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Mestre Eckhart – Iluminou os degraus da sua casa

A alma é criada entre «um» e «dois» Pelas suas potências superiores, a alma toca Deus Que se retire o que é prejudicial e que completemos o que nos faz falta As mais altas potências da alma são em número de três A operação própria da potência ascendente é a de tender para o alto A beatitude divina reside em três pontos Início » Espiritualidade » Mestre Eckhart » Iluminou os degraus da sua casa

Mestre Eckhart – Iluminou os degraus da sua casa 1

Sermão 32 - Iluminou os degraus da sua casa «Uma mulher de bem iluminou os degraus da sua casa e não comeu o seu pão na ociosidade.» (Pr 31, 27) 1 Esta casa significa a totalidade da alma, e os degraus da casa designam as potências da alma. Um mestre antigo diz que a alma é criada entre «um» e «dois». O «um» é a eternidade que é em todos os tempos única e simples. O «dois», é o tempo que move e se diversifica. Ele quer dizer que a alma, pelas suas potências superiores, toca na eternidade, quer dizer em Deus, e pelas suas potências inferiores, ela toca no tempo, daí ela ser mutável e inclinada para as coisas corporais, o que a priva da sua nobreza. Se a alma pudesse, como os anjos, conhecer totalmente Deus, ela nunca teria penetrado no corpo. Se ela pudesse conhecer Deus sem o mundo, o mundo nunca teria sido criado para ela. O mundo foi criado para ela afim de que os olhos da alma se exerçam e se fortifiquem de maneira a poderem suportar a luz divina. Da mesma form

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Pelas suas potências superiores, a alma toca Deus. Daí, ela é formada segundo Deus. Deus é formado segundo ele próprio, ele tem a sua imagem de si próprio e de nenhum outro. A sua imagem, é que ele se conhece absolutamente a si próprio e não é nada mais que luz. Quando a alma o toca com um verdadeiro conhecimento, ela é semelhante a ele nessa imagem. Se imprimirmos um selo numa cera verde ou vermelha ou num tecido, ele produz sempre uma imagem. Se o selo é totalmente impresso através da cera, por forma a que nada subsiste da cera que não tenha absolutamente penetrado no selo, a cera não faz mais do que um com o selo, sem diferença. Assim a alma é totalmente unida a Deus na imagem e na semelhança quando ela o toca com um verdadeiro conhecimento. S. Agostinho diz que a alma foi criada tão nobre e tão elevada acima de todas as criaturas que nenhuma coisa efémera que, no último dia, deve desaparecer, pode falar dentro da alma nem agir nela sem intermediário e sem mensagei

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O olhar deve ser duplo: que se retire o que é prejudicial e que nós completemos o que nos faz falta. Também, eu já o disse frequentemente: aqueles que jejuam muito, prolongam as suas vigílias, realizam grandes obras sem corrigir os seus defeitos e os seus hábitos – no qual consiste o verdadeiro progresso -, enganam-se a si próprios e são a risada do diabo. Um homem tinha um ouriço graças ao qual enriqueceu. Habitava perto do mar. Quando o animal notava para onde virava o vento, eriçada a pele e virava as costas para esse lado. O homem ia então para o mar e dizia às gentes: «O que me dão se eu vos indicar a direcção do vento?» Ele vendia o vento, o que o enriqueceu. Da mesma forma o ser humano enriquece em virtudes se examinar onde é mais deficiente, afim de se corrigir e de aplicar o seu zelo a emendar-se. 1 Notas «Pelas suas potências superiores a alma toca Deus.» O pregador empregou antes uma comparação com a cera e o selo bastante brilhante, enquanto que aqui a c

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Foi o que fez assiduamente S. Isabel. Ela tinha «sabiamente iluminado os degraus da sua casa». Também, «ela não temia o inverno porque os seus servidores estavam duplamente vestidos». Ela estava alerta contra aquilo que a podia prejudicar. Se qualquer coisa lhe faltava, ela aplicava o seu zelo a aperfeiçoá-la. É por isso que «ela não comeu o seu pão na ociosidade.» Ela tinha também voltado as suas potências superiores para o nosso Deus. As mais altas potências da alma são em número de três: a primeira é o conhecimento, a segunda, a irascibilis que é uma potência ascendente, a terceira é a vontade. Quando a alma se entrega ao conhecimento da autêntica verdade, à potência simples pela qual se conhece Deus, a alma é chamada uma luz. E Deus também é uma luz e quando a luz divina se derrama na alma, a alma é unida a Deus como uma luz a uma luz, ela é então chamada luz de fé e isso é uma virtude divina. Onde a alma não consegue chegar nem pelos seus sentidos nem pelas

