Imitação de Cristo - 1.11. Dos meios para adquirir a paz interior e do desejo de avançar na virtude
- Nós poderíamos ter muita paz, se não nos quiséssemos ocupar com o que dizem e fazem os outros, que não são da nossa conta.
- Como pode alguém ficar por muito tempo em paz, que se intromete na vida alheia, que busca ocasiões para se distrair exteriormente, que raras vezes e mal se recolhe interiormente?
- Felizes os simples, porque terão muita paz!
- Como é que alguns santos subiram a um grau tão elevado de virtude e de contemplação?
- Porque se desfizeram de todos os desejos terrenos, e assim puderam unir-se a Deus no fundo mais íntimo do seu coração, e ocuparem-se livremente de si próprios.
- Nós, porém, ocupamo-nos demasiado com as nossa paixões, e andamos demasiado inquietos com as coisas que passam.
- Raramente conseguimos vencer perfeitamente um único vício, não temos ardor para fazer alguns progressos em cada dia, por isso permanecemos tíbios e frios.
- Se estivéssemos completamente mortificados e menos preocupados interiormente, podíamos saborear as coisas divinas e adquirir alguma experiência da contemplação celeste.
- O maior, o único obstáculo, é estarmos submetidos às nossas paixões e convulsões, e não nos esforçamos por seguir a via perfeita dos santos.
- E, se acontece sofrermos a mais pequena contrariedade, caímos no desânimo e procuramos as consolações humanas.
- Se como soldados valentes, permanecêssemos firmes no combate, certamente veríamos descer sobre nós o socorro de Deus.
- Porque Ele está sempre pronto a ajudar aqueles que resistem e que esperam na sua graça, e é Ele que nos proporciona ocasiões para combatermos, afim de nos fazer vitoriosos.
- Se fizermos consistir o nosso progresso espiritual unicamente nas observâncias exteriores, a nossa devoção será de curta duração.
- Lancemos, pois, o machado à raiz da árvore, para que, livre das paixões, a nossa alma goze da paz interior.
- Se em cada ano desenraizássemos um único vício, em breve seríamos perfeitos.
- Mas pelo contrário, nós sentimos muitas vezes que antes éramos melhores, e que a nossa vida era mais pura no começo da nossa conversão, do que depois de vários anos de profissão.
- Nós devíamos crescer cada dia em fervor e virtude, mas agora já nos parece muito se conseguimos conservar um pouco do fervor inicial.
- Se no princípio fizéssemos algum esforço, depois podíamos fazer tudo com facilidade e gosto.
- É duro renunciar aos hábitos, mas mais duro ainda à curvar a própria vontade.
- No entanto, se não és capaz de te venceres agora nas coisas pequenas e leves, como conseguirás depois vencer nas maiores e mais difíceis?
- Resiste desde o principio às tuas inclinações, acaba sem demora com os teus maus hábitos, para que te não levem, pouco a pouco, a maiores dificuldades.
- Oh! Se tu considerasses quanta paz terias, quanta satisfação darias aos outros, se vivesses como devias, creio que terias bem maior ardor no teu avanço espiritual.
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