obediência tinham todos à regra do seu fundador!
  21. Os vestígios que nos deixaram ainda atestam a sua santidade e a sua perfeição que, combatendo generosamente, calcaram o mundo aos pés.
  22. Mas hoje já se considera grande coisa quando alguém não transgride a regra, e carrega com paciência o jugo que voluntariamente impôs a si próprio.
  23. Ó tibieza, ó negligência do nosso estado, que tão depressa extinguiu o nosso fervor inicial, que de tanta frouxidão e moleza, até a vida nos causa tédio!
  24. Queira Deus que depois de teres visto os exemplos de tantos santos verdadeiramente pios, tu não deixes esmorecer completamente em ti o desejo de avançares na virtude!
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