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A outra potência é a potência ascendente cuja operação própria é a de tender para o alto. Da mesma forma que a propriedade do olho é a de ver a forma e a cor, que a propriedade do ouvido é a de ouvir os sons harmoniosos e as vozes, a operação própria da alma é a de, por essa potência, ela tender sem cessar para o alto. Se ela afasta os seus olhares, ela cai no orgulho, o que é pecado. Ela não pode suportar que alguma coisa esteja acima dela. Eu penso que ela também não pode suportar que Deus esteja acima dela. Se ele não está nela e se ela não está plenamente satisfeita como ele está ele próprio, ela não pode nunca encontrar o repouso. Por esta potência, a alma agarra Deus tanto quanto é possível a uma criatura, é por isso que a nomeamos esperança, e é também uma virtude divina. Por ela, a alma tem uma tão grande confiança em Deus que parece que Deus, em todo o seu ser, não tem nada que ela não possa receber por sua vez. Monsenhor Salomão diz que «as águas roubadas sã

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A terceira potência é a vontade interior que, tal como um rosto, está sempre voltada para Deus, para a vontade divina, e bebe em Deus e toma em si o amor. Então Deus é atraído pela alma e a alma é atraída por Deus, isto é o amor divino e é também uma virtude divina. A beatitude divina reside em três pontos: o conhecimento que faz com que ele se conheça a si próprio absolutamente, em seguida a liberdade que faz com que ele permaneça sem ser agarrado nem constrangido por nenhuma criatura, e por fim a satisfação perfeita de ser suficiente a ele próprio assim como a todas as criaturas. É também no que consiste a perfeição da alma: no conhecimento e na consciência de ter agarrado Deus, e na união do amor perfeito. Nós queremos saber o que é o pecado? É afastarmo-nos da beatitude e da virtude, eis de onde vem todo o pecado. Toda a alma bem-aventurada deve também considerar estes degraus. É por isso que «ela não teme o inverno, porque os seus servidores estão também vestidos com

Mestre Eckhart – Prega a palavra

Prega a palavra, di-la, exprime-a, produ-la e pare a palavra! Tudo o que emana de Deus, tudo o que Deus prometeu é muito estranho O ser humano desprendido realiza ao mesmo tempo que Deus toda a obra de Deus Deus fez-se homem afim de te poder criar como seu Filho único Se todas as criaturas dormirem em ti, tu podes aperceber-te daquilo que Deus opera em ti Agarra Deus em todas as coisas, porque Deus está em todas as coisas Ama Deus acima de todas as coisas e o teu próximo como a ti mesmo Aceita com uma perfeita igualdade de alma tudo aquilo que te acontecer Desprende-te do que é teu e dirige todas as tuas obras para Deus Início » Espiritualidade » Mestre Eckhart » Prega a palavra

Mestre Eckhart – Prega a palavra 1

Sermão 30 - Prega a palavra Hoje e amanhã lê-se uma frase a respeito de monsenhor S. Domingos. 1 S. Paulo escreveu-a na carta 2 e ela significa: «Prega a palavra, di-la, exprime-a, produ-la e pare a palavra!» 3 Notas Era normal que Mestre Eckhart escolhesse este texto para o dia em que se celebrava o fundador dos Irmãos pregadores, onde ele se endereça mais particularmente a pregadores. Este sermão foi portanto dito num 5 de Agosto, festa de S. Domingos no antigo missal dominicano. A carta contém estas palavras de Paulo a Timóteo: “Praedica verbum!” Prega a palavra! Nós veremos muitas semelhanças nos temas, e por vezes nas expressões, com os sermões 25, 27, 28. O plano deste sermão 30, com as suas divisões e subdivisões, é um pouco mais complicado. [  ↑  ] Praedica verbum, vigila, in omnibus labora (2Tim 4, 2). [  ↑  ] A carta de S. Paulo comporta imperativos diferentes daqueles que o pregador acrescenta: «... di-la, exprime-a, produ-la e pare a palavra.»

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É uma coisa estranha que uma coisa se escoe para fora e fique no entanto dentro. Que a palavra se escoe para fora e fique no entanto dentro, é muito estranho; que todas as criaturas se escoem para fora e fiquem no entanto dentro, é muito estranho; o que Deus deu e o que Deus prometeu dar, é muito estranho, é incompreensível e inacreditável. E está bem que seja assim, porque se fosse compreensível e se fosse credível, não estaria bem. Deus está em todas as coisas. Quanto mais ele está nas coisas, mais ele está fora das coisas; quando mais ele é interior, mais ele é exterior, e quanto mais ele é exterior, mais ele é interior. 1 Notas Eckhart já usou a comparação da palavra humana que nasce do interior, se escoa para fora, permanece no entanto no interior sob a forma de pensamento; ele tenta também fazer compreender como é que a Palavra, o Verbo, flui para fora e permanece no entanto no Pai, como também todas as criaturas, saídas de Deus, permanecem em Deus. Tudo o que

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Eu já disse várias vezes que Deus cria agora este universo todo, absolutamente. Tudo o que Deus criou há seis mil anos e mais, quando Deus fez o mundo, Deus cria-o totalmente agora, mas enquanto Deus é divino, e enquanto Deus é inteligível. Deus não está em nenhuma parte tão verdadeiramente como na alma e no anjo, se tu queres, no mais interior da alma e no mais elevado da alma. E quando eu digo «o mais interior», eu quero dizer o mais elevado, e quando eu digo «o mais elevado», eu quero dizer o mais interior da alma. No mais interior e no mais elevado da alma, eu quero dizer os dois num só. Lá onde o tempo nunca penetra, onde nenhuma imagem alguma vez irradia: no mais interior e no mais elevado da alma, Deus cria este universo inteiro. Tudo o que Deus criou há seis mil anos quando ele fez o mundo, e tudo o que Deus ainda deve criar em mil anos, se o mundo durar tanto tempo, Deus cria-o no mais interior e no mais elevado da alma. Tudo o que é passado, e tudo o que é pre

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«Prega a palavra, di-la, exprime-a, produ-la, pare a palavra!» «Di-la!» O que, dito no exterior, penetra em ti, é uma coisa fruste, esta é dita no interior. «Di-la!» quer dizer: descobre o que está em ti. O profeta diz: «Deus disse uma palavra e eu ouvi duas». É verdade: Deus nunca disse mais que uma. O seu dizer é apenas um. Nesse dizer único, ele diz o seu Filho e ao mesmo tempo o Espírito Santo e todas as criaturas mas só há aí no entanto um dizer em Deus. Mas o profeta diz: «Eu ouvi duas.» Quer dizer: eu ouvi Deus e as criaturas. Lá onde Deus a diz, ela é Deus, mas aqui ela é criatura. As gentes imaginam que Deus se fez homem acolá unicamente. Não é assim, porque Deus fez-se homem tanto aqui como acolá, e ele fez-se homem afim de te poder criar como seu Filho único e não menor. 1 Notas «Prega a palavra, di-la...» quer dizer descobre o que está em ti. Apesar de Deus nunca dizer mais do que uma palavra, o profeta ouviu duas: Deus e as criaturas. Lá

Mestre Eckhart – Prega a palavra 5

Eu estava ontem sentado num lugar e disse uma frase que se encontra no Pai Nosso. Ela diz: «Que a tua vontade seja feita!» mas seria melhor: «Que a vontade seja tua!», que a minha vontade se torne na sua vontade afim de que eu me torne nele: tal é o significado do Pai Nosso. Esta frase tem dois sentidos. Um é: «Dorme para todas as coisas!» quer dizer: não saibas nada do tempo, nem das criaturas, nem das imagens. Os mestres dizem: uma pessoa que dormisse profundamente, se dormisse cem anos, não saberia nada de nenhuma criatura, não saberia nada do tempo nem das imagens, e então tu podes aperceber-te do que Deus opera em ti. É por isso que a alma diz no Livro do Amor: «Eu durmo mas o meu coração vigia.» É por isso que se todas as criaturas dormirem em ti, tu podes aperceber-te daquilo que Deus opera em ti. 1 Notas Na segunda parte do sermão, o pregador explica a frase do Pai Nosso: « Fiat voluntas tua! » Ele atribui-lhe dois sentidos: «Dorme para todas as coisas!»

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A frase: «Faz esforço em todas as coisas!» tem três significados. Ela quer dizer: «Suscita a tua vantagem em todas as coisas!» Quer dizer: «Agarra Deus em todas as coisas!», porque Deus está em todas as coisas. S. Agostinho diz: «Deus criou todas as coisas, não que ele as tenha feito ser, e depois tenha continuado o seu caminho, mas que ele ficou com elas.» As gentes imaginam, quando elas têm as coisas ao mesmo tempo que Deus, que elas têm mais do que se elas tivessem Deus sem as coisas, mas é falso, porque todas as coisas ao mesmo tempo que Deus, não é mais que Deus só, e se alguém que tem o Filho, e o Pai ao mesmo tempo que ele, imaginasse que tinha mais do que se tivesse o Filho sem o Pai, seria falso. Porque o Pai com o Filho não é mais do que o Filho só, assim como o Filho com o Pai não é mais do que o Pai só. É por isso que, agarra Deus em todas as coisas, e é um sinal de que ele te criou como seu Filho único, e não menor. 1 Notas «Faz esforço em todas as co

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Eis o outro significado: «Suscita a tua vantagem em todas as coisas!» Quer dizer: «Ama Deus acima de todas as coisas e o teu próximo como a ti mesmo.» E é um mandamento de Deus. Ora eu digo que não é apenas um mandamento, é também um dom que Deus fez e que prometeu fazer. E se tu preferes que cem marcos sejam teus em vez de serem doutro, é um erro. Se tu preferes uma pessoa a outra, é um erro, e se tu preferes o teu pai e a tua mãe e a ti próprio mais do que outro humano, é um erro, e se tu preferes a beatitude em ti mais do que num outro, é um erro. 1 «Deus nos abençoe! Que estás a dizer? Não devo preferir a beatitude em mim mais do que num outro?» Muitas gentes doutas não o compreendem e acham que é muito difícil, mas não é difícil, é muito fácil. Eu quero mostrar-te que não é difícil. Vê, a natureza tem duas intenções com respeito a cada membro que opera no ser humano. A primeira intenção que ela tem em vista nas suas operações, é de servir o corpo todo inteiro

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Eis o terceiro significado: «Suscita a tua vantagem em todas as coisas!» Ama Deus igualmente em todas as coisas, quer dizer: ama Deus tão voluntariamente na pobreza como na riqueza, ama-o tanto na doença como na saúde, ama-o tanto na tentação como sem tentação, ama-o tanto no sofrimento como sem sofrimento. E mesmo quanto maior for o sofrimento, mais o sofrimento é leve; como dois baldes: quanto mais um é pesado, mais o outro é leve; e quanto mais a pessoa abandona, mais lhe é fácil abandonar. Para uma pessoa que ama Deus, seria tão fácil abandonar este universo inteiro quanto um ovo. Quanto mais ele abandona, mais fácil lhe é abandonar; assim como para os apóstolos: quanto mais os seus sofrimentos eram penosos, mais eles os suportavam facilmente. 1 Notas Eis o terceiro significado de «Suscita a tua vantagem em todas as coisas!» Quer dizer: «Ama Deus igualmente em todas as coisas!» Aceita com uma perfeita igualdade de alma aquilo que te acontecer: doença ou saúde,

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«Faz esforço em todas as coisas!» Quer dizer: onde quer que te encontres estabelecido em coisas múltiplas, que não seja no Ser na sua nudez, puro e simples, faz esforço, quer dizer: «Faz esforço em todas as coisas, realiza o teu serviço.» Isto quer dizer: «Levanta a cabeça!» e tem dois significados. O primeiro é: Desprende-te de tudo o que é teu e remete-te a Deus, assim Deus torna-se no teu bem próprio como ele é o seu bem próprio e ele é Deus para ti como ele é Deus para ele próprio, e não menos. O que é meu, eu não o tenho de ninguém, mas se eu o tenho de um outro, não é meu, é dele de quem eu o tenho. 1 O segundo sentido de «Levanta a cabeça!», hei-lo: dirige todas as tuas obras para Deus. Muitas gentes não compreendem isto. Eu não fico surpreendido, porque a pessoa que o pode compreender tem de ser muito desprendida e elevada acima de todas as coisas. 2 Que Deus nos ajude para que nós cheguemos a essa perfeição. Amém. 3 Notas Par terminar o desenvolviment

Livro da Vida Perfeita - A natureza e a graça

« É preciso , diz-se igualmente, rejeitar e afastar ao mesmo tempo a vida de Cristo e todos os mandamentos, as leis, as instruções e as regras, etc. » Isso é falso e mentiroso. « Mas , poder-se-á dizer, visto que nem Cristo nem os outros não podem atingir nem obter nada de útil ao seguirem a vida de Cristo quer pelas instruções, regras, etc., visto que já possuem tudo o que há para atingir nelas, o que os pode impedir de se livrarem delas? Devem eles apesar disso continuar a preocupar-se com elas e a observá-las? » É preciso estar aqui bem atento. Existem dois tipos de luz: uma luz que é verdadeira e uma outra que é falsa. A verdadeira luz é a luz eterna - Deus - ou então uma luz criada e portanto divina - a que se chama a «graça». Tudo isto é a luz verdadeira. Quanto à falsa luz, é a luz natural - a natureza. « Porque é que uma é verdadeira e a outra falsa? » Sente-se mais do que se pode escrever ou dizer... Deus, enquanto Divindade, não tem nada de próprio: nem vont

Mestre Eckhart – Mulher, vem a hora

Mulher, vem a hora, e já chegou Existe na alma uma parte superior acima do tempo Os verdadeiros adoradores adoram o Pai em espírito e verdade Quantos adoram um sapato ou uma vaca ou outra criatura Quem procura Deus para sua própria vantagem, não procura Deus Quem for tocado pela verdade, justiça e bondade não pode desviar-se delas O bem tem três ramos: o útil, o deleitável e o honesto A alma tem dois rostos: o superior contempla Deus, o inferior olha para baixo Duas potências fluem da parte superior da alma: a vontade e o intelecto Para conhecer o Pai, é preciso ser o Filho Deus pode tão pouco passar sem nós, como nós sem ele Início » Espiritualidade » Mestre Eckhart » Mulher, vem a hora

Mestre Eckhart – Mulher, vem a hora 1

Sermão 26 - Mulher, vem a hora « Mulher, vem a hora, e já chegou, em que os verdadeiros adoradores hão de adorar o Pai em espírito e verdade » (Jo 4, 23). Está escrito no evangelho de S. João. A esse longo discurso eu retiro uma pequena frase. Nosso Senhor disse: « Mulher, vem a hora, e já chegou, em que os verdadeiros adoradores hão de adorar o Pai em espírito e verdade, e são esses adoradores que o Pai deseja. » 1 Notas O texto é o da sexta-feira depois do terceiro domingo da quaresma. Pelo seu conteúdo, este sermão 26 está em relação estreita com os sermões 25 e 27. É provável também que todos os três sejam próximos uns dos outros no tempo. [  ↑  ] [ ◊ ] [ Índice ] [ Seguinte ] Início » Espiritualidade » Mestre Eckhart » Mulher, vem a hora 1

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Ora observem a primeira pequena frase que ele pronuncia: « Vem a hora, e já chegou ». Quem quer adorar o Pai deve transportar-se para a eternidade com o seu desejo e a sua confiança. Existe na alma uma parte superior elevada acima do tempo, que não sabe nada do tempo nem do corpo. Tudo o que se passou há mil anos, o dia que existiu há mil anos não está mais afastado na eternidade do que esta hora onde eu estou agora; o dia que virá daqui a mil anos, ou tão distante quanto tu consigas contar, não está mais afastado na eternidade do que esta hora onde eu estou agora. 1 Notas Da longa narrativa do encontro de Jesus com a Samaritana, Eckhart só retira um frase: « Vem a hora, e já chegou, em que os verdadeiros adoradores hão de adorar o Pai em espírito e verdade, e são esses adoradores que o Pai deseja. » Imediatamente depois de ter destacado estas palavras, Eckhart dá a sua interpretação: «Quem quer adorar o Pai deve transportar-se para a eternidade com o seu desejo e a s

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Ora ele diz que « os verdadeiros adoradores hão de adorar o Pai em espírito e verdade » O que é a verdade? A verdade é tão nobre que se Deus pudesse afastar-se da verdade, eu apegar-me-ia à verdade e deixaria Deus, porque Deus é a verdade e tudo o que existe no tempo, ou tudo o que Deus alguma vez criou, não é a verdade. 1 Notas Por uma das suas suposições no impossível, o pregador declara: «A verdade é tão nobre que se Deus pudesse afastar-se da verdade, eu apegar-me-ia à verdade e deixaria Deus, porque Deus é a verdade.» Este último membro da frase não parece estar unido logicamente àquele que o precede. É preciso portanto reconstruir a frase mentalmente desta forma: porque se Deus, que é a verdade, se afastasse dela, não seria mais Deus. [  ↑  ] [ Anterior ] [ Índice ] [ Seguinte ] Início » Espiritualidade » Mestre Eckhart » Mulher, vem a hora 3

Mestre Eckhart – Mulher, vem a hora 4

Ora ele diz: « eles adoram o Pai ». Ah! quantos são aqueles que adoram um sapato ou uma vaca ou outra criatura e têm grande preocupação com ela; são gentes verdadeiramente insensatas. Desde que tu adoras Deus tendo em vista a criatura, tu pedes para o teu próprio prejuízo, porque a criatura sendo criatura, ela traz em si amargura e prejuízo, mal e desagrado. E aí está porque é bem feito para essas gentes quando elas sentem desagrado e amargura. Porquê? Porque elas pediram por isso. 1 Notas Tudo o que Deus criou não é a verdade. Tema já muitas vezes encontrado: aquele que, pedindo, só tem em vista a criatura, só obtém amargura, porque é tudo o que ela pode dar. Pelo contrário, se tu só procuras Deus, encontrarás tudo ao mesmo tempo que encontrares Deus. [  ↑  ] [ Anterior ] [ Índice ] [ Seguinte ] Início » Espiritualidade » Mestre Eckhart » Mulher, vem a hora 4

Mestre Eckhart – Mulher, vem a hora 5

Eu disse às vezes: quem procura Deus e procura qualquer outra coisa ao mesmo tempo que Deus não encontra Deus, mas quem só procura Deus, na verdade, encontra Deus e nunca encontra Deus sozinho, porque tudo o que Deus pode oferecer, ele encontra-o ao mesmo tempo que encontra Deus. Se tu procuras Deus, e procuras Deus com vista à tua própria vantagem ou à tua própria beatitude, na verdade, tu não procuras Deus. É por isso que ele diz que os verdadeiros adoradores adoram o Pai e ele di-lo muito acertadamente. Poder-se-ia dizer a uma pessoa boa: «Porque procuras Deus?» -«Porque é Deus!» «Porque procuras a verdade?» -«Porque é a verdade!» «Porque procuras a justiça?» -«Porque é a justiça!» Tais pessoas são tais como devem de ser. Todas as coisas que estão no tempo têm um "porquê". Se perguntassem a alguém: «Porque comes?» -«Para ter força!» «Porque dormes?» -«Pela mesma razão!» É assim com todas as coisas que estão no tempo. Mas uma pessoa boa a quem se perguntas

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Um mestre diz: Aquele que é tocado uma vez pela verdade, pela justiça e pela bondade não poderia nunca desviar-se delas um instante, mesmo se incorresse em todas as penas do inferno. Ele diz ainda: Quando uma pessoa é tocada por essas três - pela verdade, pela justiça e pela bondade - é também impossível a essa pessoa afastar-se dessas três tal como é impossível a Deus afastar-se da sua Divindade. 1 Notas É preciso portanto viver «sem porquê». Esta é, por parte de Mestre Eckhart, uma exigência singular não somente moral, mas intelectual. Ele executa com o mesmo golpe a ciência, a filosofia, a teologia, toda a metafísica e se ele fosse até às últimas consequências deste «sem porquê», aniquilaria a sua própria investigação doutrinal. [  ↑  ] [ Anterior ] [ Índice ] [ Seguinte ] Início » Espiritualidade » Mestre Eckhart » Mulher, vem a hora 6

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Um mestre diz que o bem tem três ramos. O primeiro ramo é o útil, o segundo ramo é o deleitável, o terceiro ramo é o honesto. É por isso que [Nosso Senhor] diz: «eles adoram o Pai». Porque é que ele diz «o Pai»? Se tu procuras o Pai, quer dizer só Deus, tu encontrarás, ao mesmo tempo que Deus, tudo aquilo que ele pode oferecer. É uma verdade certa, e uma verdade necessária, e uma verdade consignada, e se ela não estivesse escrita, seria contudo verdadeira. Se Deus tivesse ainda mais, ele não poderia esconder-to, ele deveria revelar-to e ele dá-to. Eu disse por vezes: ele dá-to, e ele dá-to segundo o modo de um nascimento. 1 Notas Os três ramos ou subdivisões do bem vieram de Aristóteles a Mestre Eckhart por intermédio de Alberto o Grande ou mais provavelmente de S. Tomás. Todos esses bens para os quais tende o ser humano encontram-se em Deus. Eis porque o evangelista João diz: «Eles adoram o Pai.» Àquele que só o procura a ele, Deus dá tudo o que tem e se

Mestre Eckhart – Mulher, vem a hora 8

Os mestres dizem que a alma tem dois rostos: o rosto superior contempla Deus todo o tempo, e o rosto inferior olha ligeiramente para baixo e dirige os sentidos. O rosto superior, que é a parte superior da alma, situa-se na eternidade, não tem nada a ver com o tempo e não sabe nada do tempo nem do corpo. Eu disse por vezes que nele qualquer coisa está escondida, como uma origem de todo o bem, e como uma luz brilhante que irradia todo o tempo, e como um abrasamento ardente que queima incessantemente, e este abrasamento não é nada mais que o Espírito Santo. 1 Notas Neste parágrafo, onde parece aos comentadores que o mestre interpretou uma passagem de S. Agostinho sobre a Trindade, Eckhart fala dos dois rostos da alma. Pela sua parte inferior, esta tem ainda um contato com os sentidos, com o tempo. Pelo contrário, a vernunfticheit ( ratio superior ), estrangeira ao corpo, é transformada pelo Espírito Santo em luz brilhante, em abrasamento ardente. [  ↑  ] [ Ante

Mestre Eckhart – Mulher, vem a hora 9

Os mestres dizem que duas potências fluem da parte superior da alma. Uma chama-se vontade, a outra intelecto, e a perfeição destas potências situa-se na potência superior que se chama intelecto. Ela não pode nunca encontrar descanso. Ela não quer Deus segundo ele é o Espírito Santo, segundo ele é o Filho, ela foge do Filho. Ela também não quer Deus segundo ele é Deus. Porquê ? Porque lá ele tem um nome. E se existissem mil deuses, ela faria incessantemente o seu irromper, ela quere-o lá onde ele não tem nome. Ela quer qualquer coisa de mais nobre, qualquer coisa de melhor que Deus segundo ele tem um nome. Que quer ela então ? Ela não sabe; ela quere-o segundo ele é Pai. É por isso que S. Filipe diz: «Senhor, mostra-nos o Pai e isso chega-nos.» Ela quere-o segundo ele é uma medula de onde brota a bondade; ela quere-o segundo ele é um núcleo de onde flui a bondade: ela quere-o segundo ele é uma raiz, uma veia na qual brota a bondade, e lá somente ele é Pai. 1

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Ora Nosso Senhor diz: «Ninguém conhece o Pai sem ser o Filho, nem o Filho sem ser o Pai.» Na verdade, se nós devemos conhecer o Pai, é preciso que nós sejamos o Filho. Eu disse há alguns dias três pequenas frases; tomem-nas como três fortes nozes-moscadas e bebem em seguida. Primeiramente: Se nós queremos ser filhos, nós devemos ter um pai, porque ninguém pode dizer que é filho a menos que tenha um pai, e ninguém é pai se não tem um filho. Se o pai morrer, diz-se: «Ele era o meu pai.» Se o filho morrer, diz-se: «Ele era o meu filho.» Porque a vida do filho está dentro da vida do pai e a vida do pai está dentro do filho, e é por isso que ninguém pode dizer: «Sou filho» a menos que tenha um pai. Ora é verdadeiramente Filho a pessoa que realiza todas as suas obras por amor. Em segundo lugar, tudo o que tinha feito da pessoa um Filho, é a igualdade de alma. Se ele está doente, que ame tanto estar doente como estar saudável, estar saudável como estar doente. Se o seu a

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É por isso que ele diz: «Eis aqueles que o Pai procura.» Vejam, é assim que Deus nos escolhe, é assim que ele nos suplica, e Deus não pode esperar que a alma se afaste e se despoje da criatura. E é uma verdade certa e uma verdade necessária que Deus tem um tal desejo de nos procurar, como se verdadeiramente toda a sua Divindade dependesse disso, assim como é realmente. 1 E Deus pode tão pouco passar sem nós como nós sem ele, porque mesmo se nós pudéssemos afastar-nos de Deus, Deus nunca poderia desviar-se de nós. Eu digo que não quero pedir a Deus para que ele me dê, também não quero louvá-lo por aquilo que ele me deu, mas eu quero pedir-lhe que ele me torne digno de receber e eu quero louvá-lo porque o seu ser e a sua essência o obrigam a dar. Aquele que quisesse privar Deus disso, privá-lo-ia do seu ser próprio e da sua própria vida. 2 Que a verdade, de que eu falei, nos ajude a tornarmo-nos assim verdadeiramente Filho. Amém. 3 Notas No último parágrafo: «Eis aq

Imitação de Cristo - 3.7. Que é preciso esconder humildemente as graças que Deus nos faz

Cristo: Meu filho, quando a graça te inspirar movimentos de piedade, é melhor para ti e mais seguro manteres essa graça escondida, não te elevares, falares pouco dela e não exagerares a sua grandeza; mas antes desprezares-te a ti próprio e temeres um favor do qual és indigno. Não te deves apegar muito a um sentimento que em breve se pode mudar num sentimento contrário. Quando a graça te é dada, reflete quanto és pobre e miserável sem a graça. O progresso da vida espiritual não consiste apenas em desfrutar da consolação da graça, mas antes em suportar a privação com humildade, com abnegação, com paciência, por forma a que então não te relaxes no exercício da oração, que não abandones nenhuma das tuas práticas habituais. Faz, pelo contrário, tudo o que estiver em ti de melhor que puderes, segundo as tuas luzes, e não te negligencies completamente a ti próprio por causa da secura e da angústia que sentes na tua alma. Porque há muitos que, no tempo da prova, caem rapidamente na i

Mestre Eckhart – Ave, cheia de graça

Eu te saúdo, cheia de graça, o Senhor está contigo! É necessário aqui compreender três coisas Deus prefere nascer espiritualmente de cada alma boa Nós somos um Filho único que o Pai gerou eternamente O maior bem que Deus fez ao ser humano foi ter-se incarnado A operação de todas as criaturas é a de querer dar à luz A centelha é um "um" único, sem diferença A Escritura tem tal plenitude que ninguém consegue penetrar Eu fui eternamente filho de Deus? Sim e não Todas as coisas são idênticas dentro da Pureza primeira Como pode o ser humano chegar a constranger Deus? Deus criou a alma para que ela seja a noiva do seu Filho único O fim supremo é a treva escondida da eterna Divindade Início » Espiritualidade » Mestre Eckhart » Ave, cheia de graça

Mestre Eckhart – Ave, cheia de graça 1

Sermão 22 - Ave, cheia de graça Esta frase que eu disse em latim está escrita no santo Evangelho e significa: «Eu te saúdo, cheia de graça, o Senhor está contigo!» 1 O Espírito Santo descerá do alto, do trono mais elevado e virá em ti desde a luz do Pai eterno. 2 Notas Os sermões 10, 11, 12, 13, 14, 15, e este sermão 22 estão próximos pelo seu teor e pela data na qual foram pronunciados. Os reenvios e as alusões que eles contêm parecem indicar que este sermão 22 foi pronunciado antes do 13 e 14 e depois do 12, no mosteiro cisterciense Mariengarten , em Colónia. No decurso deste sermão, Mestre Eckhart refere-se àquele outro que ele pregou aos beneditinos do mosteiro dos Santos Macabeus «se não foi em vão que vocês lá estiveram», quer dizer se vocês ouviram e retiveram bem aquilo que eu disse então. Toda esta série de sermões teria portanto sido pronunciada em Colónia, e conclui - prudentemente - Josef Quint, os «grandes clérigos» aos quais este sermão faz alusão, ser

Mestre Eckhart – Ave, cheia de graça 2

É necessário aqui compreender três coisas. Em primeiro lugar: a inferioridade da natureza do anjo. Em segundo lugar: ele reconhecia-se indigno de nomear a Mãe de Deus. Em terceiro lugar: ele dirigia-se não somente a ela, mas a uma multidão muito grande: a cada alma boa que deseja Deus. 1 Notas Das três considerações que inspira ao pregador a saudação do anjo, o essencial é este: ao mesmo tempo que a Maria, o anjo dirige-se a cada alma boa que deseja Deus. [  ↑  ] [ Anterior ] [ Índice ] [ Seguinte ] Início » Espiritualidade » Mestre Eckhart » Ave, cheia de graça 2

Mestre Eckhart – Ave, cheia de graça 3

Eu digo: se Maria não tivesse primeiro concebido espiritualmente Deus, ele nunca teria nascido dela corporalmente. Uma mulher disse a Nosso Senhor: «Feliz o corpo que te deu à luz.» Nosso Senhor disse: Não apenas é feliz o corpo que me deu à luz; «muito mais felizes são os que ouvem a Palavra de Deus e lhe obedecem.» Deus prefere nascer espiritualmente de cada virgem, de cada alma boa, que nascer corporalmente de Maria. 1 Notas Referindo-se a Lc 11, 27-28 (Feliz o corpo que te deu à luz - Muito mais felizes são os que ouvem a Palavra de Deus e lhe obedecem), Eckhart deduz: foi portanto porque Maria concebeu primeiro espiritualmente Deus que ele lhe permitiu de conceber segundo a carne. E, como é o seu costume, Eckhart puxa ao extremo, e até ao paradoxo, a lógica do seu pensamento: Deus prefere nascer espiritualmente de cada alma boa do que nascer corporalmente de Maria. [  ↑  ] [ Anterior ] [ Índice ] [ Seguinte ] Início » Espiritualidade » Mestre

Mestre Eckhart – Ave, cheia de graça 4

É preciso compreender nisso que nós somos um Filho único que o Pai gerou eternamente. Quando o Pai gerou todas as criaturas, ele gerou-me, eu saí dele junto com todas as criaturas mas no entanto eu fiquei interiormente dentro do Pai. Da mesma forma que a palavra que eu pronuncio agora brota de mim, em seguida eu reflito na minha ideia, em terceiro lugar eu exprimo-me e vocês todos recebem-na; contudo ela permanece verdadeiramente dentro de mim. Da mesma forma eu permaneci dentro do Pai. Dentro do Pai estão as imagens de todas as criaturas. Esta madeira tem uma imagem intelectual dentro de Deus. Ela não é apenas intelectual, ela é intelecto puro. 1 Notas Nós somos portanto um Filho único que o Pai gerou eternamente, pensamento frequente no mestre e que se exprime aqui com um vigor particular. O «eu» empregue dá ainda mais intensidade ao discurso: «Eu saí dele junto com todas criaturas mas no entanto eu fiquei interiormente dentro do Pai.» A comparação com a pal

Mestre Eckhart – Ave, cheia de graça 5

O maior bem que Deus alguma vez concedeu ao ser humano, foi ter-se feito homem. Eu vou-vos contar uma história que convém bem aqui. Havia um homem rico e uma mulher rica. A mulher teve um acidente, ela perdeu um olho. Ela ficou muito aflita. O homem veio ter com ela e disse: «Senhora, porque estás tão aflita? Não deves estar aflita porque perdeste o teu olho.» Ela disse: «Senhor, eu não estou aflita por ter perdido o meu olho; eu estou aflita porque me parece que tu me amas menos.» Ele disse então: «Senhora, eu amo-te.» Pouco depois ele arrancou a ele próprio um olho, veio ter com a mulher e disse: «Senhora, afim de que tu acredites que eu te amo, tornei-me semelhante a ti; eu também, já só tenho um olho.» Da mesma forma o ser humano: com dificuldade acreditava que Deus o amava tanto até que finalmente Deus «arrancou a ele próprio um olho» e assumiu a natureza humana. Quer dizer que ele se «fez carne». Nossa Senhora disse: «Como é que isso vai ser feito?» O anjo

Mestre Eckhart – Ave, cheia de graça 6

« In principio. » «Nasceu-nos um menino, foi-nos dado um filho», um menino segundo a pequenez da natureza humana, um Filho segundo a eterna Divindade. Os mestres dizem: a operação de todas as criaturas é a de querer dar à luz, elas querem ser semelhantes ao pai. Um outro mestre diz: todas as coisas operantes operam com vista ao seu fim, para encontrarem a sua paz e o seu repouso no seu fim. Um mestre diz: todas as criaturas operam segundo a sua pureza primeira e a sua perfeição mais elevada. O fogo enquanto fogo não inflama; ele é tão puro e tão subtil que não inflama; em breve: a natureza do fogo inflama e transfunde na madeira seca a sua natureza e a sua claridade segundo a sua perfeição mais elevada. Deus fez o mesmo. Criou a alma conforme à sua perfeição mais elevada e verteu nela toda a sua claridade na sua primeira pureza, mas ele permaneceu no entanto sem mistura. 1 Notas O pregador invoca agora a autoridade dos «mestres» (S. Tomás, e alguns outros?) para pro